sexta-feira, 1 de junho de 2007

Letra "N"

N
NAMOROS
[ Eu tenho a sorte de ter bons amigos e muitos namorados. Às vezes,
quatro, separados ou no mesmo lugar, mas
very safe [muito seguro].
(1993)
[ Nunca tive namoro, na verdade. A não ser a Luiza, quando eu
tinha 11 para 12 anos, na Ilha do Governador. Mas não era uma
coisa de namoro exatamente — era de troca. Porque eu era gay. Eu
sou gay, entendeu? (1995)
NIETZSCHE
[ O super-homem é o homem espiritual, aquele que tira o sentido e
o valor de si, de seus atos. Como Nietzsche disse que o homem
estaria para o super-homem assim como o macaco está para o homem,
eu vejo a mesma coisa em Jesus Cristo, por exemplo. Na verdade,
Nietzsche é um homem à procura de um deus. Um deus que não é o
Deus cristão. (1988)
NIRVANA
[ O Nirvana está naquela linhagem indispensável da história do rock,
como Elvis, os Beatles e o Sex Pistols. (1996)
NOVA YORK
181
[ Eu tinha morado em Nova York há muito tempo, quando era
pequeno. E nunca mais tinha saído do Brasil. Eu ficava meio temeroso
de ir com pouco dinheiro. Eu não vou para Nova York viver
After
hours [
Depois de horas, filme de Martin Scorsese]! Mas recebemos
um bom adiantamento da gravadora pelo disco
As Quatro Estações
e achei que era a hora certa. Principalmente, porque não estava
agüentando aqui no Brasil. Estava muito, muito, muito pesado para
mim. Então, eu fui para morar lá como eu moro aqui. Não fui para
ver
Cats na Broadway! Aluguei um apartamento pequeno, fui
montando uma biblioteca, comprei um aparelho de som por 300
dólares, comprei todos os meus discos favoritos e ficava lá, assistindo
à Ty saindo, indo ao cinema. Mas, basicamente, o que fui fazer lá —
e em São Francisco — foi entrar em contato com Christopher Street
e com o Castro
[uma rua e um clube, respectivamente em NY e SF,
pontos de encontro gay].
Era uma coisa que eu estava precisando
fazer há muito tempo. Eu estava precisando me assumir há muito
tempo... É o que se chama
coming out... Quer dizer, eu já estava out
of the closet
há muito tempo. Qualquer pessoa que ouvir Soldados e
tiver um pouquinho de sensibilidade... (1990)
[ A primeira coisa que eu fui ver em Nova York foi Christopher
Street. Só que está difícil. Os caras já não andam mais de mãos dadas
na rua. Em São Francisco, estavam mais soltos. Mas continua sendo
uma comunidade... Nos Estados Unidos, têm os guetos,
perigosíssimos, como os judeus na Polônia: "Estamos seguros, não
é?". Não estão, não. Se você se fecha... É o problema do Harlem:
branco não entra, mesmo. Há clubes gay pesadíssimos, com aquele
som, os caras de couro preto dos pés à cabeça, vestidos de nazistas.
Eu, morrendo de medo, e um amigo meu, dizendo: "Não se preocupe,
são todos legais. Quanto mais cara de mau o sujeito tem, mais
manteiga derretida ele
é". E eu ia acreditar nisso? Ha, ha, há... Aí,
outro dia, estava passando um filme com a Bete Davis — nunca vou
me esquecer —, e os caras chorando, cora aquelas roupas e tudo. É
uma carapuça que eles colocam, a hipermasculinidade. Que surpresa!
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entrar e sair desses lugares, corre perigo de vida. (1990)
NOVIDADE
[ Infelizmente, aqui no Brasil, o público gosta muito de novidade.
Se você não tiver novidade, você cai para escanteio. O que pintou
no Brasil, numa época, foram artistas talentosos que tinham alguma
coisa nova para dizer, de uma maneira supercriativa e superbela. Não
conseguiram, justamente, segurar isso, ficaram na mesma linha, e
acabaram sendo jogados de lado. E, aí, acontece o quê? Acontece o
rock novidade, e pegou espaço. Agora não pensem que a gente não
está preocupado. Eu converso com o Herbert
[Viana, dos Paralamas
do Sucesso]
e a gente está se cagando nas calças, porque a gente não
sabe o que vai acontecer. Eu estou sentindo uma pressão muito grande
por parte de todo mundo, principalmente em cima da Legião Urbana,
porque está todo mundo esperando justamente que a gente faça uma
coisa nova. Mas será que cinco, seis, sete anos depois, eles vão
assimilar uma coisa que vai refletir o meu momento atual, ou o
momento atual do Herbert no próximo disco dele? (1985)
NUANCES DO CANTO
[ O rock'n'roll pede sempre guitarra distorcida, tem sempre um
certo ritmo, é uma outra forma de cantar. E o Bonfá toca muito alto,
eu estou lá com o microfone, eu estou lá, berrando, que nem a Janis
Joplin. Ao passo que, se eu uso um quarteto de cordas, ou um
acompanhamento musical mais suave, fica mais fácil de perceber
nuances da voz, a gente pode brincar um pouco mais com a
interpretação. Uma canção romântica, naturalmente, também vai
exigir um outro estilo de interpretar. Eu não estou lá, assim, falando
e gritando, não é uma coisa tão dinâmica. Quer dizer, é dinâmica,
mas, por ser romântica, você pode modular muito mais a voz. E
existe toda a tradição dos cantores românticos. Eu remeto, talvez, a
um Chico Alves, a um Orlando Silva, que têm aquela coisa bonita
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que, neste disco
[Equilibrio Distante], eu esteja cantando melhor ou não.
Sinceramente, não. Eu acho que o repertório é que possibilita à pessoa perceber muito
mais. Eu gosto muito do trabalho com a Legião, mas mesmo uma música romântica
da Legião é mais rascante, é mais gritada. (1995)
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