SACRIFÍCIO
[ Os artistas pelos quais eu faria sacrifício para vê-los, hoje em dia,
acho que eu não precisaria fazer, porque seriam o Jesus & Mary Chain
e The Cowboy Junkies, que nunca vão ter um público de estádio. Desses
de ginásio, acho que o Prince e o Bowie. Eu vou a shows assim, mas, por
exemplo, o Paul McCartney veio, me deu uma birra e não fui. Às vezes,
eu fico assim: "Vai ter tanta gente lá! É meu ídolo especial, eu quero
estar só eu lá, assistindo". Se eu puder ir numa boa, e se eu sentir que a
galera está legal e tudo, eu vou. Mas, às vezes, fica todo mundo: "Renato,
Renato, autógrafo". Aí, eu não posso assistir. (1994)
SALVAÇÃO
[ Eu não falo porque eu queira salvar ninguém; eu falo porque eu gosto.
Quem sou eu para salvar alguém? Eu é que tenho que me salvar. (1987)
SÃO PAULO
[ Eu era o empresário da banda e não sei por que cargas d'água viemos
para o Rio e aqui ficamos sabendo de algumas casas noturnas em São
Paulo. E eu entrei em contato com o pessoal de lá — lembro que ficava
horas e horas falando com a Fernanda
[empresária da Legião Urbana
durante um tempo e atual mulher de Dado],
e ela já conhecia muitas
bandas. Porque, mesmo entre as pessoas que sabiam de certas bandas,
havia algumas — como Young Maible Giants, minha favorita — que
pouca gente conhecia. E pintou uma superempatia, pois a Fernanda
tinha morado em Nova York. Bem, e assim armamos apresentações em
231
São Paulo. Acho que eles gostavam, porque até hoje temos amigos lá. Se fôssemos uma
banda ruim mesmo, não deixariam a gente tocar no circuito todo que fizemos:
Woodstock, Clash, Paradise etc. Era bacana, porque tinha uma galera que sempre ia
aonde a gente tocava. (1989)
[ Eu nunca tinha percebido o lance de cidade mesmo, desemprego...
Isso me espantava muito. A gente morava bem e, em São Paulo, fomos
parar lá no
bas-fond, na sujeira. A Fernanda morava perto da Praça da
República e era aquela coisa: você abria a porta da geladeira do
apartamento de um cara e lá tinha só um litro de vodka. Coisa de
junkie!
E eu: "Mamãe! Eu quero a minha mãe!". Era fogo, porque, gozado, a
gente estava acostumado a acordar de manhã, geladeira cheia e, em São
Paulo, íamos tomar um chocolate no boteco e falávamos: "Moço, põe
mais um pouquinho de Nescau!". E ele: "Não, tem de pagar mais tantos
cruzeiros". E a gente: "Por favor!". Vivíamos assim, de iogurte,
on the
road
mesmo, dormindo no chão, super emocionante. (1989)
[ Poxa, como o pessoal ajudou a gente! Principalmente em São Paulo.
Ajudaram com equipamento, com lugar para ficar. Hoje deve estar
totalmente diferente. Às vezes, alguém me liga: "Renato, estou com
uma banda e tudo". E eu fico pensando: "Que pena que não é mais
como antigamente!". Tinha muita briga — o pessoal de São Paulo brigava
muito entre si. Tinha a história das mulheres dos Titãs, que brigavam
não sei com quem etc. Mas, em relação às bandas de fora, o pessoal era
amigo de todo mundo. O pessoal do Azul 29 ajudou a gente para
caramba. Até as coisas menores, como pagar um
milk shake ou dar uma
carona para tal lugar. Ou explicar um pouco como funcionava a cidade.
Eu lembro das pessoas falando: "Olha, não liga, não. São Paulo é assim
mesmo!". E a gente andando de metrô — parecia que estávamos na
Alemanha. Porque em Brasília morávamos com os nossos pais. Éramos
rebeldes e tal, mas domingo, três da manhã, voltávamos para casa. Em
São Paulo, foi a primeira vez que tivemos contato com jovens da nossa
idade que moravam sozinhos, que tinham um emprego, que tinham sua
própria casa, sua própria vida, e ninguém mandava neles. Isso foi um
lance muito importante para a gente. Ficávamos até sem graça de fazer
certas coisas — uma coisa é você se rebelar em Brasília contra seus pais,
e outra é você em São Paulo. Vamos nos rebelar contra o quê? (1989)
232
[ Lembro de quando a gente foi para São Paulo a primeira vez. Eu
fiquei morrendo de medo: "Ih, olha, punk de verdade!". E a gente ficava
olhando assim, aquelas pessoas com nariz furado e tudo. E, de repente,
a gente descobriu que eles também achavam a mesma coisa da gente:
"Ih, olha esses caras de Brasília! Ih, meu irmão, esses caras são barra
pesada". E era tudo jovem se divertindo, entende? (1994)
SAPATOS
[ Tênis ou bota. (1994)
'SE FIQUEI ESPERANDO MEU AMOR PASSAR'
[faixa do disco As Quatro
Estações]
[ É uma situação onde a pessoa já levou tanta porrada que nem sabe...
"E me via perdido e vivendo em erro/Sem querer me machucar de
novo/Por culpa do amor". Quando eu estou apaixonado, fica tudo uma
maravilha. Mas tem que ser uma relação resolvida — a relação
complicada, complexa e confusa deixa você mal de cabeça e realmente
negativo. A música termina com aquela parte da liturgia católica cristã:
"Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo/tende piedade de
nós/Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo/dai-nos a paz".
Depois é que percebemos que Cazuza já tinha feito uma colocação
parecida, no
Blues da piedade. (1990)
'SEND IN THE CLOWNS'
[do disco The Stonewall Celebration Concert,
composta por Stephen Sondheim]
[ Esta música é a coisa mais brega que existe. É uma canção típica
daqueles bares gays, e têm aqueles atores desempregados, um piano, e
eles cantam
"Send in the cloums", "The man I love"... E, depois, entra
aquela marchinha tipo Fellini, mas é uma marcha militar, que remete
para o ressurgimento do fascismo. (1994)
SENSACIONALISMO
[ É preciso distinguir entre informação e sensacionalismo. Toda
233
informação que você quiser sobre a Legião está nos discos. Claro que existe uma
curiosidade. Eu mesmo gosto de saber como é a vida do Axl Rose, mas não deixo isso
dominar a minha vida. E nós vivemos numa sociedade em que não existe diferença entre
a nossa vida e a das outras pessoas. (1992)
SENSIBILIDADE
[ Eu sempre tive um espírito sensível e sempre tive que me comportar
de uma maneira. De repente, aquilo estava me fazendo mal. Minha
dependência de drogas tinha a ver com isso. Eu pensava: "Será que vou
ter que ficar uma tia velha, será que eu vou ter que ficar sozinho? Será
que tenho que desmunhecar, será que sou uma bicha louca?" (1994)
SENSIBILIDADE GAY
[ Por uma grande coincidência, uma semana antes de viajar
[para Nova
York, onde foi buscar informações sobre Stonewall]
, eu fui na Leonardo
da Vinci
[livraria carioca especializada em importados] e perguntei:
"Vocês não tem livro gay aqui, não?". Um deles era justamente um que
eu estava atrás há um tempão: chama-se
The gay spirit. É uma teoria
assim... Existem duas facções: tem o pessoal que diz que a galera é
totalmente diferente das outras pessoas e têm os que dizem que somos todos iguais, e
que é só uma questão de opção sexual. O que este livro coloca é que existe uma
sensibilidade diferente da sensibilidade heterossexual e que, ao contrário do que se
pensa, na cama é igual. O cara transa com outro cara, a mulher transa com outra
mulher. Fora isso, é igual. Aí, vem toda uma discussão sobre uma tal
gay sensibility:
existe uma sensibilidade gay, e que impacto ela tem na nossa cultura? A resposta: não
existe nenhuma sensibilidade e ela tem um impacto enorme na nossa cultura. (1990)
[ Na minha opinião, o gay é anárquico, rebelde, tem uma sensibilidade diferente. (1995)
134
SENSUALIDADE NO PALCO
[ Eu tento, não é? Adoro! Mas tenho o
sex-appeal de uma velhinha de
bob
no cabelo e penhoar. (1991)
SEPULTURA
[ Humildemente, considero o Sepultura a maior banda nacional, hoje em dia. Em
termos de tudo. Eu nem entendo muito de
metal, mas respeito o espaço que eles
conseguiram, fazendo o que querem. Pode esquecer o tal triunvirato Titãs—
Paralamas—Engenheiros. Tem um trocadilho com o
heavy metal no refrão de Metal
contra as nuvens,
que é assim: "Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão/Eu sou metal, e eu
sou o ouro em seu brasão". (1992)
[ A postura deles é parecida com a da Legião, só a música é diferente.
Dead
embryonic cells,
aquele clipe, é um escândalo! E eles são bonitinhos... Isso no
rock conta! Você quer um bando de trolhas lá em cima? (1992)
SEQÜESTROS
[ Existe uma onda de seqüestros por aí. Me seqüestraram a vontade de viver há muito
tempo. Esse é o resgate. (1990)
'SERÁ'
[faixa do disco Legião Urbana]
[
Será é imbatível. Acho que tudo o que a gente vai falar na vida está naquela música.
(1988)
'SETE CIDADES'
[faixa do disco As Quatro Estações]
[
Sete cidades fala do amor carnal. Sobre quem ama quem não está perto. É como se
faltasse um pedaço. (1990)
235
SEXO
[ Em Brasília, nas questões de sexo, por exemplo, eu era muito imaturo,
ainda. Uma coisa que me impressionava em São Paulo é que todo mundo
já era casado. Todo mundo transava livremente. Em Brasília, as pessoas
namoravam e tudo o mais, mas era meio escondido — sexo era uma
coisa que rolava, mas não muito. Em São Paulo, tinha essa maturidade
de comportamento. Eu já tinha transado antes de chegar lá, mas a
primeira vez que me senti como um homem — tipo "Agora sim, estou
transando" — foi em São Paulo. Isso foi uma coisa muito importante
para mim. (1989)
[ Eu ligo mais para a amizade, principalmente agora, que eu tive o meu
filho. Sexo por sexo, eu acho que nos anos 90 não pinta mais. (1990)
[ Não sou nenhuma autoridade no assunto, mas acho que, se houver
alguma diferença entre hetero e homo, ela está no grau de repressão de
cada um. Se você pegar uma pessoa que não teve a liberdade de trabalhar
o seu lado de expressão afetiva, ela vai ser um horror na cama. Do tipo
"apaga a luz", "aí eu não quero"! A diferença não é hetero ou homo. É
de trabalhar o próprio corpo e de, hoje em dia, saber o que pode e o que
não pode fazer. Têm certas coisas que só de camisinha, mesmo. De
qualquer maneira, sexo não é uma coisa que você faz a primeira vez e
aprende. O que eu posso dizer é que, quando a pessoa tem o espírito
homossexual, ela erotiza muito mais a relação. (1994)
[ As pessoas têm o direito de se expressar, de mostrar que existem
amor, ternura, carinho e amizade entre elas. O modelo hetero oprime
as pessoas. Está na hora de se respeitar os direitos dos que têm
sensibilidades diferentes. E isso engloba o direito humano da escolha
da sexualidade, que independe de ele ser homem, mulher ou turco.
(1994)
[ Eu não acredito que uma pessoa tenha definição de sua vida sexual
até os 25 anos. A pessoa não está formada. Para mim, isso é uma coisa
absolutamente normal. De uma vez por todas: o que existe é sexo. Fui
educado para ser honesto e sincero. Chegou um momento em que decidi
236
não escrever mais essas músicas, recebendo cartas de fãs e enganando meu público. Se
eu sou de uma determinada maneira, me aceite como sou. Se não gosta, problema seu.
(1994)
[ Creio que, a partir do momento em que a coisa não fica em cima do
ato reprodutor, do papai e mamãe, é mais fácil. Falando da minha
experiência, tem cara que sente o maior tesão no dedão do pé. Têm o
que dá e o que não dá. Tem o que faz tudo. Grande parte dos gays no
Brasil é o que a gente chama de ativos. São gays realmente, sentem
atração por um corpo igual ao seu, mas caem naquela coisa: eu só como.
Mas comem com uma vontade! (1994)
[ O ato sexual não tem nada a ver com a sua opção. Tanto é que eu tive
um filho e namorei mulheres. Eu não quero citar nomes, mas tive um
caso tórrido com uma atriz de cinema e TV Tem homem que tem uma
dificuldade brutal. Comigo não, eu me excito. (1995)
[ Hoje, eu já sei que sexo não é tudo e que a amizade é tão importante
quanto. Como dizia a Denise
[Bandeira]: "A gente vira amante
cósmico"... Sabe, eu não sou monogâmico. (1995)
[ No Brasil, não dá mesmo para separar homo de hetero, porque todo
mundo sabe que brasileiro adora bunda, sexo anal. (1995)
SHAMPOO
[ Não tenho preferência, mas, uma vez, na casa do Marco Nanini, usei
um de jojoba e adorei. (1994)
'SHOW BUSINESS'
[
Showbizz é aquela coisa: the show must go on. Rock n'roll, não — a
gente continua se quiser. (1987)
[ A gente não pode mais subir num lugar e começar a fazer um show,
porque vai aparecer gente demais. Tem que rolar o
show business, que é
uma coisa bem anos 80. Nós estamos entrando nos anos 90 e precisamos
237
de uma boa luz, de segurança. Não usamos direção de palco. A gente faz o que quer.
Mas a infra-estrutura é de
show business. (1990)
SHOWS
[ Gosto de fazer shows, mas sem virar loucura, ter que pegar avião
toda hora, ser acordado por um fã, de manhã, no hotel. Gosto de fazer
shows, mas, se quiser sair na terceira música, saio. E, se não estiver a
fim de tocar
Eduardo e Mônica, por exemplo, podem pedir que eu não
toco. Por isso, acho que não estou mesmo preparado para ficar rodando
o Brasil inteiro. A gente tem que cumprir o compromisso com o público.
(1987)
[ Quer ficar dando porrada? Vá para outro show! É como no carnaval,
quando só se vai ao baile para cheirar loló, cheirar pó e agarrar a mulher
do outro. "Não vai haver amor nesse mundo nunca mais"
[citando verso
de uma canção do grupo Camisa de Vênus]:
quem acredita nisso não
deve ir ao show da Legião. (1987)
[ Logo depois do lançamento de
As Quatro Estações, eu viajei. Fui
para Nova York e pus minha cabeça no lugar. Havia uma série de coisas
que eu queria fazer. Pensávamos: como voltar para a estrada? Sabíamos
que teríamos de fazer isso, estávamos já há quase dois anos sem tocar.
Não poderíamos ficar três anos sem aparecer. E se o público se esquecesse
da gente? Eu também queria muito experimentar o repertório novo. Eu
nunca gostei de show — agora estou gostando mais —, mas o pessoal
todo gosta. O Dado e o Bonfá, principalmente... O Billy também gostava.
A gravadora não faz tanta pressão, mas quer saber. A gente não pode
virar uma banda de estúdio — no Brasil, não tem muito cabimento.
(1990)
[ É assim: enquanto o disco não chegar a 250, 300 mil, a gente não vai
fazer show. Senão, vai ficar um monte de gente lá: "Toca
Ainda é cedo".
E a gente: "Não, a gente quer tocar as músicas novas". Depois, se já for
platina duplo e ninguém gostar do disco, aí, tudo bem. (1992)
[ Passagem de som eu acho chato. Como sou perfeccionista, fico muito
238
ansioso. Enquanto todo mundo está se divertindo, eu fico acordado até seis da manhã
perguntando se foi bom mesmo, se aquela passagem não saiu errada, se não poderia ter
ficado melhor. (1993)
[ Não dou mais shows: a situação de violência e agressão que existe,
em qualquer concentração popular na qual seja necessária a presença
de policiais, não dá. Morro de vontade, mas morro de paranóia. (1993)
[ Não gosto de show, porque é uma responsabilidade muito grande.
Trabalhamos com uma equipe, de, no mínimo, 30 pessoas. O público
tem uma relação afetiva muito intensa e não podemos, simplesmente,
fazer qualquer coisa. Além disso, é uma apresentação muito cara, porque
não trabalhamos com patrocínio. Faz parte da política da banda. Não
queremos nos apresentar com um baita letreiro de cigarro ou refrigerante
atrás. E tem aquela coisa de as músicas mexerem muito com a gente.
Não é fácil subir no palco toda noite, ou mesmo duas vezes por semana,
e cantar
Tempo perdido, índios, Eduardo e Mônica. (1994)
[ Não é uma questão de prazer. Se eu subo no palco e canto, é
maravilhoso. Mas, o que tem em volta é muito desagradável — subir e
dizer as mesmas coisas, todas as noites. Nosso repertório continua o
mesmo há dez anos. O que a garotada quer ouvir é
Será, Faroeste caboclo,
Pais e filhos...
É divertido, mas me considero mais um artista de gravação,
produtor, arranjador. (1994)
[ Estar no palco, hoje, é uma celebração. Mas, se ficarem jogando coisas,
eu saio e vou embora. (1994)
[ Já gostei muito de show. Agora, tenho meu pé atrás, porque sei quais
são as dificuldades que eu vou enfrentar e o que pode ocorrer. Acho
que a marca foi aquele show em Brasília. A gente começou a perceber
que existem muitas coisas envolvidas que podem não dar certo. Então,
a responsabilidade é muito maior e a pressão, também. Mesmo quando
o show dá certo, tem aquele engarrafamento monstro. Antigamente, a
gente não pensava nisso. Comecei a pensar nisso quando tive filho. A
gente fica medroso quando tem filho. Não é medo de acontecer alguma
coisa comigo, mas de acontecer alguma coisa comigo que afete meu
filho. (1995)
239
[ É muito desgastante se preparar para fazer um show legal e, na hora,
encontrar um som ruim. E o som, em todo lugar, é ruim, porque a
gente não pode tocar em lugar pequeno. A gente tenta equacionar essas
coisas para que tudo dê certo, porque não há nada melhor do que um
bom show. Lava a alma, mesmo. (1995)
[ A adrenalina vai a mil
[com os fãs gritando seu nome]. É muito
emocionante, dá um nervoso, mas, quando chego no palco, tudo passa.
Eu enxergo cada pessoa que fica ali na frente, peço até para iluminar a
galera para eu ver melhor. Dá até para ver aquela menininha que vai a
todos os shows e cantar uma música olhando só para ela. (1995)
[ A gente pretende voltar a tocar assim que passarem todos esses meus
problemas. Mas estou me tratando com meus remédios e fazendo
análise. (1996)
SHOWS INTIMISTAS
[ Eu não sinto saudades deste tipo de show, porque faço isso o tempo
todo. Canto para os amigos, toco violão, canto no banheiro. O que sinto
é saudade da liberdade de tocar o que a gente quiser, sem compromisso
de tocar uma música que o público quer. (1993)
SHOWS SOLO
[ Tenho medo de fazer
Stonewall ao vivo. Até com a Legião, para mim,
já é difícil fazer shows. Cantar
Monte Castelo é um pesadelo para mim.
Há tempos...
ninguém consegue cantar aquilo. Se eu tivesse mais estudo
e mais técnica, poderia fazer uma linha melódica mais definida. (1995)
SID VICIOUS
[ "Acho que meu pai sabia, ele provavelmente viu na TV ou leu nos
jornais, mas não me contou. Um amigo me disse e eu não acreditei.
Tive que ligar para meu professor de violão e perguntar se ele tinha
ouvido alguma coisa. Aconteceu numa sexta-feira, mas eu só soube da
notícia no domingo à noite. Nada me atingiu do jeito que a morte do
240
Sid me atingiu. Chorei a noite toda, e era como uma espécie de grito, doloroso, não só
por Sid, mas por tudo. Perdi completamente o controle de mim mesmo. Sabe, nada
acontece aqui, nunca. E sempre recebo as notícias duas semanas atrasado. Não se lança
nada de
new wave (ou qualquer outra coisa boa que interesse) aqui, eu tenho que
comprar importados no Rio. Tudo é
disco, Travolta ou samba. Quando a coisa do punk
começou, eu e meus amigos entramos de cabeça, porque alguma coisa estava
acontecendo. Nos envolvemos com a música como não acontecia desde os Beatles e os
Stones. Era diferente. Sid, John e o Clash — eram todos heróis. Eles pensavam do jeito
que a gente pensava; nem mesmo o Airplane
[Jefferson Airplane, grupo psicodélico
formado em São Francisco, no auge do
flower power] tinha batido tão perto de mim.
Dava um certo medo, era como dividir alguma coisa, não era apenas ser um fã burro.
(...) Ele morreu por causa do que era. E como Brian
[Jones, guitarrista dos Stones], Jim
[Morrison, vocalista dos Doors]
e Gram [Parsons, ex-The Byrds, pioneiro do country
rock que morreu em 1973, de uma overdose de morfina e tequila]
, as pessoas só vão
entender depois de alguns anos. Alguns vão esquecer, outros não, alguns já esqueceram,
mas quando um herói é de verdade (eu digo herói mesmo), ele sobrevive. Aposto que
alguém vai rir lendo isso. Pode rir, você não entende. (...) Eu cresci milênios de 75 para
cá. Mas ainda tenho 18 anos. Vejo as coisas um pouco diferentes agora, e odeio... Mas
vou passar por isso, e não vou perder (ganhar) como Sid Vicious fez. Eu vou fazer por ele
o que ele fez por mim".
[Carta escrita em inglês, sob o pseudônimo de Eric Russel,
publicada no jornal
Melody Maker, de Brasília, edição de 31 de março de 1979, quase um
mês depois da morte de Sid Vicious, do Sex Pistols]
[ Quando o Sid Vicious morreu, eu chorei, chorei de raiva. Foi o primeiro porre da
minha vida — tomei uma garrafa de vinho Chapinha. Ele era meu ídolo! Ídolo! Eu tinha
um crocodilozinho empalhado que era o Sid — bem, qualquer coisa para horrorizar meus
pais, não é? — e também um mural imenso no meu quarto, onde eu rabiscava com caneta
pilot:
"I wanna be a junkie". O meu sonho era ser junkie. Você pode pensar: "Sid Vicious
era um idiota!". Não, não era. Ele acreditou naquele filme dele, mas só falava coisas legais.
Uma música que eu gostava muito era
Bodies, contra o aborto. Nunca imaginei uma
postura assim da parte deles. (1989)
241
SÍMBOLO SEXUAL
[ Se eu quisesse ser, não ia morar na Ilha. Até acho que poderia ser, se
quisesse. É claro que não sou bonito, ou melhor... tem gente que acha,
e esse negócio depende de tantas outras coisas, não é? Tem muita gente
que curte me ver dançando, me acha um símbolo sexual, é um lance
que bate ou não. É claro que o Paulo Ricardo tem um rosto bonito,
mais harmônico. E entrou nessa. (1987)
[ Meus símbolos sexuais são Rivelino — adoro ele — e Leivinha. Femininos, Leila
Diniz e Mônica Vitti. (1994)
[ O Leonardo, da Seleção. Acho ele um gatinho. (1994)
SIMPLICIDADE
[ Todo escritor ou compositor quer a simplicidade para ficar na história.
(1988)
[ Estou começando a aprender a receber as coisas boas que aparecem
no meu caminho. Eu consegui fazer parte de uma banda de rock, fico
superfeliz de poder estar aqui, com ar condicionado, dando esta
entrevista, com a roupa que eu quero, sabendo que eu tenho a
oportunidade de falar para pessoas que não conheço, que nunca me
viram. Isso é maravilhoso. Esta simplicidade é a melhor coisa do mundo.
Tem comida na geladeira e se, de repente, eu abrir esta porta, têm meu
suquinho de pêssego, a minha maçã. É só do que eu preciso. (1996)
SINCERIDADE
[ Não dou risada para quem eu não gosto. Muito menos dou satisfação
às pessoas. Elas que se danem. (1987)
[ Estou sendo muito sincero no que faço e acho que, se a gente trabalhar
com sinceridade, dá certo em qualquer ramo. (1989)
242
O meu problema é que eu sempre fui muito sincero em tudo que
digo ou faço. Estou aprendendo, agora, não necessariamente a mentir,
mas a usar de mais tato, diplomacia. Não preciso ser carne viva em
todas as situações. (1991)
SOBRAS DE GRAVAÇÃO
[ As sobras são uma coisa para fã, mas eu não acredito que a gente
tenha coisas de qualidade para as pessoas ouvirem. Vai ser mais curioso:
"Ih, olha esse
jam que eles fizeram". Vai ser mais a nível de jam e não
como, por exemplo, a caixa do Velvet Underground, que têm músicas
inteiras, prontas e acabadas. Ou mesmo do The Who, pois o Pete
Townshend trabalhava muito fazendo demos acabadas. Não sei, eu acho
que a gente vai ficar surpreso com a quantidade de material que a gente
tem. Mas isso a gente está pensando para mais tarde. (1995)
SOLIDÃO
[ Não adianta nada você ter um disco de platina na parede se você está
sozinho. (1987)
[ Eu vivo sozinho, moro sozinho. Quer dizer, tenho excelentes amigos,
mas tem aquele dia em que a gente quer um xodó, um carinho. (1995)
[ Antigamente, eu era dono do mundo — eu sabia de tudo, eu tinha
resposta para tudo. O tempo foi passando e eu fui vendo que não é bem
assim. Hoje em dia, eu sinto muito mais necessidade de estar perto do
meu filho, necessidade de estar perto das pessoas que gostam de mim.
Em geral, eu procuro muito a companhia dos meus amigos, das pessoas
próximas. Eu acho que isso tem a ver um pouco com a forma como a
sociedade está estruturada. Antigamente, existia muito mais a vida em
comunidade, as pessoas participavam mais; hoje era dia, a vida nas
grandes cidades está uma coisa muito compartimentarizada, as famílias
são menores, os pontos de encontro são outros. Até por causa da
violência, as pessoas têm se fechado um pouco mais. Então, eu tento
lidar com isso da melhor maneira possível. Através do meu trabalho,
através das coisas em que eu acredito. Mas, às vezes, é difícil, sim. Agora,
243
também, não sofro demais por solidão — eu acredito que eu seja uma pessoa normal
nesse sentido. Têm dias em que, realmente, eu me sinto um pouco sozinho, em que eu
gostaria de ter alguém, neste momento, na minha vida. Mas, no momento em que isso
não é possível, eu sei que daqui a um tempo a situação vai mudar. Eu também tenho os
meus dias em que eu quero ficar sozinho, em que eu não quero ver ninguém, mesmo.
Mas, acho que a música, a arte ajudam muito. E os amigos, não é? Sem amizade, aí,
realmente, não dá. Eu tenho grandes amigos, graças a Deus! (1995)
[ O sucesso faz aparecer muita gente em volta de você — empresários,
artistas. Mas me sinto só. (1996)
SOM
[ Eu admiro muito as pessoas que conseguem um determinado som,
porque na Legião a gente tem esse problema. No estúdio, como os
técnicos de som daquela época não sabiam gravar rock, a gente foi meio
que aprendendo sozinho e, das barbas do rock nacional, eu acho que a
gente tem o som mais sofrível. Eu sempre admirei muito o que os
Paralamas conseguiram no estúdio... Com o Savalla e tudo. A produção
do Savalla para o Pato Fu é um escândalo. Até as coisas que o Dado tem
produzido — Second Come e algumas coisas assim — têm um som
maravilhoso. Sai Legião e sempre vem com aquela bateriazinha, sempre
parece disco independente inglês, parece disco de The Pall, coisas bem
antigas. (1995)
[ A gente se preocupou mais com a concepção do que com o lado
técnico. Nunca que ia chamar um produtor de fora, porque a gente
tem as nossas coisas. Eu sempre fui assim. Eu prefiro ouvir aquele disco
todo arranhado, com som ruim — mas que é o meu disco —, do que
ouvir uma coisa com som maravilhoso. (1995)
Para mim, uma das coisas mais importantes no
Equilíbrio Distante é
justamente ter entrado na coisa técnica e, bem ou mal, ter conseguido
o que eu sempre quis: ter um bom som. Desta vez, está tudo no lugar.
Eu não sei, talvez eu me decepcione daqui a algum tempo, mas, até
244
agora, eu estou muito satisfeito com o resultado. Trabalhando no Brasil, com músicos
brasileiros e com técnicos brasileiros, a gente conseguiu um bom resultado. (1995)
SONHO DE CONSUMO
[ Não tenho. (1994)
SONHOS
[ Ah, fazer cinema é o meu sonho! Fazer roteiro e música também,
mas é mais complicado. (1995)
[ Como é aquela frase? "Quem mais sonha é quem mais faz". Eu sonho
o tempo todo, desde os tempos em que ouvia
Born to run, do Bruce
Springsteen, e queria fazer o mesmo com uma superbanda num
superpalco. (1995)
[ Eu queria alguma coisa ligada à palavra, ser jornalista, escritor. Ou,
então, trabalhar com algo ligado à expressão artística. E, de preferência,
uma coisa que me desse muito dinheiro, fama e sucesso. Ah, meu sonho
era ser um dos Beatles! (1995)
SORRISO
[ Eu tenho um lar, amigos, um bom emprego. Eu estou num país fodido
da porra, mas eu tenho casa e tenho emprego. Sei lá, quando chegar
alguém meio mal, poder oferecer um sorriso... Sabe, esse negócio cafona
que ninguém dá valor. Só que, hoje em dia, existe a mitologia da
violência. Bom, tem que ter um pouco de pimenta; senão, fica aquela
coisa babaca. Sei lá, poder dar umas boas risadas... (1987)
Posso estar no maior mau humor do mundo, mas é só eu olhar um
bebezinho, pronto, é felicidade pura! Agora, como você vai colocar isso
em música? São coisas que não se verbalizam. É o sorriso. E, na hora em
que você está pensando no seu trabalho, você quer preservar esses
momentos para que eles sejam âncoras para o seu futuro. (1989)
245
STONEWALL
[levante gay, ocorrido em 1969, nos Estados Unidos]
[ Em 1969, houve uma batalha pelos direitos civis nos Estados Unidos
— hoje em dia, lá, todo mundo se detesta, mas, naquela época, os negros
estavam do lado dos hippies, que estavam do lado dos intelectuais etc.
E tinha um barzinho que ficava justamente na Christopher Street com
Stonewall, ali no gueto, no Village. Aquilo, desde os anos 20, era um
antro, o bairro boêmio. E chegou a polícia. E os policiais chegaram para
prender e para bater em todo mundo. De repente, alguém — não se
sabe quem — falou: "Não vamos aceitar isso!". Naquela época, tinha
muito travesti; hoje, não tem mais. E até os travestis começaram a pegar
pedras, pedaços de pau... Durante cinco horas, na rua, eles lutaram
com a polícia e, a partir daquele momento, nasceu a noção de
gay pride
[orgulho gay]:
"Ninguém vai pisar em cima de mim". Aquela resistência
em Stonewall virou símbolo do movimento todo. (1990)
[ A questão do Stonewall está sendo resolvida. Se, nos Estados Unidos,
os direitos dos gays estão atrasados, imagina por aqui. Os únicos que
estão chegando lá são os povos escandinavos. E não falo só dos gays. Lá,
a mulher, os negros, as crianças, as minorias em geral têm maior
liberdade. (1994)
'THE STONEWALL CELEBRATION CONCERT'
[disco solo, cantado em inglês]
[ O projeto nasceu numa reunião da campanha do Betinho
[Ação da
Cidadania pela Vida e contra a Miséria e a Fome],
na casa do Marco
Nanini. Pensamos em fazer um recital com as músicas que eu canto
sempre, como algumas canções do Gershwin, mas o recital acabou nunca
dando certo, sempre tinha alguém viajando. Mas a idéia foi ficando
legal. (1994)
A idéia era que o ingresso para o recital fosse a assinatura de um
contrato de cidadania — o compromisso de doar uma cesta básica por
mês, durante um ano, para uma entidade de apoio a pessoas carentes.
Como estava difícil juntar todo mundo, resolvi registrar o trabalho que
vinha fazendo, para que ele não se perdesse. Apresentei o projeto à
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EMI-Odeon, gravei uma fita demo e eles disseram: "Vai em frente". Daí nasceu o
disco. (1994)
[ O disco é para comemorar os 25 anos de Stonewall, um marco na
história dos direitos gays, das minorias sexuais. Foram três dias de luta
com a polícia e, a partir daquele momento, surgiu a consciência de que
não é por causa de sua orientação sexual que você vai ser discriminado.
(1994)
[ Na época, eu estava assustado com o ressurgimento do fascismo. Eu
havia lido uma reportagem sobre os
carecas num jornal do Rio que me
assustou muito. Ela foi concebida como uma reportagem de moda e os
carecas
estavam lá dizendo: "Vamos bater em todo mundo, vamos matar
todos os metaleiros". Eu pensei: vai começar tudo de novo! Eu também
queria usar o disco para me expressar emocionalmente acerca da minha
orientação afetiva. Depois, surgiu a idéia de usar o disco para divulgar
informações — endereços, telefones etc. — sobre ONGs
[Organizações
Não Governamentais]
que trabalham com os direitos da criança, da
mulher e das minorias sexuais propriamente ditas. (1994)
[ Aqui no Rio, por exemplo, a gente não tem catálogo telefônico. Então,
às vezes, queremos entrar em contato com o Greenpeace, ou com a
Sociedade Viva Cazuza, e não sabemos como. Já que o disco cuida disto
— da questão da liberdade do espírito humano — e é contra o fascismo,
o preconceito e a intolerância, achei que seria supergenial fazer um
folheto com aquelas informações. (1994)
[ A questão de serem canções em inglês é porque, na verdade, este
disco também é uma tentativa de eu exorcizar um relacionamento que
eu tive com um cara, que não deu muito certo, e ele era americano.
Então, algumas dessas canções são as nossas canções. (1994)
O disco inteiro é como uma carta de amor, de um homem para outro
homem. Passa pelo sofrimento, o desespero, o perdão, e, no fim, em
Close the door lightly when you go [música composta porEric Andersen]
,
o cara diz: "Você segue o seu caminho que eu sigo o meu". (1994)
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[ Eu mudei pronomes em duas músicas. As outras letras são dirigidas
para um homem ou estão indefinidas, servem para os dois. Eu queria
negar esses discos assumidamente gays, que caem num negócio gritado,
tipo Erasure, Jimmy Sommerville. É um gay cantando para outro homem
com voz de barítono. Então, você pega o disco e tem aquele
boje cantando
com voz grossa e a sério. (1994)
[ Eu queria falar de amor, de expressividade. Cantar em inglês não é a
questão. Fiquei dez anos escrevendo em português, mas vi que meu
lado emocional está ligado aos Estados Unidos. No disco, há uma foto
minha, com a minha irmã, no Central Park, para não parecer que eu
entrei de gaiato. Sou um artista supercuidadoso. O público tem que
entender que este é um disco de amor. Não iria cantar em português
coisas como "Eu sou gay porque quero que o mundo mude para eu
poder andar com meu namorado de mãos dadas". (1994)
[ Eu fiz este disco para mostrar que a gente tem dignidade, que têm
pessoas legais trabalhando pelas diferenças. O fascismo é muito perigoso.
Daqui a pouco, se você não for macho, adulto e branco, você está
perdido. (1994)
[ Este disco me fez pensar em uma série de coisas, e eu estou voltando
a acreditar. Acreditar que o tempo é circular, e que o véu que está sobre
as pessoas vai se levantar e todos vão voltar a enxergar, claramente, de
novo. (1994)
[ Não, o disco não foi criticado. Porque é impossível criticar aquele
disco. Você vai estar assinando atestado de burrice... O máximo que
eles falaram foi que era um disco melancólico e repetitivo — o que é.
Mas não tem como você pegar aquela gravação de
Say it isn't so e dizer:
"Isso aqui é uma bosta". Eles ignoraram o disco e depois, no final do
ano, eu ganhei prêmio de melhor cantor do ano. (1995)
SUCESSO
[ O sucesso, que antes era reconhecimento, agora é sucesso mesmo.
Isso é que é foda... Aí, esperam que você tenha mudado, e você não
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mudou nada. Claro que a gente sempre muda, não é? Mas eu acho que sou a mesma
pessoa... E o bacana do rock'n'roll é isso, é você não crescer nunca. Eu gosto do Menudo e
pronto, eu quero me divertir! As pessoas ficam achando que eu sou meio bestinha, que eu
não sou assim. Mas eu sou assim, eu sou meio bobalhão, mesmo. O mais importante é
você tentar lidar com isso da melhor maneira possível. Mas é uma coisa muito complexa.
(1986)
[ O que mudou é que, agora, eu tenho mais segurança e confiança,
menos dúvidas sobre as coisas nas quais eu acreditava. Se você trabalha
com sinceridade e dignidade, se tenta ser íntegro e seguir o que você
acredita, sem se deixar levar por pressões, você acaba conseguindo. Sei
lá, a gente criou uma base que não vai mais embora, não é aquela coisa
de fazer sucesso e, de repente, ter que ficar provando por que fez sucesso.
(1986)
[ Quando você faz sucesso com uma banda de rock'n'roll, você tem
que conviver justamente com as pessoas de quem queria fugir ao fundar
uma banda de rock'n'roll. (1987)
[ Fico feliz fazendo exatamente o que mais quero fazer na vida:
rock'n'roll. E quero ganhar dinheiro fazendo rock. Só que essa não é
nossa motivação principal — essa é a diferença. Não tivemos gravadora
para nos empurrar, não estou nas colunas sociais, não saio à noite. O
sucesso veio da escolha do público mesmo, que pressionou de baixo
para cima. (1987)
[ Você não pode esperar que um conjunto faça sucesso todo o tempo.
São ondas. O Ultraje a Rigor está de férias, o RPM mais ou menos
acabou, o Lobão saiu dos Ronaldos, Cazuza deixou o Barão Vermelho.
A Legião agora está na onda, mas logo vamos parar, para gravar um novo
disco, e alguém vai assumir o lugar. (1988)
[ Aqui no Brasil, como disse o Tom Jobim, fazer sucesso é uma ofensa
— artista é vagabundo, roqueiro é drogado, e por aí vai. (1989)
Nossa origem é
underground. Tudo o que queríamos era gravar um
disco. Nunca pensamos em fazer sucesso. (1993)
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[ No Brasil, a imprensa e os setores mais intelectualizados não perdoam
o sucesso. Somos infantis e vaidosos. (1994)
SUCESSOS
[ Os maiores sucessos da gente foram, sem ordem,
Será, Eduardo e
Mônica, Tempo perdido, Faroeste caboclo, índios...
São muitos, mas mega,
mega, mega são
Pais e filhos e Será. Perfeição é sucesso também. (1994)
SUICÍDIO
[ Eu sei que tem gente que projeta suas fantasias mórbidas em cima de
mim e diz que já tentei suicídio muitas vezes. Mas é que elas não entendem
que, às vezes, eu vejo o que quase ninguém vê. (1986)
[ Já pensei nisso. Não de levar às últimas conseqüências, mas... (1995)
[ Não, isso não tem nada a ver
[desmentindo que teria dito que tentara
cortar os pulsos por causa de uma menina].
Show é show, não é? Isso deve
ter sido uma introdução a
Ainda é cedo. É recurso dramático. Mas não
aconteceu, não. Eu tive um pequeno acidente, mas não foi por querer me
matar, nem nada. Eu só queria ver como é que era. Uma coisa de louco.
Só que deu o maior susto. Foi em Brasília, eu tinha 20 e poucos anos.
Coisa de bêbado. Eu estava lá, entediado, cismado que queria ser artista
plástico. Comprei uns guaches e ficava fazendo meus desenhos e aquarelas.
Comecei, de repente, a diluir tinta em urina. Me cortava e desenhava
com sangue, todo fora de controle, coisa de irresponsável... Fiz uma
operação da qual ainda tenho marcas. (1995)
SUPERSTIÇÃO
[ Não tenho superstição. Só com coisas pequenas, do tipo: "Se eu acertar
uma bolinha de papel dentro do copo, o telefone vai tocar". (1994)
[ É uma coisa meio supersticiosa: a gente sempre tem nos discos uma
música instrumental e sempre tem uma música em que o Dado não toca
guitarra. Vem vindo e está indo bem. (1994)
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