sexta-feira, 1 de junho de 2007

VAIDADE
[ Embora me considere um artista, não considero o que a gente faz arte com "A"
maiúsculo. Talvez esta seja a maior das vaidades: a falsa modéstia. (1988)
VENDAGEM
[ Na gravadora, ninguém dava nada pela banda. Só que o primeiro
disco vendeu, na época, 50 mil cópias. Mas a grande virada foi no
Dois.
Todo mundo esperava punk rock de Brasília, e a gente chega com uma
balada de cinco minutos com violão, voz e pandeiro, falando de um
casal
[Eduardo e Mônica]. Quiseram derrubar, mas, como já tinham
errado na primeira vez, a gente insistiu em fazer do nosso jeito. E o
disco vendeu quase um milhão de cópias. Este ano, nós vendemos 150
mil discos, só com material de catálogo. (1995)
[ Pode até parecer uma coisa antipática eu estar falando isso, mas eu
não fico numa de fazer um disco para vender um milhão de cópias. Eu
vou fazer um disco para ouvir em casa e não ficar com trauma... Eu,
pelo menos, penso assim. Se eu não tenho a certeza de que a gente pelo
menos tentou fazer o melhor... No dia em que deixar passar alguma
coisa, se alguém criticar, eu vou ficar: "Vai ver que o disco é uma..."
(1995)
[ Eu não sabia, por exemplo, que meu CD em italiano
[Equilíbrio
Distante]
poderia chegar à platina-dupla —já está chegando a 450 mil
cópias. Nunca imaginei! Ao passo que o
Stonewall eu pensei que fosse
ter um desempenho melhor, mas houve problemas de distribuição, e
ninguém encontrava o CD nas lojas. (1996)
'VERANEIO VASCAÍNA'
[música gravada pelo Capital Inicial]
[ Era a época da redemocratização. Era tudo tão louco, nem eles sabiam
o que era; implicavam com todo mundo. A Colina, que era nossa base
bem no comecinho, era também a residência dos professores da UnB
— gente da esquerda, que não podia falar... E, volta e meia, vinham as
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joaninhas. Não, não eram nem joaninhas; era veraneio mesmo. Essa história de
Veraneio
vascaína
é por causa disso. Eles entravam na universidade, aquelas coisas de bater em
estudante etc. (1989)
VIDA PESSOAL X VIDA ARTÍSTICA
[ Eu tento ser sincero, o que não quer dizer que eu sou verdadeiro em
tudo. Ao mesmo tempo, eu gosto de deixar bem claro que são apenas
canções, é apenas um show. A vida das pessoas, a vida da gente é outra
coisa, mais importante. É aquilo: você não pode acreditar numa novela
que você vê na televisão. Um livro, uma novela, uma expressão artística
qualquer pode até mudar a sua vida, mas não é a sua vida. A sua vida, a
gente sabe, é acordar todo dia, ir trabalhar, conviver com as pessoas de
que a gente gosta, é enfrentar o mundo que, às vezes, é muito difícil.
Então, existe essa separação. Isso é uma coisa que eu deixo bem claro,
talvez até me esquivando um pouco dessas responsabilidades que eu
teria que cumprir. Por exemplo: eu faço menos show do que as pessoas
gostariam, eu faço menos televisão do que as pessoas gostariam, porque
eu prefiro concentrar tudo no meu trabalho de compositor, de músico.
E deixar, então, a coisa rolar. Eu prefiro que as pessoas interajam com
as músicas, ao invés de elas projetarem na minha pessoa o que elas
percebem das canções. Já no começo da nossa carreira, as pessoas
começaram a confundir as minhas músicas com o que eu sou. E eu,
sinceramente, não sei direito ainda quem eu sou. Mas eu sei exatamente
como a canção foi escrita e por que foi escrita. Eu acho que tem que ter
uma separação aí. Senão, vira aquela coisa do John Lennon, de ter um
fã maluco
[Lennon foi morto a tiros por um fã, em 1980], ou, então, de
as pessoas encontrarem a Beatriz Segall na rua e quererem bater nela
porque ela é Odete Roittman
[personagem da novela Vale tudo]. Não
pode. Tem que separar o trabalho. Com isso eu tomo um certo cuidado,
inclusive para me preservar e para preservar o público. (1995)
VIDEOCUPES
[ Eu não respeito muito vídeo, que é só uma peça promocional. Não é
arte, é anúncio. É para vender a música, o disco. (1994)
[ Eu detesto fazer clipe. A Legião Urbana tem só três ou quatro
videoclipes, todos horriveizinhos. A MTV vive implorando para a gente
fazer mais. (1996)
[ Rapaz, no dia em que a gente fizer vídeo, vai ter série na Globo: O
dia em que a terra tremeu!
(1996)
[ Nós levamos nossa displicência muito a sério! Então, não me peça
para fazer clipe, que eu não vou fazer. Me deixa quieto em casa. (1996)
VÍDEOS
[ Ah, eu gosto de ver vídeos... Eu adoro filme de terror. Em geral, eu
gosto muito de produções americanas desconhecidas e de filmes ingleses.
E filmes que têm aquela coisa humana — eu gosto muito do Renoir e
do Truffaut. Truffaut é o máximo. Sabe, o
Jules e Jim, que é bem-feito
e te mexe por dentro. Eu gosto do Spielberg, se bem que ele pega isso
e faz aquela parafernália. (1986)
'VINTE E NOVE'
[faixa do disco O Descobrimento do Brasil]
[ Não pense "Ah, que maravilha; que bacana, ele tomou heroína"! Não
é, não. É horrível. Eu perdi amigos. Em
Vinte e nove, eu falo exatamente
disso: "Perdi 20 em 29 amizades, por conta de uma pedra em minhas
mãos". Eu andava sempre com uma pedra em minha mão. A pessoa
chegava, supertranqüila, gentil e tudo, e eu pegava a minha pedra e...
"Brrr, sai da minha frente!" (1994)
VIOLÃO
[ Eu pensei que o professor de violão que meus pais iam me arrumar
não iria ser rock'n'roll, mas, por sorte, era um jovem. Era um cara de 24
anos que tinha uma supercoleção de discos importados e, para ganhar
uma graninha, dava aulas. Eu fui lá e me apaixonei perdidamente pelos
discos, por ele, pelo lance de estar aprendendo violão. Na primeira aula,
aprendi
Angie, dos Rolling Stones. Naturalmente, depois da terceira
aula, eu ia lá só para ouvir discos. De uma certa forma, isso foi validado
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pelos próprios punks. O tempo que eu gastei me informando e ouvindo as coisas me
valeu muito mais do que se eu tivesse aulas de violão. Porque pegava aqueles três
acordes de
Angie e a gente fazia música mesmo. (1989)
VIOLÊNCIA
[ Eu acho que a questão da violência é uma questão do planeta. A
humanidade é violenta. Mas, quando o Estado consegue fazer com que
o cidadão se sinta útil, quando o cidadão confia no Estado, esses
momentos de violência ficam mais esparsos. Sobe a violência do
psicótico, a do ladrão, mas não é uma violência contra o cidadão. No
Brasil, essa violência contra o cidadão, além de ser traduzida como
violência, como na Rocinha ou nos jogos de futebol, envolve a agressão
ao cidadão, no sentido de você não ter uma base, uma segurança. A
questão da inflação, a própria Constituinte não resolvida. Quando a
perplexidade se confronta com ela mesma, numa ocasião de festa como
o show da Legião Urbana, num lugar onde ela é naturalmente exacerbada
por causa da proximidade do poder e das próprias características de
Brasília como cidade — ou seja, um feudo cercado de Brasil por todos
os lados —, a coisa se torna realmente uma panela de pressão. (1988)
[ Quando os Titãs cantam
Porrada no Rio ou em São Paulo, as pessoas
vão ter o
background necessário para saber qual é o código que está
sendo usado. O código é justamente utilizar a violência não para inspirar
as pessoas, mas para se inspirar na violência. Você não está incitando.
Mas o material usado para se expressar são justamente as coisas violentas
que você vê. Trabalhar isso e fazer disso — no caso, eu não diria arte,
porque, para mim, consumo de massa não é arte — expressão. Quando
os Titãs cantam
Porrada, quando Lobão canta "Sangue e porrada na
madrugada", quando o Cazuza canta "Eu quero uma ideologia", a gente
não está necessariamente incitando à violência, a gente está expondo
uma situação, dando nossa interpretação do fato. (1988)
[ A violência me preocupa porque tenho família, amigos... Às vezes, nem me
preocupo tanto comigo, mas há pessoas de que gosto e não desejo vê-las sofrer.
(1991)
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[ O mundo todo está assim. Tenho cara de judeu e turco. Se eu for
para a Alemanha, serei atacado pelos
carecas, estou frito. Acho que é
uma coisa de fim dos tempos. (1994)
[ Decidi tomar outras atitudes, em vez de ficar pensando na violência.
Pode parecer demagogia, mas, quando parei de me drogar, resolvi me
limpar por inteiro. Não vou ficar falando de Operação Rio e ficar
reclamando. Tento ter amizades verdadeiras, tento ser verdadeiro.
Acredito em vibrações, e creio que essa é uma forma de contribuir
também. (1995)
VOTO
[ Vou votar no Roberto Freire, um comunista ateu. (1989)
Eu voto nulo. Eu sempre voto nulo. A última vez em que eu votei foi para o Roberto
Freire, no primeiro turno. Aliás, me deu uma raiva daquela coisa de voto útil! Se todo
mundo que queria votar no Roberto Freire tivesse realmente votado, ele tinha
chegado pelo menos no segundo lugar. Mas, "não vamos votar em não sei quem"... Desde
quando as pessoas sabem prever o futuro? Se houver algum candidato com o qual eu
me identifique, eu chego e voto. Mas eu sempre voto nulo. Nulo! (1994)
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