sexta-feira, 1 de junho de 2007

Letra "U"

ÚLTIMA ENTREVISTA
[ Esta matéria é sobre a Legião Urbana. Não se esqueça, por favor.
Ninguém vai ter isso no mundo. Quer dizer, agora eu estou exagerando
que nem uma bicha boba. Mas, faz e você vai ganhar leitores com esta
entrevista. Porque, como você mesmo disse, têm o
off e o on dos fãs.
Então, isto é tudo. Palavras, são todas palavras verdadeiras... porque
saíram da minha própria boca. Eu quero que essas pessoas que se
preocupam comigo que vão às favas; que elas se preocupem com a minha
música. Se alguma coisa vai ficar, vai ser a minha música — a nossa
música, o nosso trabalho. Então, se estou bem ou se estou mal, vá tomar
no cu! Eu posso estar ótimo, mas, se aparecer na minha frente, me dá
três calmantes porque, senão, eu vou te dar uma porrada, entendeu?
Psicótico maníaco-depressivo. (1996)
[ Eu sou a pessoa mais otimista do mundo, querido! Senão, eu não
estava aqui dando entrevista, trabalhando e tentando construir um
futuro. A minha esperança é de que esta entrevista seja um prazer para
os leitores, trazendo nova informação, esclarecendo uma série de pontos
e colocando mais em evidência certos pontos que eu não tive chance e
não tenho onde esclarecer e falar. (1996)
ÚLTIMA PESSOA QUE LEVARIA PARA A CAMA
[ Paulo Francis. (1994)
UNIVERSALIDADE
A gente tenta alcançar, e nunca consegue. A questão central é o tempo.
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O tempo passa e você vê que os modernistas estão assimilados. Um quadro cubista,
por exemplo, não vai surpreender, mas eu duvido que
uma pessoa tenha realmente a essência básica para entender aquilo. Tenho dificuldade
para entender certos quadros abstratos. Prefiro o
naif, que veio com a pintura moderna,
algo ingênuo, aquelas casinhas. Isso eu entendo. Um artista como Andy Warhol é
moderno, mas o que ele faz é super-simples, todo mundo entende. Claro que precisou
ter um tempo para você saber o que são aquelas latas de sopa que ele retrata. O simples
atinge mais o coração das pessoas do que algo abstrato, embora os meios de comunicação
de massa façam coisas cheias de signos. As pessoas, hoje em dia, têm a capacidade de
entender as coisas muito mais rápido que antigamente. Ainda sou pelo mais simples.
(1988)
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UnB)
[ Eu, na verdade, nunca me liguei em nada de política, e um dos motivos
que me levaram a entrar mais fundo no rock'n'roll foi o pessoal da
UnB, o pessoal supostamente politizado. Porque eles eram um bando
de fascistas... Eram muito legais, idéias muito legais, mas, se você não
agisse como eles, não te aceitavam. Então, eles ficavam ouvindo Milton
Nascimento e Fagner e discutindo Marx, defendiam o negro, o
homossexual, os pobres carentes, mas eram muito fechados entre si.
Na época — 76, 77 —, a garotada estava na moda discoteca ou, então,
fazia o tipo "barba, óculos e bolsa". E eu andava com um casaco de
couro escrito
hate and war [ódio e guerra], todo rasgado, mesmo vindo
da classe média. E ninguém entendia, a gente fazendo aquela zoeira e
cantando Que
país é este. Nos chamavam de colonizados,
americanizados, mas as músicas eram as mesmas que agora viraram hinos
de protesto. (1988)
UNS E OUTROS
[ O que mais me incomoda não é nem a mídia, mas o receio de que o
público coloque tudo no mesmo saco. Se eu desconfiar que tem um
garoto que não sabe a diferença entre Legião Urbana e Uns e Outros, aí
eu vou ficar realmente preocupado. Já imaginou alguém não perceber a
diferença entre Titãs e Inimigos do Rei? As pessoas não percebem que
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estamos trabalhando para caramba, e acham que rock'n'roll é fazer versão de David Bowie
e aparecer no
Globo de Ouro. Ou fazer copiazinha de música de generais, como aquela
horrorosa do Uns e Outros. Não tenho nada a ver com aquilo. Já fiz coisas parecidas
quando era mais jovem, mas, quando você é jovem, realmente faz certas asneiras. Mas
aparecer na Xuxa cantando aquilo? Até a próxima geração, nós somos realmente a última
geração. (1989)
'URBANA LEGIO OMNIA VINCIT'
[A Legião Urbana tudo vence]
É nosso lema, tipo "um por todos e todos por um". É uma pequena superstição
nossa. Todo disco tem que ter uma faixa em que o Dado não toca e vir isso escrito em
algum lugar. É garantia de sucesso. (1994)
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[ Eu escrevi
em A montanha mágica: "Sou meu próprio líder, ando em
círculos". O que eu quis dizer com isso? Não sei exatamente. Quero
que as pessoas me digam o que entenderam. Acho que existem várias
leituras para este disco e para as palavras que estão nele. São palavras
simples, é um vocabulário básico, mas há coisas para descobrir. (1991)
[ Sempre gostei muito da coisa do
stream of consciousness [fluxo de consciência]. Se
você quiser uma definição para o disco, pode dizer que é mitológico, medieval. Tenho
fascinação por aquelas histórias de cavaleiros da távola redonda. Mas é tudo com a
cara da Legião Urbana. (1991)
[ O disco tem umas coisas medievais, uns instrumentais. O primeiro lado é uma
viagem. Vão dizer assim: "Legião repete fórmula e lança disco progressivo". (1992)
[ Acho que é um disco bom para namorar, para fumar um... Mas não deixa de ser
Legião. A gente sempre é meio brega. No primeiro disco, a gente ainda tinha uma
certa virulência. Agora, em vez de ficar reclamando, a gente faz uma música
totalmente linda, dizendo que o mundo está uma merda... (1992)
O
V é um disco de transição, porque eu comecei a fazer análise. Não
tenho mais aquele
angst de jogar tudo nas letras. Sei lá. E a primeira vez
que eu tenho certeza de que as letras são boas, mas eu não sei se gosto.
Antes, eu gostava, mas não sabia se estava bom. (1992)
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