sexta-feira, 1 de junho de 2007

Letra "O"

OASIS
[
Do I wanna be a rock'n'roll star? Deus me livrei Eu vou cantar aquilo
para quê? Só para fazer aeróbica, não é? Eles são maravilhosos, eu adoro
Oasis, mas, sabe, eu não vou ficar cantando que eu quero
Cigarrettes &
alcohol...
Eu acho bonitinho, mas eu passei pelos Beatles. (1996)
OCIDENTE X ORIENTE
[ Acho que o grande mal da civilização ocidental é não ter contato com
a oriental. Todo esse pessoal proclama verdade, verdade, verdade, e não
chega a solução nenhuma. Daí vem o Lao-Tsé e fala: "Certo, não há
resposta para nada porque há resposta para tudo"... É tão difícil... As
coisas mais básicas são as seguintes: quem acredita sempre alcança,
respeito ao próximo, não faça aos outros aquilo que você não quer que
te façam. E meio por aí. No fundo, é o que o I Ching fala, é o que Buda
fala, Cristo e Krishna também. Todo mundo falou, mas ninguém ouviu.
Se você tem a intenção de ter um coração puro e tenta seguir o negócio
do trabalho e da amizade — ter um trabalho digno e tentar cultivar os
amigos —, você não tem o que temer. "Quem não deve não teme". Eu
acredito nisso, mesmo. Mas é uma dificuldade. (1986)
[ Eu li, em algum lugar, que a maior contribuição do século 20 não vai
ser nada disso que todo mundo fala — a maior contribuição vai ser a
união do modo do Ocidente com o pensamento do Oriente. E eu acho
que é para isso que a gente está caminhando. Acho isso uma coisa muito
importante. (1989)
185
[ Você não pode ser omisso. Não está na hora de ser omisso. O problema
não são os fascistas, são as pessoas que não se manifestam. Para citar o
exemplo mais conhecido: Hitler subiu ao poder não por causa das pessoas
que o apoiavam, mas por causa das pessoas que não o levaram a sério,
não se deram conta, e ficaram omissas. (1988)
ÓPERAS
[
Parsifal e A flauta mágica. Esta última vai fazer parte da abertura do
nosso show. (1994)
OPINIÃO
[ Nós temos a aura de sermos porta-vozes da juventude? A gente não
se acha os donos da verdade. Sou jovem de 20 e poucos anos, não sei
nada da vida. E as pessoas bebem minhas palavras como água. E escrevo,
justamente, porque não sei. Não quero que minha opinião sobre temas
controvertidos — drogas, por exemplo — influencie outra pessoa. Não
fico o tempo todo na TV porque não tenho nada a dizer. Não fico na
frente do espelho fazendo pose de mau. (1987)
[ Por que a minha opinião interessaria a alguém? Não sou formado em
rock'n'roll. Acho um grande erro quando pegam pessoas como eu ou a
Cláudia Raia para falarmos sobre assuntos sobre os quais não temos a
menor noção. (1994)
[ É preferível não tocar do que apresentar um trabalho que não é legal.
Quando a gente sente que não tem o que falar, a gente não faz imprensa;
quando a gente sente que não tem o que dizer, a gente não lança disco.
Pelo trabalho que a gente tem, a gente prefere que o público tenha
contato direto com o disco, e com as músicas, para saber o que a gente
está pensando. (1994)
ORGULHO
[ A Legião fez três discos, está tocando há um tempo, e ninguém nunca
186
ganhar um duplo de platina em plena crise! Eu fico orgulhoso quando o presidente da
UNE
[União Nacional dos Estudantes] diz que o verdadeiro presidente da UNE é o
Renato Russo. Acho isso muito bacana. (1989)
[ Tenho orgulho de ser brasileiro. (1994)
ORIENTAÇÃO SEXUAL
[ Reafirmo minha orientação sexual para ser um exemplo e, se possível,
evitar que as pessoas passem pelo que eu passei: achar que era doente,
que era estranho, que ia morrer e seguir direto para o inferno. Isso, por
alto. Mas, em geral, para poder ter a liberdade de ser como sou. Mas
não é um problema só de orientação sexual. É de todas as minorias.
(1994)
[ Saí agora de um relacionamento de dois anos, que mexeu
profundamente comigo. Acho que vou ficar uns dez anos escrevendo
músicas de amor, do tipo "meu amor partiu". Por isso, resolvi fazer o
que sei: cantar e lançar um disco
[The Stonewall Celebration Concert].
É a maneira que eu tenho para lutar contra o fascismo, que está voltando.
Minha participação é ser um exemplo. Quanto mais gente perceber
que as pessoas podem ter uma orientação sexual diferente da norma —
e por serem diferentes da norma não são anormais ou doentias — e que
podem ter uma vida digna, estou satisfeito. (1994)
OSCAR
[ Eu ainda vou ganhar dois Oscar: direção e roteiro. Mas eu ainda não
decidi se melhor filme estrangeiro também.
"And the winer is... Oh, my God, Renato
Russo
!.". Aí, eu subo pelo lado errado, sabe? Aquela coisa assim. E, no ano seguinte, eu
sou convidado para ser presidente do júri. Bobagem! Isso tudo são sonhos. (1995)
187
[ A gente é o tipo de banda que reclama se tiver um out-door da Coca- Cola no show. A
turnê de As
Quatro Estações foi patrocinada pela Lacta, porque a gente achou que
chocolate era tudo bem. Mas, mesmo assim, tinha um monte de regrinhas. Isso dificulta
as coisas para a gente, mas, se fosse de outra forma, talvez perdêssemos essa coisa
especial que a banda tem. Eu estou lá, falando de ética, sofrendo: é o cantor trágicoromântico
suicida e dependente químico. O público não vai respeitar. (1995)
OVELHA NEGRA
[ Sempre fui rebelde. Mas nossa geração é totalmente careta. Tanto é que o pessoal das
bandas de rock de hoje é justamente a exceção. Agora, é ao contrário: todo mundo gosta
de rock. Na época da adolescência, éramos os loucos, não tinha aquele espírito dos anos 60.
Fomos as ovelhas negras, mesmo. Agora a coisa está mais aberta. Sei que esse pessoal de
14, 15 anos cheira loló, mas isso está se diluindo, porque todo mundo percebe que não
leva a lugar nenhum, a partir do momento em que não está trazendo nem prazer. (1988)
OVERDOSE
[ O que eu fazia, na época, era tomar um porre. Na verdade, tudo acontecia porque
eu me identificava com todos esses párias — Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin,
Jim Morrison —, os loucos em geral. Hoje em dia, eu sei que isso não é legal! Parece que
é a coisa mais linda do mundo você morrer de uma overdose de heroína, mas não é. Não
é, mesmo! (1989)
[ Tenho 31 anos, já passei da fase de morrer de overdose. Todos eles morreram com
27. Eu, agora, tenho mais é que virar Rod Stewart. (1992)
[ Morrer de overdose depois dos 27 anos não é de bom tom. Ficar que nem o Syd
Barret? Eu sou muito mais o Iggy Pop — o cara com 50 anos e arrebentando, falando
tudo que queria falar. (1995)
188

Letra "N"

N
NAMOROS
[ Eu tenho a sorte de ter bons amigos e muitos namorados. Às vezes,
quatro, separados ou no mesmo lugar, mas
very safe [muito seguro].
(1993)
[ Nunca tive namoro, na verdade. A não ser a Luiza, quando eu
tinha 11 para 12 anos, na Ilha do Governador. Mas não era uma
coisa de namoro exatamente — era de troca. Porque eu era gay. Eu
sou gay, entendeu? (1995)
NIETZSCHE
[ O super-homem é o homem espiritual, aquele que tira o sentido e
o valor de si, de seus atos. Como Nietzsche disse que o homem
estaria para o super-homem assim como o macaco está para o homem,
eu vejo a mesma coisa em Jesus Cristo, por exemplo. Na verdade,
Nietzsche é um homem à procura de um deus. Um deus que não é o
Deus cristão. (1988)
NIRVANA
[ O Nirvana está naquela linhagem indispensável da história do rock,
como Elvis, os Beatles e o Sex Pistols. (1996)
NOVA YORK
181
[ Eu tinha morado em Nova York há muito tempo, quando era
pequeno. E nunca mais tinha saído do Brasil. Eu ficava meio temeroso
de ir com pouco dinheiro. Eu não vou para Nova York viver
After
hours [
Depois de horas, filme de Martin Scorsese]! Mas recebemos
um bom adiantamento da gravadora pelo disco
As Quatro Estações
e achei que era a hora certa. Principalmente, porque não estava
agüentando aqui no Brasil. Estava muito, muito, muito pesado para
mim. Então, eu fui para morar lá como eu moro aqui. Não fui para
ver
Cats na Broadway! Aluguei um apartamento pequeno, fui
montando uma biblioteca, comprei um aparelho de som por 300
dólares, comprei todos os meus discos favoritos e ficava lá, assistindo
à Ty saindo, indo ao cinema. Mas, basicamente, o que fui fazer lá —
e em São Francisco — foi entrar em contato com Christopher Street
e com o Castro
[uma rua e um clube, respectivamente em NY e SF,
pontos de encontro gay].
Era uma coisa que eu estava precisando
fazer há muito tempo. Eu estava precisando me assumir há muito
tempo... É o que se chama
coming out... Quer dizer, eu já estava out
of the closet
há muito tempo. Qualquer pessoa que ouvir Soldados e
tiver um pouquinho de sensibilidade... (1990)
[ A primeira coisa que eu fui ver em Nova York foi Christopher
Street. Só que está difícil. Os caras já não andam mais de mãos dadas
na rua. Em São Francisco, estavam mais soltos. Mas continua sendo
uma comunidade... Nos Estados Unidos, têm os guetos,
perigosíssimos, como os judeus na Polônia: "Estamos seguros, não
é?". Não estão, não. Se você se fecha... É o problema do Harlem:
branco não entra, mesmo. Há clubes gay pesadíssimos, com aquele
som, os caras de couro preto dos pés à cabeça, vestidos de nazistas.
Eu, morrendo de medo, e um amigo meu, dizendo: "Não se preocupe,
são todos legais. Quanto mais cara de mau o sujeito tem, mais
manteiga derretida ele
é". E eu ia acreditar nisso? Ha, ha, há... Aí,
outro dia, estava passando um filme com a Bete Davis — nunca vou
me esquecer —, e os caras chorando, cora aquelas roupas e tudo. É
uma carapuça que eles colocam, a hipermasculinidade. Que surpresa!
182
entrar e sair desses lugares, corre perigo de vida. (1990)
NOVIDADE
[ Infelizmente, aqui no Brasil, o público gosta muito de novidade.
Se você não tiver novidade, você cai para escanteio. O que pintou
no Brasil, numa época, foram artistas talentosos que tinham alguma
coisa nova para dizer, de uma maneira supercriativa e superbela. Não
conseguiram, justamente, segurar isso, ficaram na mesma linha, e
acabaram sendo jogados de lado. E, aí, acontece o quê? Acontece o
rock novidade, e pegou espaço. Agora não pensem que a gente não
está preocupado. Eu converso com o Herbert
[Viana, dos Paralamas
do Sucesso]
e a gente está se cagando nas calças, porque a gente não
sabe o que vai acontecer. Eu estou sentindo uma pressão muito grande
por parte de todo mundo, principalmente em cima da Legião Urbana,
porque está todo mundo esperando justamente que a gente faça uma
coisa nova. Mas será que cinco, seis, sete anos depois, eles vão
assimilar uma coisa que vai refletir o meu momento atual, ou o
momento atual do Herbert no próximo disco dele? (1985)
NUANCES DO CANTO
[ O rock'n'roll pede sempre guitarra distorcida, tem sempre um
certo ritmo, é uma outra forma de cantar. E o Bonfá toca muito alto,
eu estou lá com o microfone, eu estou lá, berrando, que nem a Janis
Joplin. Ao passo que, se eu uso um quarteto de cordas, ou um
acompanhamento musical mais suave, fica mais fácil de perceber
nuances da voz, a gente pode brincar um pouco mais com a
interpretação. Uma canção romântica, naturalmente, também vai
exigir um outro estilo de interpretar. Eu não estou lá, assim, falando
e gritando, não é uma coisa tão dinâmica. Quer dizer, é dinâmica,
mas, por ser romântica, você pode modular muito mais a voz. E
existe toda a tradição dos cantores românticos. Eu remeto, talvez, a
um Chico Alves, a um Orlando Silva, que têm aquela coisa bonita
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que, neste disco
[Equilibrio Distante], eu esteja cantando melhor ou não.
Sinceramente, não. Eu acho que o repertório é que possibilita à pessoa perceber muito
mais. Eu gosto muito do trabalho com a Legião, mas mesmo uma música romântica
da Legião é mais rascante, é mais gritada. (1995)
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Letra "J"

JABA
[ Jabá nenhum vai fazer com que as pessoas decorem as nossas letras e
cantem conosco. (1991)
JERRY ADRIANI
[ No começo, os críticos ficaram pichando, para que a gente falasse
mal do Jerry e ele, da gente. Que nada! Ele veio falar conosco, uma vez,
num programa lá em São Paulo. Ele veio supergarotão, deu a maior
força! Foi tão legal! Ele é tão legal! (1988)
[ A primeira música que emplacamos foi Será. Na época, as pessoas
achavam que o meu timbre de voz era parecido com o do Jerry Adriani.
E, na verdade, é — ao menos naquela música. E isso ajudou muito.
(1991)
[ Eu queria cantar com voz de barítono. Porque, naquela época, todo
mundo cantava com voz mais aguda e eu ouvia Jim Morrison, Iggy Pop,
Brian Ferry, David Bowie, Ian Curtis. Foi ótimo o meu timbre ser
parecido com o do Jerry Adriani, mas eu acho mais parecido com o do
Elvis. (1994)
[ Eu tive um sonho. Apareceu uma luz imensa no céu, assim, e, de repente, surgiu o
Elvis: óóóóóóóü! Tocou aquela música e, quando eu cheguei perto, o Elvis virou Jerry
Adriani e disse assim: "Filho, vai em frente". Aí eu virei cantor. (1994)
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JIM MORRISON
[ Eu não acho que o cantor tenha que ser um mártir, como foram Jim Morrison e Jimi
Hendrix. A gente tem de prestar mais atenção em quem está vivo, nos sobreviventes,
como Keith Richards. Lennon dizia isto: "Importante é quem fica". (1989)
[ Me contaram que o Jim Morrison era tarado pelo Hendrix, "Jimi, Jimi, eu preciso
de você!". Mas, no rock'n'roll, está tudo bem. Agora, e o cara que perde o emprego por
causa de sua opção sexual? (1990)
[ A minha dança é a dança do Jim Morrison. Só que eu sou desajeitado; aí, fica
parecendo que é o Morrisey. (1994)
[ Essa coisa do Jim Morrison é legal, porque, de repente, não é uma
pessoa de influência, é uma coisa natural. Eu me expresso dessa maneira
na hora em que eu sinto uma determinada coisa: a música vai tocando
e... Aí ficou uma marca registrada. Teve um vídeo do Tempo perdido em
que eu fazia uma dança maluca e, uma vez, a gente foi no Chico e Caetano
[programa da TV Globo] e o Caetano fez um comentário sobre isso:
"Olha aquela dança, quero fazer assim também". Pegou, fez o maior
sucesso. O Jim Morrison eu considero um roqueiro bem legal, eu gosto
muito dele. Ele canta com uma voz muito bacana. (1994)
JOVEM GUARDA
[ Eu não gostava de Jovem Guarda, de xerox, de coisa cantada em
português. Com 5 aninhos eu já ouvia Beatles... (1986)
JOVENS
[ Quem não tem uma rede embaixo não vai tentar ura triplo mortal. O
movimento das esquerdas nos anos 60 não deu em nada. Agora, tem
que tentar um novo caminho, sem ter nenhuma saída: o povo está sem
educação, sem alimentação, e a estrutura política está totalmente sem
base ética. Então, fica muito difícil. Não tem modelo, não tem
referencial, nem mentores que indiquem o caminho. Porque as gerações
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anteriores, além de estarem totalmente desiludidas, jogam toda essa desilusão nos
próprios jovens. Um cara como o Ferreira Gullar dizer que a geração de roqueiros é
uma geração sem caráter é de perder a confiança. O Baden Powell também falou isso. E
eram pessoas que eu respeitava. Então, em quem é possível confiar? Em Caetano
Veloso, mas ele está fora disso. O máximo que você pode fazer é tentar se interiorizar,
buscar algo mais tribal, de sobrevivência mesmo, tanto a nível psicoemocional como
intelectual, informativo, social, político, sexual, tudo. (1988)
[ As pessoas têm que começar a perceber a diferença entre Barão,
Paralamas, Titãs, Legião e os outros. E isso não está claro para a juventude,
porque a garotada está realmente lendo menos. Estão lendo até menos
quadrinhos. Também, pudera, não têm dinheiro, não têm organização,
não têm uma chance. Eles não têm ponto de referência e acreditam em
tudo o que a mídia fala. (1989)
[ O jovem é jovem desde que o mundo é mundo. O que eu acho um
crime é a falta de perspectivas para o jovem no Brasil. Acho que, se o
jovem é alienado hoje, é porque é burro. Atualmente existe muito mais
informação. (1994)
[ Acho muito fácil as pessoas sentarem suas bundas gordas na cidade e
ficarem definindo a juventude. Não tenho que saber como é a cabeça
do jovem. Tenho é que, como cidadão, ajudar as pessoas que vêm depois
de mim a terem uma oportunidade. (1994)
JUDY GARLAND
[ Antes, só o Cazuza e o Lobão saíam no jornal. De repente, eu virei a
Judy Garland do rock. (1993)
JUÍZO
[ Eu acho que a maior falta de juízo é discutir com alguém que não
tem juízo. É sempre aquela coisa de você ter que ficar pacientemente
mostrando: "Gente, não é por aí". (1987)
147
JULGAMENTO
[ O que mais me incomoda é quando as pessoas exigem certas coisas
que são o oposto do que você está fazendo. Essas coisas do tipo concurso
para banda de rock, como as gravadoras estão fazendo. Me diz: você
está fazendo rock'n'roll, vai se submeter a julgamento organizado? Isso
prova que as pessoas não sabem direito onde estão pisando. Se você
está trabalhando seriamente — aquele sério bom —, vai correr atrás da
informação. (1987)
'JUNKIE'
[ Todo mundo quer que Renato Russo vire junkie. Não vou fazer isso.
Não, mesmo. (1987)
[ Definitivamente, não quero mais saber de viagens depressivas; o viver
pela arte não é tanto assim. Isto me assusta. As pessoas só se interessam
pelo seu trabalho a partir do momento em que você se acaba com ele.
Foi assim comigo, logo depois de gravar o Dois. As pessoas diziam: "É o
junkie do rock brasileiro". Chega. (1989)
148

Letra "K"

KURT COBAIN [líder do Nirvana, que se suicidou em 1994]
[ O homem é o melhor letrista que apareceu nos últimos dez anos. O
cara era fera. Fica até difícil explicar como eu o achava bom. Foi uma
grande perda. Era poeta de mão cheia, e não apareceu ninguém como
ele. Não com a sua idade, falando as coisas que ele falava. (1994)
[ Em geral, o rock'n'roll é muito adolescente. A poesia que existe nele,
se existe, é sempre uma coisa da oitava série. Aliás, eu sou acusado
disso. Mas, se você pegar uma letra do Kurt Cobain, vai ver que ele
falava para todo mundo. Eu sinto bastante a sua morte, porque entendo
bem o processo por que passou. Essas coisas de fazer sucesso em cima
do que você acredita e sente, e ter as pessoas querendo mais e mais, são
complicadas. Eu encontrei uma saída numa entidade de apoio a
dependentes. Ele, não. Era dependente químico e estava num processo
de negação muito forte. Então, chegou àquele momento de muita
depressão: nada vale a pena, estou sentindo muita dor, vou acabar com
isso. (1994)
Para ele, foi uma viagem muito complicada. Não vou me comparar
ao Kurt Cobain, mas você turva tudo, não sabe o que está acontecendo.
É um baixo astral terrível. Eu tive essa postura do Kurt... Eu acho que
ele era um artista extremamente talentoso, extremamente sensível, e
supergente finíssima. Chegou a um ponto em que ele passou a depender
da droga para se relacionar consigo mesmo e com o mundo, sem perceber
que isso é que quebra a sua espiritualidade. O Kurt Cobain expressava
as coisas boas e ruins que ele via no mundo, mas com a droga. Eu acho
chato o que aconteceu com o Kurt Cobain, mas tudo aconteceu por um
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motivo. O chato é que ele é o melhor que apareceu em 30 anos! As músicas do cara
eram muito boas. Mas o trabalho do Nirvana era muito perigoso; aquilo era querer virar
Cristo. (1995)
[ Eu abusei muito do meu organismo. Durante muito tempo, fui levado
a acreditar que o romântico era se autodestruir. Hoje, eu sei que não
existe graça em ver o Kurt Cobain se matando no palco. Isso não é
rock'n'roll. Não vamos dar nota dez para esse show. (1995)
[ Quero lidar melhor com esta postura rock'n'roll, porque, senão, você
acaba se matando, como o Kurt Cobain. O menino se matou e você
pensa: "Não precisava". Mas, na cabeça dele, precisava. Era uma coisa
muito pesada. Você não pode levar a sério desse jeito. (1996)
Eu ficava muito aborrecido com aquele menino, porque eu me via no
lugar dele, vivendo a minha história. Eu tinha tudo para morrer como
ele. (1996)
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Letra "L"

LAMBADA
[ Teve uma coisa engraçada [na viagem que ele fez aos Estados Unidos]: a estréia da
lambada. Foi triste, triste! Americano acha que você vai aos Estados Unidos para ir a
restaurante brasileiro, dançar música brasileira... Eu queria conhecer o Palladium, nos
anos 60 muita gente tinha tocado lá. Aí começa o show da lambada. Nunca vi uma coisa
tão brega! Um rufar de tambores e... Eu não sabia quem era Kaoma, nunca tinha ouvido. Só
que era uma armação de um empresário francês com músicos afro-franceses. Aquela
fumaceira, pareciam os números musicais do Fantástico bem brega de antigamente,
o fumacê azul, e todo mundo com a respiração presa, esperando a lambada. Até ali, estava
interessante: vídeo da Mangueira, aquele ambiente rococó vitoriano, uma coisa louca. E o
Olodum... Mas, quando começou a lambada! Pareciam aquelas dançarinas do Gugu
Liberato, e um dançarino com cara de chicano, com uma calça superapertada, e essa
chacrete com uma sainha, os dois parados. Aí: "Laambaadaa!". Parecia show da
Broadway brega, uns seis casais dançando, dava para ver que era tudo de Porto Rico
ou... do Brasil é que não era. E a banda... Tinha um da banda do Hugh Masekela, o
percussionista, com trancinhas do Senegal. Três meninas cantando, só uma brasileira.
Uma negona — a melhor parte do show — não tinha nada a ver com lambada, era
funkadelic. De hot pants, sapato de salto dessa altura e uma peruca loira de plástico,
cara! Depois da terceira música, eu fui embora. Eu juro que tentei... mas não deu. Aí,
saí, e ainda tinha gente querendo entrar. Me deu uma raiva! Me deu vontade de falar:
"Não é música brasileira!". Mas, Deus me livre! Prefiro que achem que sou judeu,
grego... (1990)
151
LAURA PAUSINI
[ Laura Pausini foi uma das primeiras coisas que eu ouvi [para escolher
repertório para o disco Equilíbrio Distante]. Isso é a Fafá de Belém no
Domingão do Faustãol De repente, a riqueza melancólica e harmônica
que tem por trás disso me impressionou. Dentro da coisa pop, o nível
de produção do disco dela me impressionou. Eu adoro a melodia —
como músico, sabe? Têm uns clichês, mas, de repente, tem aquela coisa
da canção pop clássica. Ela fica repetindo a letra e, se você entra no que
ela está falando... (1995)
[ A gente teve que adiantar o lançamento do disco na rádio em São Paulo porque
eles começaram a tocar Laura Pausini. Nunca colocaram Laura Pausini em lugar
nenhum! Sabe, foi só aparecer na GNT o especial que a Beth Lago fez comigo que, no
dia seguinte, já estava tocando Laura Pausini, La solitudine. (1995)
[ Ela é como se fosse a Angélica dos italianos, toda mocinha (1995)
LEGIÃO URBANA
[ Nossa primeira apresentação foi no festival Rock na Arena, em Patos
de Minas. A segunda, um grande acontecimento tribal no Guará. A
terceira, na Ciclovia, Lago Norte. Não vamos desistir. Só queremos nos
divertir. Está tudo muito bem, está tudo bom demais, mas realmente
não iremos esquecer a música urbana. (1982)
[ Na minha cabeça, a Legião continua a fazer a mesma coisa que fazia
antes. A única diferença é que, ao invés de tocar para um público de
500 pessoas em Brasília, a gente está tocando para esses ginásios com
dez mil, 15 mil pessoas. (1985)
[ A melhor coisa é: nós quatro, do jeito que somos, termos conseguido
fazer o que fizemos. Gente, nós éramos uma banda underground! Até
hoje, eu não sei tocar direito. Agente é super não-profissional, é amador
no bom sentido, de quem ama o que faz. O importante é isso, mas as
pessoas ficam em cima — Rolling Stones/Mick Jagger, RPM/Paulo
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Ricardo... E não é Legião/Renato Russo. É Legião. Só que eu falo mais — eu sou muito
ambicioso —, dou sempre um jeito de falar a coisa certa na hora exata. As letras só
tentam provar que alguma coisa é possível, mas as letras são feitas em cima do que os
quatro vivem. (1987)
[ O que a Legião Urbana tenta fazer é provar que nos anos 80, no
Brasil, você ainda pode tentar seguir o caminho que eu aprendi com o
Dylan e os Stones e quem quer que seja. Que a gente possa ser a trilha
sonora verdadeira, factual. Para quando tiver um programa sobre
ecologia, eu não precise ir lá debater ecologia: basta colocar as crianças
cantando a nossa música. Eu acho que, se a gente conseguiu fazer isso,
já é uma coisa muito importante. (1989)
[ A gente é um pouco diferente das bandas daqui do Rio de Janeiro,
extremamente leves, hedonistas. A gente, não. Nós sempre fomos
contundentes, já chegamos falando contra o chauvinismo, contra o
sistema escolar, essas coisas. (1991)
[ A gente sempre quis ser a maior banda de rock do Brasil. (1994)
[ A gente começou com punk, era underground, de repente fez sucesso.
Então, a gente virou uma espécie de uma banda meio híbrida. A gente
faz uma porção de discos e eles não são iguais. Embora tenham sempre
aquelas baladas, o homem lá cantando, variam um pouco aqui, variam
um pouco ali. Hoje em dia, tem essa coisa mais compacta, uma linha
determinada. Os Titãs são um bom exemplo disso, porque, antigamente,
eles tinham um som supervariado e, hoje em dia, o estilo musical deles
está mais conciso. Então, fazem uma coisa assim mais parecida. Eu acho
que a gente, por ter um público muito grande, a gente tenta variar.
(1994)
Nunca seguimos uma moda. Não fazemos rock porque é moda. Pode
ser que tenha passado um momento, que foi o da descoberta pela
imprensa, de empatia e de grandes shows. Não me satisfaz. Interfere na
minha privacidade, em como me vejo como artista e cidadão. Também
não fazemos televisão, mas continuamos tocando. Pode ser que não
estejamos na lista dos dez primeiros, mas estamos entre os 20. Com
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vendas, é a mesma coisa. O rock é isso: atingir o coração das pessoas; não é anúncio de
iogurte. (1994)
[ A Legião chamou muita atenção, porque surgiu no período da abertura,
da redemocratização. Mas, basicamente, o que escrevemos são canções
de amor. (1995)
[ Passamos por todas as fases do rock'n'roll. Quebramos vários quartos
de hotel e, uma vez, chegamos a parar um avião, taxeando na pista, para
que nosso baixista [Renato Rocha] não o perdesse. (1995)
[ Se a gente mudar de som, muda de nome. Não vai ser mais Legião.
(1995)
'LEGIÃO URBANA' [o primeiro disco]
[ Em termos de vendagem, o disco chegou a 50 mil cópias, o que não
é muito. Mas, considerando o tipo de trabalho que a gente faz e o fato
de ter sido o primeiro disco, o resultado foi espetacular. Poderia ter
vendido muito mais, se a gente tivesse entrado no esquema um
pouquinho mais. A gente só aceitou fazer certos programas de televisão,
certos trabalhos de divulgação, porque a gente queria que as pessoas
nos vissem, nos ouvissem. Agora, a Legião não está vendendo camiseta
na Sears, entende? Não entrou nesse esquema, nisso que você precisa
para chegar a cem mil cópias, 200 mil cópias. Quase todas as faixas do
disco tocaram muito nas rádios de todo o Brasil, mas o rádio no Brasil é
uma coisa curiosa — executa muito as músicas, mas não chama as vendas.
(1986)
[ É curioso como esse primeiro disco não envelheceu, continua tocando
para caramba, até hoje. (1991)
LEITURAS
[ Ultimamente, eu não tenho lido muita ficção. Eu tenho lido biografias,
eu gosto muito de biografias. Bem, Shakespeare eu sempre leio. Mas,
virtualmente, eu leio qualquer coisa: histórias de feiticeiros, de terror,
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Stephen King eu adoro. Subliteratura mesmo. Adoro coisas bem horripilantes. Mas
também leio coisas sérias, para estudar a linguagem. Ultimamente, eu leio muito
Drummond. Eu amo o Drummondl Para mim, só existem dois: o Fernando Pessoa e o
Drummond. Prosa, eu não conheço. Eu gosto de acompanhar o trabalho do Caetano,
presto atenção na construção gramatical, na divisão de sílabas. Até pouco tempo atrás, eu
estava estudando sonetos, aí eu lia Camões e tentava fazer os meus. Ih, que bobo que eu
sou, tão pedante... (1986)
[ Ando lendo coisas tipo não-ficção. Por exemplo, fatos que mudaram
o mundo e coisas assim. Recentemente, eu consegui as obras completas
do Allen Ginsberg. Sempre estou lendo poesias, principalmente os
poetas ingleses, que eu gosto mais do que os norte-americanos. No
momento, mesmo, eu não tenho lido bastante, porque estou fazendo
umas letras e não quero me influenciar. (1988)
[ Fernando Pessoa, William Burroughs... Teve uma época em que li
muito Thomas Mann... Mas, espera aí! Isto pode parecer que eu sou
pedante, citando esse pessoal. Eu não fico trancado em casa lendo Mann,
não é só isso. (1988)
[ As melhores coisas que eu li, ultimamente, são todas de autores gays.
O pessoal mais venenoso chama os heteros de breeders [reprodutores]...
Não têm sensibilidade, são uns babacas e tal. Mas não é verdade. Há
pessoas heterossexuais maravilhosas, assim como há gays fascistas. É o
caso do próprio McCarthy [senador americano que, no começo dos anos
50, liderou a caça às bruxas aos comunistas e simpatizantes no meio
artístico]. (1990)
LENNY KRAVITZ
[ Há coisas de que realmente eu não gosto. Por exemplo, todo mundo
adora o Lenny Kravitz, e eu acho o Lenny Kravitz um fake de marca
maior. (1992)
155
LETRISTA
[ Embora as letras sejam importantes, elas são um meio, e não um fim.
(1987)
[ Eu me considero um letrista, e não um poeta. Tenho uma certa
preocupação com o que eu escrevo, é lógico. Sempre gostei da palavra,
fui um bom aluno em Literatura e Gramática. (1988)
[ Ah, falta muito para eu ser um grande letrista. Mas têm algumas
coisas de que eu gosto muito, tipo Andrea Doria. (1988)
[ No momento em que escrevi as letras e descobri que poderia também
trabalhar rimas ricas, fui tentando aprimorar. Eu. pessoalmente, vou
tentar não rimar verbo no intransitivo com verbo no transitivo. Vou
tentar fazer algo bom, porque vou ficar mais satisfeito e o trabalho será
mais duradouro se tiver qualidade. (1988)
[ A palavra é importante, mas a sonoridade tem a cara e o jeito da
gente. Nós filtramos o verbo e a música pelo lado emocional. Depois,
eu sempre escrevo as letras depois das músicas prontas; por isso, não só
as letras causam impacto. (1989)
[ As pessoas realmente não analisam as letras. Mas eu gosto de acreditar
que faço de uma tal maneira que possam ser interpretadas de várias
formas. (1991)
[ Todo mundo reclamou que as letras de O Descobrimento do Brasil
são infantis. Ora, bolas1. Eu disse que as letras seriam simples porque eu
quero que o meu filho, os do Bonfá e do Dado entendam. Me
perguntaram se eu estou com Aids, mas não me perguntam por que
escrevi uma letra de determinado jeito. Nunca, nunca, nunca. (1994)
[ Eu sempre escrevo para mim. Se estou satisfeito, está ótimo. Aí,
depois, eu mostro para a banda e para os meus amigos. Aí, eles dão
palpite: "Aqui você pisou"... Tinha uma música chamada Rapazes
católicos, que a gente cortou de As Quatro Estações porque era
156
impublicável. É impublicável... Era muito explícita, sexualmente. Em geral, as pessoas
falam: "Você escreve tão bem! Você pode falar isso sem usar essas expressões". Eu
falei: "É mesmo". (1994)
LIBERDADE
[ Acho que a liberdade é uma das grandes questões dos anos 90. A
única liberdade que sobrou é a emocional, psíquica. Não quero nunca
que me controlem. O ser humano é mamífero, totalmente sexual. Se
você reprime isso... Essa bobagem: se John Lennon era ou não era gay.
E se fosse? Parece que o cara vira um assassino. Aliás, olha que coisa
curiosa: se um ator faz o papel de um assassino, ninguém vai achar que
ele é um assassino. Agora, se um ator faz papel de gay, todo mundo vai
achar que ele é. Tem alguma coisa errada. Isso me interessa
profundamente. A humanidade é desumana, mas acho que ainda temos
uma chance. (1990)
[ Por que eu não posso ter liberdade de abrir o peito e cantar "é o
amooooooooooor...? (1995)
LÍDER
[ Ser tratado como líder me incomoda muito. No final da excursão do
disco Dois, o clima já estava insuportável. Tanto que paramos para dar
um tempo. Mas sempre fiz questão de colocar para as pessoas que eu
não era, de maneira nenhuma, o dono da verdade. (1988)
LIMPO
[ Eu não volto atrás. Eu não repetiria nada, mas eu também não me
arrependo. Eu acho que cada pessoa cresce como tem que crescer. Eu
dou graças ao poder superior que eu encontrei um caminho, mas é só
por hoje — amanhã, eu posso estar aí, caído no chão, levando porrada
de segurança, porque eu estou bêbado de novo. É só por hoje, mas só
por hoje eu estou limpo, e é legal à beça. (1993)
157
LÍNGUA ESPANHOLA
[ Eu não me identifico com a língua espanhola. É belíssima, mas não
me identifico. Se for para cantar em espanhol, canto em português.
Acho muito parecido. Italiano é completamente diferente. (1995)
LÍNGUA PORTUGUESA
[ Que língua portuguesa? Cadê nossas escolas? A língua portuguesa é
muito bonita, mas é difícil. Dá muito menos trabalho escrever em inglês,
que tem certos fonemas, e a divisão das sílabas... quando há sílabas!
Porque o inglês é uma língua virtualmente monossilábica. Sério, é melhor
fazer música em inglês do que uma música em português que diz "mulher
é tudo vaca". Aí é o meu limite. Isso não dá. (1992)
[ A língua portuguesa é belíssima. Mais doce que o italiano. (1993)
LITERATURA INGLESA
[ Mesmo os escritores ingleses mais experimentais são muito mais fáceis
de entender, com algumas exceções, como o Joyce — mas ele era um
inventor de palavras. Não é como o Modernismo brasileiro, ou os
experimentalismos de língua latina, que geralmente são muito difíceis.
É uma questão de simplicidade. Aí você pensa na literatura dos beats
para cá. Eu não tenho lido nenhum escritor contemporâneo diante de
quem eu possa chegar e: ah! O que acontece com a poesia inglesa é que
ela é muito ligada à tradição da canção. Uma coisa que me atrai muito
neste ponto é o cancioneiro elisabetano. (1988)
LIVRO DE CABECEIRA
[ Tao Te-king. Explica o caminho perfeito. (1994)
LIVROS
[ Zen e a arte da manutenção das motocicletas, de Robert Pirsig, e O discurso
da servidão voluntária, de Etienne de La Boetie. (1994)
158
LOBÃO
[ O Lobão sabe manipular muito bem a questão das drogas. Se ele não soubesse, já teria
morrido. (1988)
LONDRES
[ Eu achei que seria um ótimo momento para o Dado e o Bonfá irem
para Londres [participarem da remasterização dos discos da Legião].
Somos uma banda] Por que é que eu tenho que fazer tudo? Eu estou
cansando] Quando eu quiser ir para Londres, eu vou para Londres. Pô,
com esse disco novo da Legião, eu não quero nem saber] A gente vai
para lá] Eu também quero ficar em hotel, eu também quero conhecer
Peter Mew e todo mundo [do estúdio Abbey Road]. Porque isso já era
para ter rolado há mais tempo. Eu quero ir lá] Imagina] Eu quero ir para
Londres] Conhecer, ver as coisas... Eu acho que, em Londres, eu até
andaria de metrô. Uma ou duas vezes, talvez. É bacana andar de metrô
e tal, mas eu gosto de andar de táxi para ir vendo a cidade. (1995)
'LONGE DO MEU LADO' [faixa do disco A Tempestade — Ou O
Livro dos Dias]
[ Ah, a sacarina do Bonfá [Ah, essas músicas que o Bonfá me manda]
Aí, todo mundo acha que eu é que faço essas músicas, e que eu é que
sou o melancólico do grupo] Eu tenho essa fama. Isso vem mais das
letras. As minhas coisas são as coisinhas mais pop, mais bundas, mais
pretensiosas e mais metidas a besta. O Bonfá é quem faz Vento no litoral.
Mas é preciso... Esta música é você utilizar o meio mais romântico para
dizer "Eu não quero estar apaixonado". Sabe, são certas sutilezas. Esse
cara está é louco, está se perdendo de paixão. Aí as pessoas pensam que
isso sou eu, entendeu? (1996)
'LOVE IN THE AFTERNOON' [faixa do disco O Descobrimento do Brasil ]
[ Esta música foi feita para o Luís, um amigo. A gente chegou a namorar
um tempo. Ele morreu baleado por uns sujeitos estranhos, na saída de
159
uma boate em Campo Grande, onde costumava ir. Isso é uma coisa terrível. (1993)
[ É uma música que foi feita para diversas pessoas e, quando o Kurt
Cobain morreu, a gente pensou assim: "Poxa, mas se encaixa direitinho".
Na verdade, esta música foi feita para todas as pessoas que vão embora
cedo demais. (1994)
LUGAR ESQUISITO ONDE FEZ AMOR
[ Embaixo do telhado, no vão da caixa d'água. O melhor lugar é aonde
a gente se sinta seguro. (1994)
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
[ Eu gosto do Lula, mas todo mundo fala muito mal dele. Meus amigos
dizem que é bronco e vai afundar o país. Mesmo assim, tenho uma
enorme simpatia. E, toda vez que leio o Paulo Francis, sinto mais vontade
devotar no PT. (1994)
Nessas eleições, o Lula pisou na bola. Autoconfiança demais. Ouvi
coisas horrorosas do Lula e do Fernando Henrique. Tentei sair pelas
pessoas. Quem vai votar em Lula e em Fernando Henrique? Por esse
lado, fui mais para o Lula. Todas as pessoas que eu achava inteligentes,
bem informadas e de sensibilidade falavam que iam votar nele. (1994)
160

Letra "M"

'MAIS DO MESMO' [faixa do disco Que País é Este (1978/1987)]
[ A idéia que a gente queria colocar, nesse disco, era Mais do mesmo. Porque, de
repente, o que está rolando por aí é mais do mesmo. A situação não mudou nada,
não acontece nada e, então, esta música é um fecho para Que País é Este. (1987)
[ Esta música a gente escreveu há quase seis anos. É impressionante como as músicas
continuam a ter uma certa relevância. (1992)
MALDADE
[ Maldade foi não admitir que as pessoas se preocupavam comigo. (1994)
MAMONAS ASSASSINAS
[ Todo mundo ficou arrasado, e eu fiquei muito surpreso que ninguém
tenha notado a importância dos Mamonas Assassinas como evento
cultural brasileiro. É a mesma coisa que morrer algum dos Secos &
Molhados e ninguém falar nada, só falar da multidão no enterro. Foi
horrível, de qualquer forma. (1996)
MARCELO BONFÁ
[ "Baterista. Aquário. Gosta de natação, de acampamentos, de se divertir
(muito). Era do Blitx 64 (também) e tocou junto ao SLU, Autonomia
Limitada, Metralhaz e o supergrupo Dado e o Reino Animal. Faz
163
desenhos e visuais para a banda. Aprendeu a tocar bateria logo depois da primeira
quinzena de vida. Sabia dançar o pogo bem, enquanto no berço. Mais tarde, tornou-se o
terror das menininhas: primeiro na Asa Norte, depois na Asa Sul, depois na Asa Leste e
agora na Asa Oeste, onde reside atualmente". [Trecho do texto escrito por Renato Russo
para registrar os primeiros momentos da Legião Urbana] (1982)
[ Teve a festa do chapéu do André Müller e lá estava o Bonfá. Uma
coisa curiosa é que eu me lembro direitinho de como conheci o Bonfá,
o Fê, mas não me lembro de como conheci o Dado. O Bonfá tinha
saído do SLU, por diferenças musicais, e eu disse a ele: "Vamos fazer
uma banda?". "Vamos". E nosso plano era assim: fazer um núcleo baixo
e bateria e chamar todas as outras pessoas para participar. Porque aí já
tinham zilhões de guitarristas — Zezinho, Felipe Seabra, Loro, eu...
Mas esse plano não deu certo: a gente não tinha lugar para ensaiar. (1989)
[ Eu implico muito com o Bonfá, porque eu tenho essa posição de
irmão mais velho na banda. De repente, eu fico com essas frescuras de
Beatles e eles: "Ah, Beatles..." Ele ganhou uma coleção dos Beatles agora,
entendeu? Ele falava: "Eu conheço Beatles". Mas a gente sabe que, para
conhecer, tem que ouvir. Eu achava que, como banda, a gente estava
perdendo toda uma coisa fabulosa da história do mundo do rock'n'roll...
Pois o Bonfá ouve Da Da e U2. Ele não sabe dizer a diferença: "Isso é
bom, isso foi feito por causa disso ou por causa daquilo". Se ele ouvir
um disco do Grateful Dead, não vai saber o que é que é? E o Dado tem
um outro papo. O Dado tem a própria gravadora. Naturalmente que o
Dado ouviu o Rubber Soul quando saiu em CD, mas era aquilo... A
gente ficava o dia inteiro: "Renato, o que é aquilo? O que é In my life? O
que é Norwegian wood?". E o Bonfá: "Neeeeh". Eu falei assim: "Poxa,
deixa ele ir lá para Abbey Road [para participar da remasterização dos
discos da Legião], para sentir aquela vibração". E ele mudou. Ele está
tão legal, o Bonfá. Banda é que nem casamento. (1995)
MÁRTIR
[ Eu não tenho que ficar recebendo lata de cerveja na cabeça e continuar
cantando por causa do meu salário. Ah, mas não tenho, mesmo] O
164
público fica naquela euforia, mas eles não respeitam. Qual é? Será que eles não
percebem que nós estamos do lado deles? Que a gente está cantando coisas positivas,
não está falando "taquem uma garrafa de cerveja na cabeça da gente, porque eu sou
mau". A gente está falando: "Brigar para quê/se é sem querer". Eu não sou mártir, não
tenho que ficar agüentando moleque mal resolvido. Se é porque o show está ruim, tudo
bem. Mas estava todo mundo adorando, estava tudo bem... e me tacaram uma bela de uma
sandália Samoa. Ainda bem que não foi uma garrafa! Eu é que não vou ficar satisfazendo
público que quer ouvir Eduardo e Mônica exatamente como está no disco. Isso não é
rock'n'roll! "Ah, mas tem que tocar". Tem que tocar nada, eu faço o que eu quero! (1986)
MASSIFICAÇÃO
[ Eu acho que, quando há muita massificação, a coisa se dilui a tal
ponto que fica muito difícil você manter o interesse pelo que você está
fazendo. Fica difícil manter aquele impulso inicial. Porque, se você já
conseguiu tudo, você quer mais. Se você já subiu ao topo de uma
montanha, pode querer escalar outra montanha. (1987)
[ Me recuso a entrar nessa, me sinto realmente encurralado. Um dia,
fiz uma brincadeira com meu primo. Estávamos almoçando e liguei o
rádio, só para confirmar: estava tocando índios naquela hora. Não é
disso que estou a fim. Agora, por exemplo, todo mundo só quer saber
do The Cure. Depois? Aí vem outro. Foi o que aconteceu com o U2 e
tantas outras bandas. Precisamos cortar ao máximo a massificação.
(1987)
MATURIDADE
[ Estou mais tranqüilo, não bebo mais, não uso mais drogas, isso me
traz uma serenidade que eu não tinha. Parei porque eu estava me
matando. Continuo a mesma pessoa, mas a gente amadurece. Estou
com 35 anos, não tenho mais 18. (1995)
165
MAU HUMOR
[ Às vezes, acordo de mau humor, por nada. E, quando estou com
fome ou preocupado, pronto. Agora estou controlando. As drogas me
atrapalhavam muito. (1995)
'MAURÍCIO' [faixa do disco As Quatro Estações]
[ Maurício fala sobre a solidão. Voltando à coisa da política, ela tem
um verso assim: "Às vezes faço planos/Às vezes quero ir para um país
distante e voltar a ser feliz". Mas a música termina com um fecho
positivo: "Eu vi você voltar para mim." (1990)
MÁXIMAS
[ "Quem mais sonha é quem mais faz" — eu acredito muito nisso. E
também que "quem espera sempre alcança". Eu vivo dizendo isso: são
as máximas de Renato Russo. (1986)
MEDO
[ Morro de medo só de pensar que meu filho pode achar superbabaca o que eu faço.
(1989)
[ Morro de medo de a musa me abandonar, de eu virar um hasbeen
[artista famoso que caiu no ostracismo], de aparecer daqui a uns oito
anos num programa, assim: "Vocês se lembram? No começo dos anos
80 eles foram muito famosos. Onde estarão eles?". No Asilo dos Artistas,
com meu violãozinho, eu, Marcelo Nova e Paulo Ricardo. Ai, que horror!
(1990)
MELANCOLIA
[ É claro que, como pessoa, eu sou meio melancólico. Se outro artista — o Cazuza, por
exemplo — pegasse o material de As Quatro Estações, por certo sairia algo mais para
cima. Em tudo o que fazemos, por mais alegre que seja, tem sempre uma
correnteza sob a superfície
166
aparentemente calma. É o meu jeito, mas, à medida em que eu vou mudando, isso vai
mudar também. Eu acho Eduardo e Mônica superimportante por isso, porque ali
conseguimos fazer algo super para cima. Atualmente, eu estou deixando de ser tão
ensimesmado e de ficar trancado em casa, achando que tudo é um horror. É claro que
eu saio e sou expansivo e tal, mas este outro lado é forte. (1989)
[ Não que eu escreva melhor quando estou melancólico, mas eu
encontro sobre o que escrever. Mesmo que seja uma música positiva,
como Quase sem querer, sempre vem da necessidade de resolver alguma
coisa que não está resolvida. (1990)
[ Não é bem uma melancolia — é porque não é a dança da garrafinha!
São dois extremos. Aqui no Brasil, nós somos alegres, mas nós não somos
felizes. Existem toda uma melancolia e uma saudade que a gente herdou
dos portugueses e que a gente ainda nem começou a resolver. A gente
não sabe o que é este nosso país. Não existe um debate, por exemplo,
dizendo o que é Adriane Galisteu! (1996)
MENINAS
[ Eu já sabia que era gay desde os quatro anos de idade. Quer dizer, eu
não sabia que era gay-gay! Eu tinha uma afeição muito grande pelas
meninas, mas não pensava nelas em termos sexuais, de posse. Não
precisava de proximidade física, beijo ou sacanagem. A gente pegava o
disco do irmão mais velho da Luiza [namoradinha da Ilha do
Governador] e ficava ouvindo Cat Stevens e James Taylor. (1995)
MENINOS
[ Mas fica aquela coisa: filho de católico, você é doente, etc. etc. No
meio do caminho, eu já estava pensando: pô, eu sou um cara tão legal,
eu não posso ser doente. Eu não sou muito religioso, mas eu me ligo
nessas coisas. Não só a doutrina de Buda, eu já li muito a Bíblia também
— e Jesus nunca falou nada contra certo tipo de comportamento. Quem
fala isso é a Igreja Católica. Bem, se eu sou assim e eu sei que sou assim,
desde que eu me lembro, desde os 3, 4 anos de idade... Eu sempre
167
'MENINOS E MENINAS' [música do disco As Quatro Estações]
[ Em Meninos e meninas, é a primeira vez que falo, claramente, que
gosto de meninos e meninas. Também não sei o que vai dar, porque
começo a falar de santo, no meio da música, e vai embolar tudo. E o
amor ao próximo? Jesus gostava de meninos e meninas. Não sei se
sexualmente, porque, naturalmente, Ele era um ser evoluidíssimo. Ele
era um ser totalmente espiritual. (1990)
[ Não é uma bandeira pelo bissexualismo; aquilo é uma bandeira em
favor da Igreja Católica. Eu também falo que gosto de São Francisco.
Depende de como você vê a letra. (1992)
MENUDOS
[ Teve uma época que eu me interessei pelo Menudo e tudo, sabe...
"Quem são esses meninos de Porto Rico? E que concepção interessante
para uma banda!". John e Paul ficaram velhos; então, vamos arrumar
outros John e Paul. Eu achava o trabalho deles bem interessante.
Consegui até conhecer os caras do Menudo, tête-à-tête. Aqueles caras
eram garotinhos de 17 anos? Que nada, eram todos uns talalaus de 20 e
tantos anos, uns bojes lindos, maravilhosos... (1995)
MERCADO EXTERNO
[ Só tentar manter a carreira no Brasil já vai me deixar ocupado pelo
resto dos meus dias. O importante é segurar o que você já conseguiu.
Eu gostaria de fazer sucesso lá fora para ganhar dinheiro. Mas, no fundo,
acho que uma carreira internacional seria um pouco chata. O dia em
que eu for reconhecido na rua, nos Estados Unidos e na Europa, onde é
que eu vou passar as minhas férias? Na Groelândia é que não dá!. (1991)
O repertório do Stonewall é interessante para o Brasil, mas, para eles
[outros países], é como um alemão cantando Carinhoso. Só faltava eu
168
—, para o Japão e para os Estados Unidos, claro. Mas os americanos são muito
homofóbicos. (1994)
MESSIANISMO
[ O maior perigo é para o público. Um belo dia, ele vai descobrir que
o seu ídolo tem pés de barro. É uma coisa muito dolorosa, porque messias
não existem. Eu expresso o que eu penso e o que eu sinto. Só. Quando
eu falo essas coisas, não é para mudar a cabeça de ninguém. (1988)
[ Se eu realmente estivesse num caminho messiânico, teria controlado
aquele show [no Estádio Mané Garrincha, em Brasília]. Eu tenho a
minha individualidade, não sou um messias. (1988)
[ Não me vejo como profeta ou messias, nem nada. Sou um cantor de
rock, um músico, um artista. Eles te colocam lá em cima para, depois,
te derrubarem. (1994)
MÍDIA
[ Neste país, a mídia está muito desenvolvida, mas, por outro lado, não
entendem nada... Você não tem o respaldo de uma estrutura já pronta,
tem que se matar de fazer show, e o próprio pessoal da mídia não
reconhece. Eles só pisam e pisam... Se vocês são tão importantes e
rock'n'roll é tão vulgar, por que falam tanto de rock'n'roll? Por que
precisam citar Adorno e Walter Benjamin para provar que não vale a
pena falar disso? As pessoas vêm me pedir entrevistas para me perguntar
coisas que não têm nada a ver: o que eu acho da venda de ingressos do
Sambódromo para o carnaval... Pelo amor de Deus! Pô, vem me
perguntar sobre rock'n'roll, que pelo menos eu conheço um pouco, e
mesmo assim tenho minhas dúvidas... O que acontece no Brasil é que,
se você chega num certo nível, você passa a ter autoridade para tudo.
Às vezes, isso dá medo. (1986)
[ Não dá para acreditar na grande mídia, e têm pessoas completamente
servis, que acreditam em tudo o que lêem. (1996)
169
[ O caminho é por aí: é preciso respeitar as pessoas que não são comuns,
que não são maioria. Gente que não vai gritar pela Copa do Mundo,
gente que pensa, que não aceita tudo o que é dito. A maior parte das
pessoas não pensa, nem existe. O modelo da pessoa comum é vazio.
Você não pode discordar de nada para não parecer diferente. (1994)
[ O disco [The Stonewall Celebration Concert] assume a idéia de que
as pessoas que pensam diferente devem ser respeitadas, sem hipocrisia.
E por isso que fiz o disco. Stonewall foi um pretexto para se falar de
uma das minorias. A verdade é que somente com o rock, a ecologia e os
movimentos em defesa das minorias o mundo vem prestando mais
atenção às coisas. (1994)
[ O homossexualismo não é a coisa mais importante do mundo. Talvez
seja, para mim, agora. Mas, além de dizer que o gay tem direito, é
preciso dizer que a criança tem direito, o negro tem direito, o cidadão
tem direito. Falam muito de minorias, mas, no Brasil de hoje, a vida
está impossível, inclusive, para o macho adulto branco. (1994)
MISTICISMO
[ Já me envolvi a fundo com magia, cabala, a ponto de ter que parar
porque estava mexendo com forças que escapavam ao meu controle.
Joguei muito tarô, fazia mapas astrais, estudei espiritismo. Minha única
frustração é ainda não ter acesso aos evangelhos não-canônicos,
considerados heréticos pela Igreja. Têm histórias sobre a ida de Cristo
ao Tibete e à Inglaterra, onde esteve com os druidas. Acredito numa
dimensão espiritual. Para mim, Deus significa tudo. Claro que não é o
Deus da Igreja, o velhinho de barbas brancas. (1988)
MITO
[ Pirei por causa dessa idéia de mito, e parei. Eles [os companheiros da
Legião] sabem como é que eu fiquei. Eu estava vendo isso tudo como
uma coisa perigosa para mim. Não aceito que as pessoas tenham direito
170
como verbalizar o que sentia para a banda, e mergulhei em muito álcool e muita droga.
Nunca mais isso vai acontecer. (1987)
MITOS
[ Beatles e Jesus Cristo. (1994)
MODA
[ No fundo, eu gosto de todo mundo [na música]. Só não gosto quando
vira moda. Teve um tempo em que o brega era moda — detestava isso.
Moda não é por aí. Não deve existir moda em música. Moda é uma
linguagem de roupa. Música é uma coisa muito subjetiva e não pode ser
categorizada como moda. (1988)
'MONTE CASTELO' [faixa do disco As Quatro Estações]
[ Monte Castelo foi feita a partir da junção de um soneto de Camões
— "O amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um
contentamento descontente, é dor que desatina sem doer".
— com uma parte do Novo Testamento, uma das coisas mais belas que já foram
escritas. Não gosto muito de São Paulo, porque acho que as coisas que ele falou são
horrorosas. Mas, no caso da Primeira Epístola de São Paulo aos Corintos, há umas
coisas bonitas. (1990)
MORTE
[ Não quero morrer. Se quisesse, já teria ido embora há muito tempo.
(1987)
[ Se eu morrer em nome da arte, não vai dar em nada. (1988)
A vida é difícil. O homem ocidental, principalmente no século 20,
não tem contato com a morte. A morte virou antisséptica. Não há contato
com o ciclo natural de nascimento, vida e morte. Basta ver o que estamos morrer. (1990)
171
[ A morte está próxima e eu quero aproveitar ao máximo este momento para aprender
com a própria vida e com a morte. (1996)
MUDANÇA INTERIOR
[ Eu não sou mais tão agressivo quanto antigamente. Eu descobri que
não adianta ficar batendo com a cabeça na parede, porque não vou
mudar o mundo. Antigamente, eu sinceramente acreditava que eu ia
poder mudar o mundo. Eu me formei em Jornalismo, eu realmente
queria fazer alguma coisa por um determinado caminho. Aí, depois, eu
descobri: "Olha, por aí não vai dar, Renato. É melhor você fazer outra
coisa". Hoje em dia, eu acredito mais numa mudança interior. Se eu
vou conseguir resolver os problemas que aparecem com a minha família,
na minha vida cotidiana, as coisas que eu tenho que resolver comigo
mesmo, com meu filho, com os meus pais, com os meus amigos. Acredito
neste tipo de mudança, uma coisa a nível de pessoas, bem pequena
mesmo. Nada de mudar o mundo, o governo, nem nada. E isso se reflete
um pouco no estilo das letras. No começo, era uma coisa muito
grandiosa; agora, não. A gente tenta fazer uma coisa assim: hoje é um
dia perfeito com as crianças. Só. Eu não posso mais falar pelas outras
pessoas. Eu só posso falar assim: hoje eu acordei bem ou acordei mal.
(1994)
MULHER BONITA
[ Todas. Isabella Rosselini, Vivian Leigh, Maria Bethânia e Zezé Motta.
(1994)
MULHER ELEGANTE
[ Minha mãe. (1994)
172
[ Marina Colassanti e Adélia Prado. Toda mulher é inteligente. (1994)
MULHERES
[ Mulheres são misteriosas, que nem gato. (1994)
[ Eu já namorei mulheres, tenho um filho. Mulher é uma coisa fabulosa,
mas, por mulher, eu sinto um respeito demasiado. Com mulher, parece
sempre que eu estou transando com uma amiga. (1994)
MULHERES OU HOMENS
[ Ambos. Uma coisa eu posso dizer: todas as mulheres que já se
apaixonaram por mim são hoje minhas melhores amigas. Eu me
apaixonava, mas não carnalmente. Gostava, achava divertido e tudo,
mas pensava: "Não é isso que eu quero, está faltando alguma coisa". Por
muito tempo, busquei relacionamentos com mulheres para provar que
eu era homem. Porque eu amo as mulheres. Espero que ela não fique
chateada, é uma mulher casada... Mas a Carla Camuratti, eu encontrei
na casa de um amigo. Ela é linda, meu tipo. Fiquei babando. Pensei:
"Gente do céu, é a mulher da minha vida". Mas eu sei que não é por aí.
Porque a gente pode estar junto e compartilhar tudo, mas, de repente,
passa um boje bonito... Sabe, eu tenho tara por bunda cabeluda, por pé,
por falo, pelo torso masculino, pela coisa da barba. O que me atrai na
mulher é a essência da mulher, não o corpo. No homem, a essência se
traduz no corpo. Também acho que nunca vou satisfazer a mulher
completamente. Sou muito fascista e autoritário. Sou o boje por
excelência. Sou macho, minha filha... Me sinto muito mais à vontade
em uma relação com outro homem. Homem não pode fingir. Ou está
de pau duro ou não está. Eu entendo o que o outro cara pensa, conheço
o cheiro, conheço o toque. Com a mulher, eu me sinto desonesto. E
elas se entregam tanto que eu me sinto tão pequeno... (1995)
MUNDO
[ Às vezes, parece que as coisas estão de um tal jeito, que a única
173
outro lugar. (1990)
[ Bem, o mundo nunca me maltratou. Mas eu achava que as pessoas
sempre podiam muito mais do que faziam. Todas muito servis, aceitando
tudo. Pensava: "Agora chegou minha vez". Esperei minha infância inteira
para ter 18 anos. Acreditava que podia tentar mudar alguma coisa para
melhor. (1995)
MUNDO DO ROCK
[ O mundo do rock não é machista. O mundo do rock é misógino. O
que vale nesse mundo não é saber se você é gay ou não. É saber quem é
o mais louco, quem vende mais disco, quem ganha mais dinheiro. Era
aquela coisa de querer se mostrar, do exibicionismo, da vaidade mesmo.
De se transformar em ídolo. (1995)
MÚSICA
[ Isso eu decidi aos 12 ou 13 anos. Só que, naquela época, não existia
rock'n'roll assim, para todos os efeitos. Eu tinha morado nos Estados
Unidos, entre 67 e 69: meu pai era economista e foi tirar PhD na
Universidade de Nova York, pelo Banco do Brasil. Mas, aí, você começa
a pensar em ter uma banda, em ter uma guitarra, e os pais dizem: "Meu
filho, não é assim que as coisas funcionam, talvez a gente possa colocar
você numa escola de música". Eu já tinha tido aulas de piano, quando
pequeno, mas era aquela coisa com cheiro de mofo. (1989)
[ Me contam que, aos 2 anos de idade, eu já punha o disco do Frank
Sinatra de volta na capa certa. Quando chegou a adolescência, meu
sonho era formar uma banda. Minha família é muito musical. É coisa
de gente que tinha piano na sala. Tanto do lado do meu pai, que é
paranaense, quanto do lado da minha mãe, que é pernambucana. (1995)
[ Eu acho que uma das funções da música é fazer você interagir consigo
mesmo e rever sua história e suas coisas. Quando eu viajo e ouço música
174
musical. Muito, muito musical. De repente, se eu ouço coisas como Aquarela do Brasil
lá fora, dependendo de como eu estou, dá vontade de chorar, ô meu! (1995)
MÚSICA BRASILEIRA
[ No Brasil, a música sempre foi ligada a uma coisa mais folclórica.
Sempre houve uma espécie de cisma: a poesia de um lado, a música
popular do outro. (1988)
[ O tempo vai passando e eu vou respeitando cada vez mais a música
brasileira. Eu era muito esnobe — isso até a gente entrar para o meio e
ver como sofre o músico, como funciona essa máfia do direito autoral,
das gravadoras... Esses caras são uns heróis. (1995)
MÚSICA CLÁSSICA
[ Gosto de música clássica. Acho emocionante aquela abertura da Flauta mágica, de
Mozart. Todo mundo gritando: "Vai começar!" [nos shows da Legião]. Deixa uma
expectativa legal. Todos abrem shows com Carmina Burana. Não agüento mais ouvir
aquilo! Está muito clichê. É igual a esses discos que vendem só Quatro estações, de
Vivaldi, e Valsa das flores, do balé Quebra-nozes, de Tchaikovsky. (1995)
MÚSICA ITALIANA
[ Eu nunca tinha ouvido música italiana. Na minha cabeça, eram baladas
bobas. Encontrei alguns CDs numa loja aqui do Rio e comprei uns 12.
Aí, fui descobrir que o estilo dos italianos é parecido com o meu estilo
arrebatado de cantar. (1995)
[ Por uma coincidência, todos os artistas que eu consegui naquela
primeira leva — e depois, quando eu comprei mais e me aprofundei
mais — tinham uma temática muito parecida com a temática da Legião
175
mundo e tentando resolver as coisas do mundo. Isso é uma coisa bem da Legião.
Músicas de amor. Mas, na minha cabeça, eu imaginava que a música italiana era como a
música francesa ou como Júlio Iglesias, entendeu? E não tem nada a ver. Eles sempre
falam desta coisa: "O mundo está horrível, está caindo aos pedaços, mas eu procuro
sinceridade no relacionamento e na minha vida, e também a honestidade". É aquela praia
de REM e U2, que existe no rock, e cujas letras de repente falam disso. O Dylan, às
vezes, fala um pouco disso. É a coisa folk, não é? E eu fiquei impressionado porque
todos os artistas tinham uma visão extremamente parecida. As músicas eram muito
melodiosas. Elas tinham aquela coisa pop — meio Rosana, meio Xuxa e meio Angélica —
, mas transcendiam, de certa maneira. (1995)
[ A gente se esquece de que, durante muito, muito tempo,
principalmente até o aparecimento da Tropicália, só dava música italiana
neste país. Isso só acabou no anos 70. Era uma coisa de todo mundo
assistir a San Remo e de todo mundo ter disco da Rita Pavone. Eu me
lembro, até hoje, daqueles discos da RCA, com selinho azul, que, quando
eu era pequeno, todo mundo ouvia. A própria Jovem Guarda é 60, 70
por cento música italiana. Banho de lua, que é o começo do rock no
Brasil, é italiano. Era um garoto que como eu amava os Beatles e os
Rolling Stones, também. Isso é uma coisa que me fascinou muito. Como
é que a música italiana sumiu de repente? Sumiu, desapareceu. Gente,
a gente tinha Ornella gravando com Vinícius e Toquinho. O Chico,
com Minha história, do Construção: aquilo é Lúcio Dalla. E aquilo tudo
sumiu. Eu acho que entrou Yellow river e acabou! (1995)
[ Eu tenho um carinho muito grande pelo progressivo italiano. Eu acho
a pior coisa do mundo, mas eu acho tão legal aqueles caras fazendo
aquelas músicas em inglês! Tipo Birth — Part I. Sabe aquela coisa? O
enigma sem fim — Parte I, Fuga e O enigma sem fim — Parte II. Isso é
tão pretensioso! Eu, com 12 anos, achava aquilo a coisa mais linda do
mundo. Prelúdio, Canção para as gaivotas — isso Robert Fripp, não é?
Ih, eu adorava! (1995)
176
Mesmo que tenha uma melodia maravilhosa, a música brasileira sempre se preocupa com
o ritmo. Lá na Itália, o que chama a atenção são, justamente, a melodia e a harmonia. Eu
não sabia que existiam tantos artistas italianos, porque aqui no Brasil parou de se tocar
música italiana faz tempo. Isto é uma pena, pois as letras são muito interessantes e
extremamente apaixonantes. (1995)
'MÚSICA PARA ACAMPAMENTOS'
[ Eu gosto muito de cantar, e as músicas da Legião são muito difíceis
de cantar. Porque, quando a gente grava as músicas do nosso disco, elas,
virtualmente, saíram do forno. Por isso, eu acho que, nas versões do
Música para Acampamentos, as músicas são realmente superiores, pelo
menos no vocal — porque eu já conheço a música, já cantei diversas
vezes. (1994)
MÚSICO BRASILEIRO
[ Veja: vão todas as donas de casa lá, falar com o Collor [ex-presidente
Fernando Collor de Mello], mostrar abaixo-assinado, e ele as recebe
pessoalmente, dois minutos na Rede Globo. Agora, quando vão os
músicos — a única coisa que a gente ainda tem na cultura brasileira é a
música — pedir, pelo amor de Deus, para liberar o dinheiro do Ecad
[órgão recolhedor de direitos autorais]... A gente é jovem, eu sou
roqueiro, estou na crista da onda; se for o caso, para mim, não é problema.
Mas, e o músico brasileiro de verdade? Está aí, sofrendo. Eu sei quanto
eu ganho de direitos autorais. Toca a música na Rede Globo e são 151
cruzeiros e 22 centavos. E as pessoas que vivem disso? Não deu na Rede
Globo, só uma pequeníssima nota, e o Collor não vai falar com eles,
manda um secretário. Eu acho muito triste. A Legião é mass media,
mas e a cultura brasileira realmente? Como esse pessoal da MPB deve
ficar ressentido com a gente... Com razão. Eles, que são muito mais
autênticos do que essa bobagem do rock'n'roll, só levam na cabeça. A
Dircinha Batista morrendo, totalmente esquecida, no Asilo dos Artistas...
Eu acho uma grande sacanagem. (1990)
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quinta-feira, 10 de maio de 2007

BIRA PARA PREFEITO: OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER.

Companheiras e companheiros, Uma vez mais o futuro do PT estará em nossas mãos! Nas mãos da militância petista. Diretamente nas mãos dos filiados. Mas também, indiretamente, nas mãos dos simpatizantes que poderão influenciar nossos filiados. Isto porque sempre consideramos o PT um patrimônio maior do que o seu número de carteirinhas registradas no TRE.No próximo domingo (20/4), decidiremos entre uma opção de candidatura própria e duas outra(s) vagas opções de políticas de aliança e apoio a candidatos de fora do PT.Neste "plebiscito", que definirá o número de delegados do encontro municipal que decidirá por um ou outro caminho, algumas perguntas encurralam aqueles que titubeiam em defender uma candidatura própria do PT. As quais:Como abrir mão de um candidato que aparece com 10%, 15% dos votos - em pesquisas encomendadas pelos adversários - sem qualquer exposição na mídia ou visibilidade de um mandato?Como abrir mão de um candidato que está a poucos passos do segundo turno, podendo representar um amplo sentimento de mudanças na cidade?Como abrir mão de 197 mil eleitores que já votaram no Bira numa eleição majoritária e que, portanto, já nutrem por ele um desejo de renovar o voto nesta seguinte?Como abrir mão de um candidato que tem tudo para juntar o eleitorado de Lula e de Jackson na ilha, diante de um PDT sem lideranças naturais para herdar o espólio eleitoral de Jackson Lago, numa eleição que pela primeira vez ele não disputará?Como dizer que não teremos recursos para bancar essa campanha e isso nos derrotará, se não os tivemos em 2006 e o Bira ganhou a eleição em São Luís (contra Castelo, contra Roseana, contra Cafeteira)?Como vamos eleger vereadores do PT se não teremos o 13 no nosso programa de televisão, de rádio, faixas, bandeiras, cartazes e panfletos para dar força ao voto de legenda e, por conseguinte, reforçar a campanha do Joan, do Carlito, do Chocolate, da Socorro Guterres, da Silvana, do Walter Junior, do Zé de Deus, da Ieda, do Neil Amstrong, do Robert, do Genilson, do Prof Lobão, do Prof Manelito, da Irilene, do Dominguinhos, do Serjão, do Fernando Silva, do Kleber Gomes, do César do Grita, da Máxima, do Clemilton, do Rodrigo Comerciário, do Edmilson, do Vâner e tantos outros pré-candidatos a vereador?
Como abrir mão de uma campanha que pode empolgar a militância, a juventude e cidade trazendo Luizianne Lins, Olivio Dutra, Eduardo Suplicy, Tarso Genro, Marina da Silva, Arlindo Chinaglia, Benedita da Silva, Ana Júlia, Wellington Dias, Vicentinho, José Eduardo Cardozo, Ricardo Berzoini ao Maranhão?Nossas principais lideranças nacionais vão priorizar São Luís sabendo que aqui não temos candidato próprio? E o efeito que isso levará ao interior, aos nossos candidatos, podendo tirar fotos, fazer declarações para as campanhas dos vereadores, prefeitos e vices... vamos abrir mão disso? Vamos abrir mão do raio de alcance do programa de TV de São Luís nos demais municípios?Vamos abrir mão de uma candidatura que sai com o triplo das intenções de votos que terminamos nossa campanha em 2004? Que já supera nosso melhor cenário eleitoral com candidatura própria, em 1992, quando ficamos em terceiro lugar com Haroldo Saboia?O que acumulamos apoiando Flávio Dino? Vamos preferir apostar numa liderança que deixou o partido a construir a referência de outra que sempre esteve no PT, nos momentos bons e difíceis? Com a perspectiva de Bira eleito prefeito, teremos a possibilidade de consolidar várias outras lideranças (antigas e novas) do PT e de outros partidos a nós aliados, pois estaremos em interlocução com a cidade inteira, com um milhão de habitantes!Vamos abrir mão de construirmos um novo movimento político-social-comunitário-cultural-desportivo-acadêmico-popular como "A Frente ouve a cidade", que ajudamos a criae, em 1996, em torno da campanha Jackson-Dutra (e da qual saímos com 02 vereadores eleitos!), podendo rearticular nossa militância sindical, popular, estudantil em torno de uma perspectiva real de disputa de projeto para a cidade e de poder?Vamos abrir mão de apresentar ao povo de São Luís o patrimônio programático que fez o PT ser referência de gestão municipal como o Orçamento Participativo? o Programa Saúde da Família? o passe livre para os estudantes? o desenvolvimento ambiental sustentável? o Banco do Povo de microcrédito para geração de trabalho e renda?
Companheiros e companheiras, não podemos abrir mão de fazer esse amanhã!É hora de unir o PT!E as bases desta união estão dadas pelo processo histórico: uma tendência tem força no Diretório Municipal, outra no Diretório Regional e uma outra um forte candidato a prefeito! Pela primeira vez temos o equilíbrio de forças necessário para não repetirmos os erros da política do barba-cabeça-bigode que nos derretou anteriormente! De construção de um comando de campanha plural, com a diversidade do partido, que inclua tendências e independentes, nossas lideranças populares e intelectuais.Quem pode ser contra a unidade do PT?O que estará em jogo no próximo domingo não é a velha disputa do PED, da luta pelo aparelho do Partido partido (entre Articulação x PT de Aço, Dutra x Vila, Washington x Dutra). É outra história. A de um primeiro passo rumo a um novo ciclo para o PT de São Luís e do Estado. De empolgantes possibilidades de vitória.Com Bira em São Luís, criamos um movimento positivo de alto astral que se juntará ao Jomar em Imperatriz, às reeleições do Miltinho em Barreirinhas, do Damata em Paulino Neves, da Maria Lira em Bom Jesus das Selvas e de dezenas de cidades onde teremos candidaturas viáveis. Podemos fazer uma grande onda vermelha irradiar de São Luís para todo o estado! Quando tivemos isto antes no partido?Toda grande caminhada começa com o primeiro passo, ensina o provérbio chinês com Mao Tsé Tung. O primeiro passo desta grande caminhada petista estará nas mãos de sua militância neste domingo... que juntos, insisto, estejamos inspirados pela estrela do PT que sempre brilhou à favor do futuro deste país, deste estado e desta ilha rebelde!Neste domingo, em defesa do PT, reafirmemos o apoio à tese da candidatura própria do PT, votando na chapa OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER.
BIRA-PREFEITO PRA VALER !
Franklin Douglas

terça-feira, 1 de maio de 2007

Comicio de Roseana Sarney em Timom - Ma.

As imagens falam mais alto: Durante um comicio a deputada Helena Helluy divide o palanque com Sarney e sua filha que era candidata ao governo do estado.

Esta imagem é do PT que não se rende e foge á luta. Companheiros ergueram uma bandeira declarando um sonoro NÃO á Sarney.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

DESPACHO CONTRA EDINHO

DECISÃO
Vistos.
Inquérito Policial instaurado pela Polícia Federal no Estado do Maranhão contra o Senador Edison Lobão Filho e outros acusados, no qual se busca apurar eventual prática de crimes contra a fé pública e de formação de quadrilha.
Aberta vista ao Ministério Público Federal (fl. 28), este, pelo parecer da ilustre Subprocuradora-Geral da República, Dra. Cláudia Sampaio Marques, aprovado pelo ilustre Procurador-Geral da República, Dr. Antônio Fernando Barros e Silva de Souza, manifestou-se nos termos seguintes:

“1. Cuida-se de Petição oriunda do IPL n° 684/2007 – SR/DPF/MA, no qual se apura a possível ocorrência de crimes contra a fé pública e de formação de quadrilha, figurando como um dos investigados o Senador da República EDISON LOBÃO FILHO.
2. O aludido inquérito policial foi instaurado com base nas informações colhidas no Processo Administrativo MPF/MA n° 1.19.000.000377/2006-35, que compõe os 7 (sete) apensos em anexo.
3. O referido processo, por sua vez, teve origem a partir do desmembramento do Processo Administrativo n° 1.19.000.000429/2005-92. Neste surgiram indícios da existência de delitos contra a ordem tributária, de falsidade ideológica, de uso de documento falso e de formação de quadrilha. Com base no entendimento pacificado pelo Supremo Tribunal Federal, a partir do HC n° 81.611, optou-se pelo desmembramento, tendo em vista a necessidade da constituição definitiva do crédito tributário para a deflagração da ação penal referente ao delito fiscal (Despacho de fls. 1576/1578, do apenso 6).
4. Assim, o inquérito policial instaurado a partir do Processo Administrativo n° 1.19.000.000377/2006-35, autuado como PET n° 4322, destina-se, a princípio, à apuração dos delitos contra a fé pública e de formação de quadrilha. Com relação aos delitos fiscais, requisitaram-se à Delegacia da Receita Federal os procedimentos fiscais cabíveis.
5. Não obstante, convém diligenciar nestes autos acerca dos delitos tributários, promovendo-se futuro desmembramento caso o crédito não esteja definitivamente constituído.
6. Segundo o apurado, EDISON LOBÃO FILHO foi sócio- proprietário da empresa BEMAR – DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS LTDA, criada em 20 de junho de 1996 (fls. 50/52, do apenso 1), da qual se retirou, formalmente, em 30 de outubro de 1998 (fls. 41/43, do apenso 1).
7. Há indícios de que o Senador associou-se com os irmãos MARCO ANTONIO PIRES COSTA e MARCO AURÉLIO PIRES COSTA, que possuem empresas de distribuição de bebidas no Estado do Maranhão, e com estes manteve sociedade.
8. De acordo com as declarações prestadas por MARIA LUIZA THIAGO DE ALMEIDA, ex-esposa de MARCO ANTONIO e ex-sócia da BEMAR, a empresa foi criada pelos dois irmãos em parceria com EDISON LOBÃO FILHO (fls. 03/04, do apenso 1). Embora não figurassem no contrato social, MARCO ANTONIO e MARCO AURÉLIO seriam os verdadeiros sócios do Senador, empregando ‘laranjas’ na composição social.
9. Em depoimento prestado à Receita Federal, revelou, ainda, que MARCO ANTONIO e MARCO AURÉLIO tomaram um empréstimo junto ao Banco do Estado do Maranhão – BEM, em nome da BEMAR, e que EDISON LOBÃO FILHO foi o avalista do mesmo (fls. 2277/2278, do apenso 7).
10. Em 30 de outubro de 1998, EDISON LOBÃO FILHO transferiu suas cotas na sociedade para ANA MARIA DOS SANTOS e para MARIA LÚCIA MARTINS. Contudo, as assinaturas de ANA MARIA DOS SANTOS e de MARIA LÚCIA MARTINS apostas na alteração do contrato social foram falsificadas, conforme atesta o Laudo de Exame Grafotécnico de fls. 17/31, do apenso 1.
11. Constam nos autos alguns documentos que indicam ter havido, de fato, uma sociedade entre EDISON LOBÃO FILHO, MARCO ANTONIO PIRES COSTA e MARCO AURÉLIO PIRES COSTA, como por exemplo as planilhas de fls. 209, 219 e 241, do apenso 1, que tratam de um ‘acerto entre sócios’. Nesse negócio atuaria, também, NEUTON BARJONA LOBÃO FILHO, procurador de EDISON LOBÃO FILHO.
12. EDISON LOBÃO FILHO, MARCO ANTONIO PIRES COSTA e MARCO AURÉLIO PIRES COSTA seriam proprietários, também, da empresa ITUMAR DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS LTDA, igualmente criada e gerida por intermédio de ‘laranjas’ (contrato e alterações às fls. 1580/1621, do apenso 6).
13. Em alguns documentos da ITUMAR aparece o nome de EDISON LOBÃO FILHO, como, por exemplo, na planilha de fls. 621/624, do apenso 3, que trata do pro labore percebido pelos sócios, incluídos aqui MARCO ANTONIO PIRES COSTA e MARCO AURÉLIO PIRES COSTA. Outrossim, as anotações de fls. 636, do apenso 3, fazem referência a planilhas anexas, esclarecendo que estava sendo feito um ‘encontro de contas’ entre os mesmos.
14. Segundo MARIA LUIZA THIAGO DE ALMEIDA (fls. 03/04, do apenso 1), os irmãos MARCO ANTONIO PIRES COSTA e MARCO AURÉLIO PIRES COSTA criaram, além destas, outras empresas, todas em nome de ‘laranjas’, sendo que algumas, como a própria BEMAR, teriam existência ‘apenas no papel’.
15. Outro relevante elemento probatório consiste na cópia dos autos da reclamação trabalhista (Processo n° 02578/2005, da 6a Vara do Trabalho de São Luís-MA) movida por NILSON ROBERTO GIMENEZ contra a ITUMAR (fls. 314/348, do apenso 2), representada por MARCO ANTONIO PIRES COSTA e MARCO AURÉLIO PIRES COSTA.
16. O ex-funcionário foi gerente da referida empresa, no período de 17 de setembro de 2001 a 25 de janeiro de 2005, e narra uma série de ilegalidades na administração desta, incluindo o que chama de operações de ‘vendas frias’ e cobertura de cheques ‘frios’, da seguinte forma:

‘Na verdade, a Reclamada é que é desorientada e, ora está funcio­nando em nome próprio, ora em nome de outras como Pacific Co­mercio e Distribuidora Ltda (...); Ven­tura Indústria e Comércio de Bebi­das Importação e Exportação Ltda (...); e a Bemar Distribuidora de Be­bidas Ltda (...), as quais são utiliza­das, com o dinheiro das vendas dos produtos Schincariol, para a aquisi­ção de bens materiais (mesas, ca­deiras, 'freezers', geladeiras, veícu­los leves, caminhões, empilhadeiras, etc).
Essa combinação de empresas e atividades tornou, cada vez mais, a vida do Reclamante um desespero só porque a administração do pa­trimônio e financeiro da Reclamada tornou-se um verdadeiro malabaris­mo, fazendo com que uma simples administração de fluxo de caixa pas­sasse a ser um grande jogo de transferências e controles. Para sim­ples comentar, o patrimônio da Re­clamada está dividido entre outras empresas: Itumar, Bemar, Ventura e Pacific. (...)
Inobstante esses fatos, o Recla­mante sempre era voto vencido nas discussões (...) sendo obrigado a aceitar as manobras exigidas, para acomodar a contabilidade e acomo­dar as operações de 'vendas frias', que eram feitas da seguinte forma: a) usavam um cliente fictício e para este, faziam muitas vendas fictícias; b) os pagamentos eram feitos atra­vés de cheques 'frios' e pré-datados; c) os prazos de vencimento dessas vendas eram longos; d) dessa for­ma, era gerado, milagrosamente, flu­xo de capital para retirada dos sóci­os (principalmente o Senhor Marco Aurélio); e) o resultado prático dessa operacionalização desses cheques representava a entrada no movimen­to do dia e eram descontados no Banco Rural através da operação de antecipação de recebíveis; f) o pro­duto (crédito) era retirado do caixa pelos Senhores Marco Antonio Pires Costa e Marco Aurélio Pires Costa’ (fls. 321/322, do apenso 2).

17. Às fls. 986/993, do apenso 4, constam planilhas referentes à composição de capital da ITUMAR, onde há menção a contas das empresas BEMAR e VENTURA no Banco Bradesco, o que indica que a ITUMAR movimentava contas em nome das outras empresas.
18. Na aludida ação trabalhista, MARIA LUIZA THIAGO DE ALMEIDA afirmou, como testemunha, que descobriu que seu ex-marido ‘está utilizando procurações falsas para administrar as empresas, fazer transferência de recursos de uma empresa para outra e até para nomes de terceiros de outros estados, etc’. Por fim, acrescentou que ‘além da reclamada existem outras empresas que prestam serviços no mesmo ramo da venda de bebidas, entre elas: a Ventura, a Sucesso, Litoral, Marco Atacados e Bemar; que pelo conhecimento da depoente o papel dessas empresas é unicamente de lavagem de dinheiro’ (fls. 2070/2071, do apenso 7).
19. Nos memoriais apresentados, o reclamante concluiu: ‘Vê-se dos autos que a Reclamada, a fim de se eximir de outras obrigações, dividiu responsabilidades com outras empresas, podendo-se citar, dentre elas: Pacific Comércio e Distribuidora Ltda, Ventura Indústria e Comércio de Bebidas, Importação e Exportação Ltda, Bemar Distribuidora de Bebidas Ltda, e Litoral Pescados Ltda’ (fls. 2133, do apenso 7).
20. Às fls. 1206/1220, do apenso 5, constam cópias de procuração pública falsa, com data de 17 de junho de 2003, outorgada pela BEMAR, o que foi atestado pelo Cartório do 1° Ofício da Comarca de Bom Jardim, mediante a expedição de certidão [As certidões de fls. 1235 dão conta de que a procuração de fls. 1217, outorgada em favor de MARCO ANTÔNIO PIRES COSTA e MARCO AURÉLIO PIRES COSTA é falsa]. O mesmo fato, falsificação de procuração pública, já havia ocorrido em 09 de junho de 2000, consoante se infere da certidão de fls. 147, do apenso 1, quando o 1° Cartório de Notas e de Protesto de Letras e Títulos de Limeira atestou que uma procuração pública supostamente outorgada em 09 de junho de 2000 pela ITUMAR era falsa.
21. Por fim, às fls. 2284/2292, do apenso 7, consta Termo de Constatação Fiscal da Receita Federal, lavrado em 21 de dezembro de 2005, que resultou da fiscalização da empresa BEMAR – DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS LTDA. A fiscalização teve início a partir do Mandado de Procedimento Fiscal n° 03.2.01.00-2003000169-7 e, de plano, verificou-se que ‘a empresa, no entanto, não foi localizada no endereço constante do Cadastro CNPJ da SRF’ (fls. 2284).
22. Os auditores fiscais da Receita Federal concluíram que a suposta alteração contratual da mencionada empresa, em 30 de outubro de 1998, foi ‘uma farsa, com o intuito deliberado de transferir para pessoas humildes e sem poder econômico para responder, perante o fisco, pelo pagamento de impostos e contribuições’, e que os elementos juntados ao auto de infração revelam que EDISON LOBÃO FILHO e MARIA LUIZA THIAGO DE ALMEIDA continuavam sendo os sócios da empresa (fls. 2292, do apenso 7).
23. O delito de falsidade ideológica no contrato social, praticado em 30 de outubro de 1998, por ocasião da transferência de cotas da empresa BEMAR, já foi alcançado pela prescrição. Em se tratando de falsidade de documento particular, o art. 299, parágrafo único, estabelece a pena de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa, de modo que, em conformidade com o art. 109, inciso IV, do Código Penal, a prescrição ocorreu 8 (oito) anos depois, portanto, em 29 de outubro de 2006.
24. Tem-se a mesma resposta penal para a alteração do contrato social da BEMAR, em 20 de agosto de 1999 (fls. 1824/1825, do apenso 6), onde também figura no contrato MARIA LÚCIA MARTINS, a qual, conforme o exposto, teve a assinatura falsificada e afirmou nunca ter participado dessa sociedade.
25. Consta nos autos, ainda, uma posterior alteração do contrato social, em 23 de março de 2001, na qual, da mesma maneira, figura como sócia MARIA LÚCIA MARTINS. Esse delito, por sua vez, ainda não teve a punibilidade extinta.
26. Deve-se observar que tal falso pode ter produzido efeitos contra outros bens jurídicos, além dos interesses do Fisco, como, por exemplo, o patrimônio de credores, de instituições financeiras e das próprias pessoas que tiveram as assinaturas falsificadas.
27. Torna-se imperiosa, ademais, a investigação a respeito da associação mantida entre o Senador EDISON LOBÃO FILHO, seu procurador NEUTON BARJONA LOBÃO FILHO, MARCO ANTONIO PIRES COSTA e MARCO AURÉLIO PIRES COSTA, e eventuais terceiros para a prática dos delitos mencionados, incluindo os de sonegação fiscal, o que caracterizaria, em tese, o crime de quadrilha ou bando.
28. Tratando-se de crime permanente, cuja consumação se protrai no tempo [CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. Vol. 3. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 257], cumpre precisar o período em que foram sócios, identificando eventuais transferências de recursos das empresas para os investigados.
29. Como já afirmado, há indícios de que EDISON LOBÃO FILHO, mesmo após ter deixado formalmente a BEMAR, continuou, de fato, a sociedade com MARCO ANTONIO PIRES COSTA e com MARCO AURÉLIO PIRES COSTA.
30. Outrossim, é imperioso o acesso às informações colhidas pela Receita Federal na ação fiscal contra a BEMAR e ao resultado dessa fiscalização, incluindo os dados bancários” (fls. 31 a 36).

Ao final, requereu a quebra do sigilo bancário dos envolvidos, da seguinte forma:

“31. Ante o exposto, requer o Ministério Público Federal o afastamento do sigilo bancário, a partir do ano de 1996 até a presente data, das empresas BEMAR DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS LTDA, CNPJ n° 01.278.369/0001-23, e ITUMAR DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS LTDA, CNPJ n° 63.439.301/0001-36; e dos investigados MARCO ANTONIO PIRES COSTA, CPF n° 787.025.778-87, MARCO AURÉLIO PIRES COSTA, CPF n° 940.215.548-15, e EDISON LOBÃO FILHO, CPF n° 005.243.618-78.
32. Para implementar a medida, requer a expedição de ofício ao Banco Central do Brasil com os seguintes comandos, alertando-o que poderá utilizar-se do Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional – CCS (circular Bacen 3.301/2005) para acelerar a obtenção das informações:

a) informar às instituições finan­ceiras do afastamento do sigilo ban­cário de todas as contas titularizadas pelas empresas BEMAR DISTRIBUI­DORA DE BEBIDAS LTDA, CNPJ n° 01.278.369/0001-23, e ITUMAR DIS­TRIBUIDORA DE BEBIDAS LTDA, CNPJ n° 63.439.301/0001-36; e por MARCO ANTONIO PIRES COSTA, CPF n° 787.025.778-87, MARCO AU­RÉLIO PIRES COSTA, CPF n° 940.215.548-15, e EDISON LOBÃO FI­LHO, CPF n° 005.243.618-78, ainda que já encerradas, a partir de 1996, esclarecendo que elas deverão en­caminhar as informações bancárias no prazo de 15 (quinze) dias úteis ao Supremo Tribunal Federal;

b) alertar as instituições financei­ras da necessidade de que as infor­mações enviadas devem obedecer os seguintes requisitos:
b.1) que os dados sejam enviados, obrigatoriamente, no mo­delo descrito no endereço eletrônico http://bancario.pgr.mpf.gov.br;
b.2) que o campo ‘número do caso’ seja preenchido com a seguin­te referência: ‘ASSPA#000.047/2008’;
b.3) que os dados, antes da remessa, sejam submetidos ao pro­grama validador bancário, também disponível no endereço eletrônico http://bancario.pgr.mpf.gov.br;
b.4) que a instituição financei­ra encaminhe ao Supremo Tribunal Federal, além de 02 cd-roms, o rela­tório de validação e autenticação emitido pelo programa validador bancário, bem como informar no cor­po do ofício os números de Hash (código de segurança) gerados pelo próprio validador; e
b.5) que as instituições finan­ceiras encaminhem, em papel, todos os documentos de cadastro das con­tas investigadas (cadastro de abertu­ra de conta, cartão de autógrafos, documentos apresentados pelo cor­rentista e etc), assim como os extra­tos bancários, também em papel, re­ferente ao período de quebra das contas dos investigados, listadas na tabela C_Cadastro_Contas;
c) informar às instituições finan­ceiras que qualquer dúvida técnica deverá ser sanada pelos telefones (61) 3031.6130, com os Peritos Cri­minais Federais Gilberto Mendes Jú­nior e Renato Barbosa; e
d) informar às instituições finan­ceiras que as respostas negativas deverão ser enviadas diretamente ao Banco Central do Brasil, o qual, por sua vez, encaminhará a lista à esse Juízo no prazo de 15 (quinze) dias úteis.

33. O último item é relevante para evitar que uma absurda quantidade de papel inútil seja remetida todos os dias para a Secretaria desse d. Juízo, atrapalhando substancialmente o seu regular funcionamento” (fls. 36 a 38).

Requereu, ainda, as seguintes providências:

“Requer, ainda, a reautuação deste feito como Inquérito, bem como a realização das seguintes diligências:

a) oitiva, a convite, do Senador EDISON LOBÃO FILHO;

b) oitivas de MARCO ANTONIO PI­RES COSTA; MARCO AURÉLIO PIRES COSTA; MARIA LUIZA THIAGO DE AL­MEIDA; MARIA LÚCIA MARTINS; ANA MARIA DOS SANTOS; NILSON RO­BERTO GIMENEZ; das funcionárias da ITUMAR, DINA MÁRCIA DE OLIVEI­RA e “CLAUDINHA”, mencionadas às fls. 04, do apenso 1; e MARCOS AN­TONIO CUNHA (fls. 2096, do apenso 7);

c) expedição de ofício às agências n° 2121 e 1062, Banco Bradesco S.A, no Estado do Maranhão, solici­tando cópia dos documentos refe­rentes ao empréstimo tomado pela empresa BEMAR DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS LTDA, CNPJ n° 01.278.369/0001-23, que possui as contas n° 10460, 29577 em que EDI­SON LOBÃO FILHO teria figurado como avalista;

d) expedição de ofício à Junta Co­mercial do Estado do Maranhão, so­licitando cópia das alterações contra­tuais promovidas pela BEMAR DIS­TRIBUIDORA DE BEBIDAS LTDA, CNPJ n° 01.278.369/0001-23, a par­tir do ano 2001;

e) expedição de ofício à Secretaria da Receita Federal do Brasil, solicitando informações sobre o resultado da ação fiscal decorrente do Mandado de Procedimento Fiscal n° 03.2.01.00-2003000169-7 e Mandados Complementares, cuja empresa investigada foi a BEMAR DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS LTDA, CNPJ n° 01.278.369/0001-23, assim como cópia dos autos respectivos;

f) expedição de ofícios ao SPC e ao SERASA, solicitando informações sobre possível inscrição dos nomes de ANA MARIA DOS SANTOS, CPF n° 018.855.898-59, e MARIA LÚCIA MARTINS, CPF n° 281.543.393-15, por decorrência de dívida contraída em benefício da BEMAR DISTRIBUI­DORA DE BEBIDAS LTDA, CNPJ n° 01.278.369/0001-23;

g) expedição de ofício ao Cartório do 3° Ofício de Notas da Comarca de São Luís-MA, para que ateste a existência da procuração suposta­mente lavrada em 28 de janeiro de 2004, no livro 0395, folhas 166, ato 011900, sendo outorgante MARIA LUCIA MARTINS (fls. 1208, do apen­so 5);

h) expedição de ofício ao Cartório Celso Coutinho – Segundo Ofício de Notas da Comarca de São Luís-MA, para que ateste a existência da pro­curação supostamente lavrada em 31 de janeiro de 2006, no livro 644, folhas 115, sendo outorgante MARIA LUCIA MARTINS (fls. 1209, do apen­so 5);

i) expedição de ofício ao Tribunal de Justiça do Maranhão, para que informe o histórico de possíveis ações de cobrança contra as empre­sas BEMAR DISTRIBUIDORA DE BE­BIDAS LTDA, CNPJ n° 01.278.369/0001-23, e ITUMAR DIS­TRIBUIDORA DE BEBIDAS LTDA, CNPJ n° 63.439.301/0001-36” (fls. 38 a 41).

Enquanto analisava os pedidos de quebra de sigilo bancário dos investigados e demais diligências formulados pela Procuradoria-Geral da República, em 31/7/08, o Senador Edison Lobão Filho, ora investigado, apresentou questão de ordem (Pet./STF nº 105456/08), pela qual alega, em síntese, a prescrição da pretensão punitiva relativamente a diversas infrações a ele imputadas e a ausência de justa causa para a instauração de inquérito policial.
Decido.
Pretende o requerente o prematuro trancamento do inquérito, sob a alegação de que existem óbices ao prosseguimento das investigações, sem razão, contudo.
Com efeito, sequer existe denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal e as diligências requeridas pelo Parquet têm, justamente, o objetivo de elucidar os fatos até então apurados no procedimento administrativo-fiscal referido, sendo certo que as questões sobre a prescrição e a ausência de justa causa para a ação penal serão analisadas após o oferecimento da denúncia.
O trancamento de inquérito constitui medida excepcional, justificada apenas quando o fato narrado não constituir crime (art. 43, inc. I, do CPP), a parte for manifestamente ilegítima (art. 43, inc. III, do CPP), não houver prova suficiente (art. 43, inc. III, do CPP), quando já estiver extinta a punibilidade (art. 43, inc. II, do CPP) ou faltar condição específica de procedibilidade ou pressuposto processual impeditivo da relação processual, o que não se verifica na hipótese presente. Desde que presente razoável suspeita a propósito do comportamento do indiciado e das demais pessoas investigadas, a persecução penal é conseqüência natural que se impõe, segundo a norma do art. 6º do Código de Processo Penal.
Sabe-se que o inquérito é um procedimento administrativo, inquisitorial, destinado a investigar a notícia da existência de uma infração penal, fornecendo elementos de convicção para a formação da opinio delicti do órgão acusador, titular da ação penal, a fim de evitar acusações infundadas. É por isso que eventuais questões impeditivas da persecução penal serão analisadas quando do recebimento da denúncia. É na denúncia que são fixados os limites da ação penal e os fatos pelos quais deverá se defender o denunciado.
De resto, é firme a jurisprudência consagrada por esta Corte Suprema no sentido de que o trancamento de ação penal ou investigação policial em curso só é possível em situações excepcionais, quando estiverem comprovadas, de plano, a atipicidade da conduta, causa extintiva da punibilidade ou ausência de indícios de autoria (HC nº 90.320/MG, Primeira Turma, Relator o Ministro Marco Aurélio, DJ de 25/5/07; HC nº 87.324/SP, Primeira Turma, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJ de 18/5/07; HC nº 85.496/SC, Primeira Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJ de 8/9/06; HC nº 86.583/SP, Segunda Turma, Relator o Ministro Eros Grau, DJ de 27/4/07; HC nº 85.066/GO, Segunda Turma, Relator o Ministro Carlos Velloso, DJ de 20/5/05; entre outros).
De qualquer modo, quanto ao pedido de trancamento do inquérito, sob a alegação de que há “... impossibilidade de instauração de inquérito policial para a apuração de fatos relacionados como infrações tributárias na pendência de processo administrativo-fiscal...”, não tem razão o ora requerente, porquanto a investigação não tem como foco a prática de delito fiscal, mas a presença de falsidade documental na transferência de titularidade de empresa na qual o indiciado figurava como sócio. Não se pode confundir o crime referente à sonegação fiscal com o de falsidade.
Ademais, o pedido de diligência junto à Secretaria da Receita Federal visa obter informações sobre o atual andamento processual do procedimento administrativo-fiscal nº 03.2.01.00-2003000169-7 e Mandados Complementares, cuja empresa investigada foi a BEMAR DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS LTDA., CNPJ n° 01.278.369/0001-23, sem, contudo, haver qualquer imputação ao indiciado sobre o delito previsto no art. 1º da Lei nº 8.137/90.
Ressalto, ainda, por oportuno, que, no que concerne à alegada prescrição de alguns fatos imputados ao indiciado, o Ministério Público reconheceu, em seu parecer, que:

“23. O delito de falsidade ideológica no contrato social, praticado em 30 de outubro de 1998, por ocasião da transferência de cotas da empresa BEMAR, já foi alcançado pela prescrição. Em se tratando de falsidade de documento particular, o art. 299, parágrafo único, estabelece a pena de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa, de modo que, em conformidade com o art. 109, inciso IV, do Código Penal, a prescrição ocorreu 8 (oito) anos depois, portanto, em 29 de outubro de 2006.
24. Tem-se a mesma resposta penal para a alteração do contrato social da BEMAR, em 20 de agosto de 1999 (fls. 1824/1825, do apenso 6), onde também figura no contrato MARIA LÚCIA MARTINS, a qual, conforme o exposto, teve a assinatura falsificada e afirmou nunca ter participado dessa sociedade.
25. Consta nos autos, ainda, uma posterior alteração do contrato social, em 23 de março de 2001, na qual, da mesma maneira, figura como sócia MARIA LÚCIA MARTINS. Esse delito, por sua vez, ainda não teve a punibilidade extinta” (fls. 35/36).

Ante o exposto, indefiro o pedido de trancamento do presente Inquérito.
Passo, portanto, à análise dos pedidos formulados pelo Ministério Público Federal.
Inicialmente, determino a reautuação deste feito como Inquérito.
No que concerne ao pedido de quebra do sigilo bancário das empresas BEMAR DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS LTDA., CNPJ n° 01.278.369/0001-23, e ITUMAR DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS LTDA., CNPJ n° 63.439.301/0001-36; e dos investigados MARCO ANTONIO PIRES COSTA, CPF n° 787.025.778-87, MARCO AURÉLIO PIRES COSTA, CPF n° 940.215.548-15, e EDISON LOBÃO FILHO, CPF n° 005.243.618-78, entendo que essa providência se mostra pertinente e necessária à investigação dos fatos, especialmente pelo que foi relatado pelo Parquet Federal relativamente às movimentações bancárias de outras empresas através das empresas ora investigadas e pelos indícios de que o Senador Edison Lobão Filho, mesmo após ter deixado formalmente a BEMAR, continuou, de fato, a sociedade com Marco Antônio Pires Costa e com Marco Aurélio Pires Costa.
Diante da situação concreta, defiro a quebra do sigilo bancário das pessoas jurídicas e das pessoas físicas acima relacionadas, nos termos preconizados nos subitens “a” a “d” do item 32 do parecer (fls. 37 a 38).
Defiro, ainda, as diligências requeridas às fls. 38 a 41, que deverão ser cumpridas da forma seguinte:

- Oficiem-se, conforme requerido nos itens “c” a “i” (fls. 39 a 41);
- A baixa dos autos à Superintendência da Polícia Federal do Distrito Federal, para que, no prazo de 30 dias, providencie a oitiva, a convite, do Senador da República Edison Lobão Filho;
- Após, encaminhem-se os autos à Superintendência Regional de Polícia Federal no Maranhão, para a oitiva das pessoas mencionadas no item ”b” do pedido, também no prazo de 30 dias.

Intime-se.

Brasília, 1º de agosto de 2008.

Ministro MENEZES DIREITO
Relator