PAIS
[ Eles moram em Brasília. Gosto muito deles. Mas, depois de certa idade, você não
consegue morar junto. Cria muito atrito. (1990)
[ Para mim, o mais importante, com a chegada do meu filho, foi a
mudança da minha relação com meus pais. Passei a ver toda a situação
de uma maneira diferente. Pintou mais respeito, pintou mais
consideração. Os pais são sempre pais e, às vezes, a gente tem que se
distanciar um pouco para perceber que eles são pessoas normais. É tão
forte a relação da gente com eles que, quando criança, você acha que
são heróis; na adolescência, nega tudo, acha que são horrorosos. Até o
momento em que meu filho nasceu, eu nunca havia percebido meus
pais como indivíduos. Talvez eu pensasse nisso antes, também. Mas,
para mim, eles sempre foram pai e mãe. Agora, não. Existem o Renato,
a Carminha e eu. (1990)
[ Eles diziam: "Quer comparar sua guitarra? Vai trabalhar, economize e
compre". Isso me ajudou muito. (1995)
[ Meus pais são maravilhosos, estão juntos até hoje. Tive muito problema
com isso, porque me senti culpado durante a adolescência, por não
corresponder às expectativas deles, de uma vida bem-comportada. Eles
são super-simpáticos, inteligentes, têm um casamento de sonhos,
maravilhoso e tal. Para mim, tudo isso era um carma. Eu era — e ainda
sou — um pouco terrível. (1995)
189
[
Pais e filhos é especificamente sobre a nossa situação [dos componentes
da Legião],
pois nós três, agora, somos pais. E este disco é extremamente
universal, não está tão ligado ao momento. Daqui a 20 anos, vamos
poder ouvir
Pais e filhos. (1990)
[ Esta música é sobre suicídio. Ela é muito, muito séria. Me desgasta
para caralho quando a gente toca, e as pessoas não percebem. É sobre
uma menina que tem problemas com os pais, ela se jogou da janela do
quinto andar, e não existe amanhã. Eu acho bacana, é uma música bonita,
mas existe um clima em tomo de algumas músicas da gente que me
assusta. Quer dizer, cada pessoa interpreta à sua maneira, mas isso é
uma música seríssima, é que nem
índios. Eu não agüentaria ouvir duas
vezes seguidas. Eu gostaria, então, que as pessoas prestassem atenção
na letra e vissem que é uma coisa muito forte. (1994)
PAIXÃO
[
Stonewall é um disco sobre paixão. Eu precisava exorcizar aquela
coisa de você se anular por uma pessoa. Eu escolhi canções que tivessem
a ver com a história da grande paixão da minha vida. Eu vivi uma relação
muito intensa, muito difícil, com um americano. Ele vivia no gueto de
São Francisco — era gay de carteirinha. Ele veio para o Brasil — ele era
lindo, louro — e as meninas deram em cima. Aí veio aquela coisa de
macho, porque todo homossexual masculino é macho, não adianta. Ele
era dependente químico também, a gente viveu uma relação Sid & Sid.
Ele, de
speed, e eu, de álcool e tranqüilizantes. Vento no litoral fala
justamente disso: "Lembra que o plano era ficarmos bem". Era o nosso
plano. Só que não deu certo. (1994)
PALAVRA MAIS BONITA
[ Toda vez que eu leio o
Perfil do Consumidor, penso no que falaria.
Toda palavra pode ser bonita, depende de quem fala e se é dita com
sinceridade. Eu adoro quando a pessoa que me ama me chama pelo
nome. (1994)
190
[ Qualquer uma que é dita por pessoas intolerantes e injustas. (1994)
PALAVRA PREFERIDA
[ Essência. (1994)
PALAVRA QUE MAIS USA
[ Eu. (1994)
PALAVRAS QUE SEDUZEM
[ Espírito, bondade, desejo. (1994)
PALCO
[ Eu gosto muito do palco. Mas é assim: está tudo pronto? Então, entro e toco. Agora,
ensaiar, passagem de som, viagem, comida de hotel, gente berrando, segurança batendo
em fã, extorsão, cambista... isso eu não gosto. (1994)
[ Sei que é uma bobagem dizer isso, mas, para mim, o palco é sagrado. O que dificulta é a
expectativa do público e a nossa responsabilidade. E ter de cantar as mesmas músicas
sempre. (1995)
PARALAMAS DO SUCESSO
[ O melhor baixista do rock brasileiro é o Bi Ribeiro, dos Paralamas. Ele só tem que
tirar aquela barba. Eu digo: "Tira essa barba, menino. Vem cá, eu vou barbear você".
Ele é tão bonito, parece aqueles garotos de Beyerly Hills. O João Barone, também, é
ótimo. Em termos de música, não tem ninguém para os Paralamas. (1994)
[ Os nossos padrinhos eram os Paralamas, porque o Bi era amigo de
191
Ico
[irmão de Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial] levar para a França, para o George
Davidson, da Odeon, que quis saber quem eu era. Só que, nessa época, eu já estava com
a Legião, e eles não sabiam. Quando nos viram, tomaram um susto, porque era mais um
trio de Brasília com vocalista de óculos. (1995)
[ As melhores coisas são as demos dos Paralamas. No dia em que você
ouvir a demo de
A dama e o vagabundo, você vai dizer: "Esta é a melhor
banda do universo!" (1996)
PASSADO
[ Eu não renego o meu passado. Se tivesse que fazer tudo de novo, eu
faria tudo de novo, porque é da minha personalidade. O legal é que eu
aprendi. (1990)
PATO FU
[ Ah, eu acho eles maravilhosos... Eu gosto muito de
Sobre o tempo, é
claro, e de
Vida besta. É muito legal, é muito legal. Eles me lembram
Os Mutantes, mas de uma outra maneira. (1995)
PATROCÍNIO
[ Se aparecesse hoje um Mozart ou um Michelangelo, eles iam ter que
procurar patrocínio! (1994)
PATRULHA IDEOLÓGICA
[ Eu acho que você não pode ser um fascista cultural. Esse negócio de
patrulha ideológica é a coisa mais furada do mundo. As pessoas mais
bonitas que eu conheço são justamente as pessoas mais abertas. (1985)
192
[ Não tenho nada contra ele. Mas é muito fácil ficar em Nova York,
ganhando em dólar, e falar: "Vocês aí são uns índios, porque não
conhecem a Cecília Bartoli cantando Haendel". Vai à merda! A gente
não conhece porque não tem dinheiro. Dá isso para o povo, para ver se
ele não vai querer. Nós, brasileiros, somos crianças. Mas criança entende
e adora tudo o que é belo, o que é poesia. (1994)
[ O Paulo Francis é um ressentido, em Nova York, com 60 anos de
idade, escrevendo sobre o restaurante onde come, lendo a
New Yorker,
pinçando certas coisas dali e falando o que leu na revista. Eu acho que
ele está gagá. (1994)
PAZ DE ESPÍRITO
[ Hoje em dia, não temos Vietnã ou amor livre, mas temos Nicarágua
e Aids. O ser humano sempre procura a paz de espírito, em qualquer
época. (1989)
PERFUME
[ Tenho uma tendência ao cheiro natural das pessoas, mas os meus
perfumes preferidos são
Egoist, da Chanel, e Incense. (1994)
PERSONAGENS
[ Gostaria de conhecer Eduardo e Mônica. Já Andrea Doria é a mesma
menina de
Ainda é cedo, e eu não gostaria de revê-la na minha frente.
(1987)
PERSONALIDADE
[ Betinho
[o sociólogo Herbert de Souza]. (1994)
PETS SOUNDS'
[clássico da engenharia sonora, lançado pelos Beach Boys em
1967]
193
E, também, a gente já tem as nossas formulinhas — o Bonfá é bem implicante em
relação a isso. Você assiste àquele
Acústico da MTV e parece que ele está com prisão de
ventre, detestando estar lá. Isso ninguém sabe, tipo: "Sou baterista, não percussionista!
Não vou ficar lá tocando aquele sininho ridículo!" (1996)
PIOR MÚSICA
[ Não sei. É a que a gente não termina. Das que foram lançadas, não
gosto de uma chamada
Depois do começo [do disco Que País é Este —
1978/19877. Não é ruim, mas eu não gosto. É pretensiosa, babaca.
(1994)
PLANO REAL
[ Estou bem assustado com essa história e andando com uma tabelinha de conversão.
Meu medo é de que as pessoas saiam aumentando os preços. Se vai dar certo, não
tenho a mínima idéia. Talvez funcione, mas a gente está tão cansado, que ninguém
leva fé. (1994)
PLANOS
[ Um dos meus planos é — quando eu estiver com uns 40, 50 anos —
escrever ficção. Eu tenho a minha vida toda planejada. (1986)
[ Meus planos são rock'n'roll, cinema e literatura. Cinema é muito
difícil. Mas literatura eu quero treinar agora, porque, quando eu tiver já
uma carga de vida, aí eu posso escrever. Eu acredito que você tem que
passar pelo tempo para poder escrever como o Drummond, o Garcia
Márquez, o Thomas Mann. Meu plano é dominar a técnica para, depois,
escrever minhas historinhas. Mas é difícil, a língua portuguesa é muito
difícil. Meu plano é ser maior do que Shakespeare... É sempre bom ter
um sonho. Eu estou guardando todas as pequenas histórias. Uma coisa
para a qual eu estou me esforçando é ter uma disciplina mental, não no
sentido besta da palavra, mas para organizar e tentar lembrar coisas que
194
[ Eu sou muito ambicioso. Imagine se eu vou começar a escrever agora!
Por enquanto, um pequeno texto que as pessoas todas cantem. (1989)
POESIA
[ Gosto de Adélia Prado e, dos poetas ingleses, tenho tara por
Shakespeare. Leio pouca coisa dele, porque tenho dificuldade de ler o
inglês antigo — é muito onírico, tem muita nota de rodapé. Gosto mais
dele quando vai para o lado do amor, ele tem muitas musas. Tem também
um poeta chamado W H. Auden, que acho legal. (1988)
[ Em termos de construção, eu me interesso mais pela poesia inglesa.
Mas, em termos de temática, Fernando Pessoa e Carlos Drummond.
Aí, sim... (1988)
POETAS DO ROCK BRASILEIRO
[ Eu não sei onde estão os maiores poetas da nova geração da música
brasileira, porque eu só conto uns três ou quatro. Um é o Cazuza. Têm
o Cadão Volpato, do Fellini, Humberto Gessinger, dos Engenheiros do
Havaí, o Arnaldo Antunes e o Sérgio Brito, dos Titãs. Não tenho
distanciamento para analisar, mas acho que, da nova geração, o maior é
o Cazuza. E, em seguida, na minha opinião, vem o Cadão Volpato. Mas,
quanto a isso, eu não penso em mim. Antes de pensar que eu sou o
letrista, eu penso que nós somos a Legião Urbana. (1989)
POLÍTICA
[ Eu não gosto muito de falar de política, não. O máximo que posso
fazer é pegar uma música no baú, uma música de dez anos atrás, e ficar
cantando e reclamando. O que é que eu vou fazer? Virar político,
deputado, para ser massacrado pelo rolo compressor do Centrão
[grupo
de centro-direita que, na época, era maioria no Congresso Nacional]?
Mas eu não entendo dessas coisas, eu não gosto de falar dessas coisas. A
195
passou de 8 mil para 35 mil. O que eu sei é o que eu vejo na televisão, os caras se
digladiando lá no Congresso Nacional, como se fossem animais. (1987)
[ Acho que a função do artista está mais ligada a pão e circo. Mesmo
que sejam pão e circo emotivos, uma coisa que vá te alimentar
psiquicamente. Entendo que o artista não deve se envolver em política
partidária. Faço uma política diferente: falo de coisas que interferem
na minha vida. Em outra época, talvez não estivesse falando
Que país é
este.
Para mim, vai ser muito fácil fazer uma música para alguém que
perdeu o emprego, porque estou vendo isso, tenho muitos amigos nessa
situação. São coisas que me tocam emocionalmente. Chego, então,
nesses assuntos ligados à política do Estado através da emoção.
Simplesmente, fui tocado pelos fatos, e isso filtra nas músicas, embora
eu não tenha nenhum plano e não entenda de política. (1988)
[ Não queremos mais falar de política da maneira como falamos nos
primeiros discos. A partir do momento em que fizemos músicas como
índios
e Tempo perdido, percebemos que poderíamos muito bem abordar
a política sem ter que ser panfletários. (1992)
POPULARIDADE
[ Eu não sinto que deva utilizar minha figura pública para ser
espalhafatoso, ou para ser chique e charmoso. Tenho os meus amigos e,
se estou a fim de
peruar, não vou fazer isso em público. Prefiro me
guardar para as pessoas que me conhecem. Só uso o fato de ser conhecido
para receber um bom tratamento em aeroportos, restaurantes, coisas
práticas do dia-a-dia. (1991)
'POR ENQUANTO' —
1984/1995' [caixa que reuniu os seis primeiros
discos da Legião, remasterizados]
[ A Legião está lançando os seis primeiros discos, remasterizados em Londres, com
uma produção gráfica atualizada. Consertamos tudo.
196
Espero que isto chame a atenção das pessoas para o que foi feito nesse período. Você vai
ouvir todos os erros: é a mesma mixagem, os mesmos arranjos, mas o som vem menos
velado. Embora a gente não tenha mexido na mixagem, os discos vêm com essa
sonoridade mais atual, mais dentro dos padrões da indústria nos anos 90. (1995)
[ Com este relançamento, fica claro — mesmo nas canções feitas há
oito anos — como é possível se identificar com as letras, sem achar que
nós não temos mais a ver com isso. (1995)
PRAZERES
[ Os meus amigos, a minha família, trabalhar. Bons filmes, bons vídeos,
música, muita coisa. (1995)
PRECONCEITO
[ Vai admitir que você gosta de homem nesta terra, meu filho! Nem
para ganhar dinheiro uma pessoa arriscaria passar pelo que eu passei.
Tem muito preconceito ainda. São os vizinhos, as piadinhas, você não é
considerado uma pessoa normal. Eu acabei de sair de um relacionamento,
no qual o carinha que supostamente seria o meu par achou que a barra
pesava demais, e que não valia a pena enfrentar todas essas dificuldades.
Mas eu não tenho problemas com isso, estou muito satisfeito do jeito
que sou. (1991)
[ Como cidadão, tenho como postura política ser contra qualquer tipo
de preconceito em relação à sexualidade humana. Principalmente no
caso de bissexualismo, lesbianismo, homossexualismo, pansexualismo,
transexualismo, o que você quiser chamar. (1992)
PREGUIÇA
[ Queria alguém que fizesse tudo o que faço. Não quero trabalhar,
porque você vai progredindo e ficando preguiçoso. (1989)
197
[ Há uns dias, recebi o Prêmio Sharp de Música. O Renato Russo da
Legião sentado ao lado de Elizete Cardoso! Alcione me perguntou se
eu gostava do seu vestido. Todos reunidos: Cazuza, Marina, Christian e
Ralf, Elba Ramalho. Isso é uma loucura para quem começou tocando
rock de garagem e só tinha como ídolo Sid Vicious. (1988)
PRESSÃO
[ Agora eu estou legal, mas estive muito mal na minha vida. Quando
era mais jovem, ficava confuso, estava perdido mesmo, e agora eu
encontrei meu caminho. Eu quase joguei fora metade da minha vida,
com sucesso, com tudo. Foi tudo embora, por causa de drogas, por
causa de estar mal. E algumas músicas refletem um momento na minha
vida de que eu não gosto de lembrar mais. Eu gostaria de lembrar a
todos que é importante o público respeitar o artista também. O Kurt
Cobain, ou aquelas outras pessoas que foram embora cedo demais, às
vezes, tudo aconteceu por causa de pressão, de ter que, de repente,
suprir uma necessidade. É como você escrever uma super-redação,
belíssima, sobre uma coisa que te toca profundamente, e que você não
quis mostrar para ninguém. Mas você leu a redação e, de repente, você
virou a estrela, e todo mundo quer ler a sua redação sobre aquela coisa
mais íntima. Chega uma hora em que você vai falar assim: "Não! Isso
aqui é meu! Vamos com calma! Isso já foi publicado num livro e tudo,
mas agora vamos com calma. Eu não tenho que, em toda festa de
aniversário: 'Mãe, eu não vou ler a minha redação. Sinto muito'." Com
as músicas da gente, rola isso. (1994)
PROCESSO CRIATIVO
[ Aqui em Brasília, eu fico parado, observando, pensando nas coisas
que têm acontecido. Converso com as pessoas. E as coisas vão saindo.
Mas as letras vão ser sempre em cima de experiência dos quatro. É por
isso que é superimportante a gente voltar a conversar, a trocar idéias.
Não que a gente estivesse brigado, mas estávamos superdistantes, porque era tanta coisa
acontecendo, que a gente só se encontrava meio às pressas. (1987)
198
[ Meu processo criativo mudou. Não sei explicar. Eu, pelo menos, não
tenho mais necessidade de — tipo assim — trepar e gozar. Agora eu
aprendi: posso ficar cinco horas no beijinho, abracinho, pega aqui, pega
ali. "Bem, vamos tomar um iogurte?". "Vamos". Aí, fica lá com o iogurte...
Porque, antigamente, era aquela coisa: blumpt, tem que gozar; ploft,
gozou. Naquela época, eu estava tão tarado para conseguir alguma coisa que, vamos, um,
dois, três... Hoje em dia, você está mais aberto para outras coisas. (1989)
[ O processo criativo é um processo lento. Enquanto bolamos as músicas,
já começamos a pensar no que dizer na letra. Essa música tem cara de
quê? A música começa na bateria e no baixo, e começamos a tentar
encaixar palavras que combinem com a música. Letra é complementação,
e grande parte da força da letra está na música. (1989)
PROFESSOR
[ Eu dava aulas de Inglês
[na Cultura Inglesa, em Brasília] por dinheiro,
mas adorava. Depois que terminar as coisas que estou fazendo, pretendo
voltar a dar aula. Eu tentava ser para os alunos um mentor, alguém em
que eles pudessem confiar, o que falta muito hoje em dia. Se eu não
tivesse tido professores legais, talvez hoje estivesse trabalhando no Banco
do Brasil. (1986)
[ Fui um bom professor, tanto que mandavam os piores alunos para
mim. Não fazia milagres, mas um aluno com média 3 passava para 6.
Hoje em dia, tem essa coisa toda de aprender rock em aula de Inglês,
falar de Mel Gibson e tudo. Na minha época, não tinha nada disso. Aí,
comecei a dar música do B-52's, dos Ramones. Distribuía instrumentos
musicais para os alunos. Claro que tinha um prato, que eu dava para o
mais bagunceiro da turma. Acho que, se for fazer outra coisa na vida,
vai ser dar aula — mas não para adolescentes, que são muito complicados.
(1995)
199
[ Não sou viciado. Eu não posso tomar drogas. Sou alcoólatra e
dependente químico. Freqüento um grupo de apoio, de auto-ajuda, de
pessoas que têm o mesmo problema, que se reúnem para se dar força.
Estou seguindo a Programação dos 12 Passos, que não tem nada a ver
com religião, mas é uma coisa espiritual. A programação faz com que
você tome uma consciência espiritual, sem necessitar do álcool. Mas
não é um processo de desintoxicação. (1994)
[ Descobri que existe essa programação que, basicamente, te mostra
como levar a sua vida, enfrentando os baques, os problemas e até as
coisas boas, sem precisar recorrer a nada. Antes, tudo era uma desculpa
para eu sair da realidade. E, com essa programação, eu aprendi que a
realidade não é a coisa mais maravilhosa do mundo, mas também não é
a pior. Eu tenho dias ótimos, eu tenho dias ruins, mas não é por isso que
eu vou ficar por aí me matando, me destruindo. (1994)
[ Em 1990, fui para a Vila Serena, uma clínica de desintoxicação no
Rio de Janeiro, e fiquei lá um mês. É o próprio paciente que tem que ir.
Não adianta a família levar, você tem de estar andando. Lá, eu fazia
ginástica, tocava sino, me alimentava muito. Todo mundo é tratado igual. (1995)
[ É fundamental que a família do dependente tenha apoio, porque a
família inteira adoece junto com ele. Temporada em clínica também
pode ser bom. Já vi livros que dizem que clínica é como um campo de
concentração, o que é uma bobagem. Você precisa de acompanhamento,
porque é muito sofrimento parar com a droga. Durante a desintoxicação,
você precisa de um acompanhamento clínico e psiquiátrico. (1995)
[ Na hora em que você chega no fundo do poço é que você acorda, mas
o fundo do poço é diferente para cada um. Terapia não funciona,
candomblé não funciona, psicanálise não funciona. Ou a pessoa descobre
a religião ou ela segue os 12 passos do NA
[Narcóticos Anônimos] e do
AA
[Alcoólicos Anônimos]. (1995)
200
Eu adoro progressivo! porque não me faz pensar. E música escapista.
Estou ouvindo o
Nursery Cryme, do Gênesis, imagina... Não todo dia, é claro. Mas eu
voltei a colocar na vitrola. Na MTY se você pega o programa certo, têm umas coisas
muito boas... eles passam De-Falla! Mas, às vezes, eu quero ouvir coisas que me
acalmem. É todo meu imaginário, é o que eu ouvia quando tinha 11, 12, 13 anos... E
têm bandas que eu nem percebia como eram boas... Eu achava Emerson, Lake &
Palmer o máximo — hoje eu ouço e sei que é creca, aquilo não é bom de jeito nenhum.
Agora, você pega o
Lark's Tongues in Aspic ou até o Islands, do King Crimson, e tirando
aquelas coisas barrocas... Cara,
Ladies of the Road é bom para caralho! (1992)
PROPRIEDADES
[ Só o meu apartamento. (1994)
PÚBLICO
[ O público tem inteligência: ele escuta a Legião sem jabá. O mais
importante é o artista fazer as coisas que ele respeita. Aí, as pessoas
passam a respeitar. (1988)
[ Nosso público tem um perfil que eu acho muito bonito. São pessoas
que não são racistas, não são fascistas, que buscam uma determinada
ética frente ao mundo complicado que têm. Fico feliz de tentar trabalhar
com o que acredito, e o que acredito passar na música. Não existe
confusão. (1995)
PUNK
[ Sempre quis ser igual aos Beatles, ter uma banda, mas achava
impossível, porque não sabia tocar nada. Daí, surgiu o punk, que eu
ouvi quando todos começaram a gostar de
disco music, e pensei: "Ah,
para fazer quatro acordes, até eu!". (1986)
201
[ Nós fazíamos até os
buttons com durepox. Começamos o movimento
punk sem que ninguém soubesse direito o que ele era e o que significava.
Eu, Felipe Lemos e André Pretorius, também do Aborto Elétrico,
acompanhávamos a evolução musical no mundo e nos inspiramos nos
Sex Pistols, Gang of Four, Public Image. Quando começaram a surgir
os punks paulistas, Brasília já tinha tido os seus, e fervilhava com as
bandas de rock. (1987)
[ A gente era um híbrido, entre o querer ser uma
tribo punk e uma
ligação com uma geração anterior. Brasília tinha muito disso — pessoas
que faziam teatro coletivo, transavam alimentação natural, pintura
batik,
faziam suas próprias roupas — e, para a gente, isso foi uma ponte para
a coisa coletiva dos punks. Foi só quando a gente viajou para São Paulo
é que percebemos que não éramos bem punks. Ficamos com medo da
metrópole, aquela sujeira toda. (1988)
[ A gente achava que nós éramos os únicos punks do Brasil! (1989)
[ O movimento punk foi uma coisa estritamente musical, no início.
Depois, com o discurso e aumento do movimento, é que pintou essa
visão mais radical. Se você prestar bastante atenção no discurso punk,
você percebe que eles falavam a mesma coisa que o pessoal dos 60. O
Sex Pistols falava a mesma coisa, só que com toda aquela agressividade
dos 70, tipo
my generation. Era outro jeito de falar de amor, porque é
algo do que o ser humano não pode escapar. Alguém pode passar o
resto da vida martelando a sua guitarra e dizendo que odeia todo mundo,
mas não se esqueça: quando Johnny Rotten cantava
And I dorít care,
ele era a pessoa que mais se importava. Isso eu sei, porque a Legião
Urbana usou o mesmo discurso punk no início. Uma coisa totalmente
niilista, destrutiva e anarquista, mas que, no fundo, estava falando que
queria paz e harmonia no mundo. Aconteceu que, na nossa cabeça, as
pessoas dos 60 tinham falado disso da maneira mais clara possível, através
de flores e de amor. Não deu certo; então, vamos falar de outra maneira,
mais dura. Mas ficou do punk um certo ranço negativista, porque muita
202
gente que ia aos shows ou curtia o movimento não entendia o espírito de catarse que é
aquilo. Pintava, como em tudo, um monte de boçais e patetas que usavam toda aquela
virulência para despejar agressividade contra outras pessoas. (1989)
[ O punk rock
movie — que mostra o Clash no começo, Siouxsie —
conheci só no Rose Bombom
[casa noturna de São Paulo]. Fiquei
horrorizado! Se soubesse como era na época em que a gente estava em
Brasília... Não tínhamos vídeos, nada. Então, o Sid Vicious se cortando
com a gilete, sabe, aquilo era muito, muito negativo. Paradoxalmente, a
gente tinha essa coisa toda do punk, mas era muito positivo — pegávamos
sol de manhã, íamos ao rio, uma coisa supernatural. Quando fui a São
Paulo, pensei: "Opa! Isso é verdade?". Quando tocamos no Napalm,
meu Deus
1. Que paranóia1. Se eu soubesse, tenho certeza de que não
tinha batido tão forte. Imagine eu, que tenho formação católica... (1989)
[ Eu tive um professor de Inglês... Ele até se matou em São Paulo —
quando a gente fica velho é tão horrível; tem gente que se matou...
Bem, ele foi para a Inglaterra e eu fiz uma lista de discos para ele trazer.
Ele até contou uma história gozada: foi uma tia dele quem tinha ido
comprar os discos. Ela era uma dessas velhinhas riquíssimas e ficou
horrorizada ao entrar na loja e ter de pedir discos com aqueles nomes.
Ele trouxe um livro cor-de-rosa que falava dos primeiros punks, com
fotos e tudo. Era dali que eu tirava meus modelos: usava um grampo
aqui na boca, outro aqui no rosto. Eu furava de verdade! As pessoas
ficavam horrorizadas! E, também, os primeiros
singles do Sham 69,
produzidos pelo John Cale. Dois minutos de música e eu ouvia o dia
inteiro! (1989)
[ A gente era punk punk do começo. De ouvir o primeiro
single punk,
o
New Rose, do Damned, e o primeiro LP punk, que foi o dos Ramones.
Naquele momento, não tinha essa coisa política, organizada, que veio
com outras bandas depois, tipo Agnostic Front, The Clash, The Fall.
No começo, era mais aquela coisa: "Você não precisa saber tocar para
subir num palco". Então, todo mundo formava banda. A gente não era
situacionista, nem anarquista. A gente falava sobre certas coisas, mas
basicamente eram diversão, rock'n'roll e sexo. O pessoal mais
203
conscientizado era o de São Paulo e Rio, como o Coquetel Molotov. Tinham pessoas
que chamaram atenção para o movimento punk. Aí, começou toda aquela questão de
ser punk, ser traidor do movimento. Para a gente, não era bem isso, não. O negócio era
rock'n'roll: subir, tocar e vamos embora. Tanto é que eu ouvia Bob Dylan e ouvia Sex
Pistols. Ouvia Public Image e ouvia, sei lá... Jefferson Airplane. Se eu gostava da
música, eu ouvia. Deixei de ouvir muita coisa, porque realmente não dava para ouvir
Sex Pistols e continuar ouvindo.. sei lá, Yes. Mas, hoje em dia, eu voltei a ouvir Yes.
(1994)
[ Minhas bandas favoritas eram o Gang of Four, PIL e The Cure. Eu usava roupa tipo
Joy Division, suéter assim. Aí, de repente, tinha aquele pessoal com visual punk. As
meninas se vestiam mais tipo B-52's. A gente fazia roupa punk. Eu fui preso por usar
roupa punk. (1994)
[ O punk foi muito importante. O que é impressionante é perceber que o punk foi
mais importante do que eu achava que era. Eu tive a sorte de participar. Mudou o
mundo pop completamente, de uma maneira que só os Beatles, os Rolling Stones e
a "invasão britânica" conseguiram. (1995)
204
[ Eles moram em Brasília. Gosto muito deles. Mas, depois de certa idade, você não
consegue morar junto. Cria muito atrito. (1990)
[ Para mim, o mais importante, com a chegada do meu filho, foi a
mudança da minha relação com meus pais. Passei a ver toda a situação
de uma maneira diferente. Pintou mais respeito, pintou mais
consideração. Os pais são sempre pais e, às vezes, a gente tem que se
distanciar um pouco para perceber que eles são pessoas normais. É tão
forte a relação da gente com eles que, quando criança, você acha que
são heróis; na adolescência, nega tudo, acha que são horrorosos. Até o
momento em que meu filho nasceu, eu nunca havia percebido meus
pais como indivíduos. Talvez eu pensasse nisso antes, também. Mas,
para mim, eles sempre foram pai e mãe. Agora, não. Existem o Renato,
a Carminha e eu. (1990)
[ Eles diziam: "Quer comparar sua guitarra? Vai trabalhar, economize e
compre". Isso me ajudou muito. (1995)
[ Meus pais são maravilhosos, estão juntos até hoje. Tive muito problema
com isso, porque me senti culpado durante a adolescência, por não
corresponder às expectativas deles, de uma vida bem-comportada. Eles
são super-simpáticos, inteligentes, têm um casamento de sonhos,
maravilhoso e tal. Para mim, tudo isso era um carma. Eu era — e ainda
sou — um pouco terrível. (1995)
189
[
Pais e filhos é especificamente sobre a nossa situação [dos componentes
da Legião],
pois nós três, agora, somos pais. E este disco é extremamente
universal, não está tão ligado ao momento. Daqui a 20 anos, vamos
poder ouvir
Pais e filhos. (1990)
[ Esta música é sobre suicídio. Ela é muito, muito séria. Me desgasta
para caralho quando a gente toca, e as pessoas não percebem. É sobre
uma menina que tem problemas com os pais, ela se jogou da janela do
quinto andar, e não existe amanhã. Eu acho bacana, é uma música bonita,
mas existe um clima em tomo de algumas músicas da gente que me
assusta. Quer dizer, cada pessoa interpreta à sua maneira, mas isso é
uma música seríssima, é que nem
índios. Eu não agüentaria ouvir duas
vezes seguidas. Eu gostaria, então, que as pessoas prestassem atenção
na letra e vissem que é uma coisa muito forte. (1994)
PAIXÃO
[
Stonewall é um disco sobre paixão. Eu precisava exorcizar aquela
coisa de você se anular por uma pessoa. Eu escolhi canções que tivessem
a ver com a história da grande paixão da minha vida. Eu vivi uma relação
muito intensa, muito difícil, com um americano. Ele vivia no gueto de
São Francisco — era gay de carteirinha. Ele veio para o Brasil — ele era
lindo, louro — e as meninas deram em cima. Aí veio aquela coisa de
macho, porque todo homossexual masculino é macho, não adianta. Ele
era dependente químico também, a gente viveu uma relação Sid & Sid.
Ele, de
speed, e eu, de álcool e tranqüilizantes. Vento no litoral fala
justamente disso: "Lembra que o plano era ficarmos bem". Era o nosso
plano. Só que não deu certo. (1994)
PALAVRA MAIS BONITA
[ Toda vez que eu leio o
Perfil do Consumidor, penso no que falaria.
Toda palavra pode ser bonita, depende de quem fala e se é dita com
sinceridade. Eu adoro quando a pessoa que me ama me chama pelo
nome. (1994)
190
[ Qualquer uma que é dita por pessoas intolerantes e injustas. (1994)
PALAVRA PREFERIDA
[ Essência. (1994)
PALAVRA QUE MAIS USA
[ Eu. (1994)
PALAVRAS QUE SEDUZEM
[ Espírito, bondade, desejo. (1994)
PALCO
[ Eu gosto muito do palco. Mas é assim: está tudo pronto? Então, entro e toco. Agora,
ensaiar, passagem de som, viagem, comida de hotel, gente berrando, segurança batendo
em fã, extorsão, cambista... isso eu não gosto. (1994)
[ Sei que é uma bobagem dizer isso, mas, para mim, o palco é sagrado. O que dificulta é a
expectativa do público e a nossa responsabilidade. E ter de cantar as mesmas músicas
sempre. (1995)
PARALAMAS DO SUCESSO
[ O melhor baixista do rock brasileiro é o Bi Ribeiro, dos Paralamas. Ele só tem que
tirar aquela barba. Eu digo: "Tira essa barba, menino. Vem cá, eu vou barbear você".
Ele é tão bonito, parece aqueles garotos de Beyerly Hills. O João Barone, também, é
ótimo. Em termos de música, não tem ninguém para os Paralamas. (1994)
[ Os nossos padrinhos eram os Paralamas, porque o Bi era amigo de
191
Ico
[irmão de Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial] levar para a França, para o George
Davidson, da Odeon, que quis saber quem eu era. Só que, nessa época, eu já estava com
a Legião, e eles não sabiam. Quando nos viram, tomaram um susto, porque era mais um
trio de Brasília com vocalista de óculos. (1995)
[ As melhores coisas são as demos dos Paralamas. No dia em que você
ouvir a demo de
A dama e o vagabundo, você vai dizer: "Esta é a melhor
banda do universo!" (1996)
PASSADO
[ Eu não renego o meu passado. Se tivesse que fazer tudo de novo, eu
faria tudo de novo, porque é da minha personalidade. O legal é que eu
aprendi. (1990)
PATO FU
[ Ah, eu acho eles maravilhosos... Eu gosto muito de
Sobre o tempo, é
claro, e de
Vida besta. É muito legal, é muito legal. Eles me lembram
Os Mutantes, mas de uma outra maneira. (1995)
PATROCÍNIO
[ Se aparecesse hoje um Mozart ou um Michelangelo, eles iam ter que
procurar patrocínio! (1994)
PATRULHA IDEOLÓGICA
[ Eu acho que você não pode ser um fascista cultural. Esse negócio de
patrulha ideológica é a coisa mais furada do mundo. As pessoas mais
bonitas que eu conheço são justamente as pessoas mais abertas. (1985)
192
[ Não tenho nada contra ele. Mas é muito fácil ficar em Nova York,
ganhando em dólar, e falar: "Vocês aí são uns índios, porque não
conhecem a Cecília Bartoli cantando Haendel". Vai à merda! A gente
não conhece porque não tem dinheiro. Dá isso para o povo, para ver se
ele não vai querer. Nós, brasileiros, somos crianças. Mas criança entende
e adora tudo o que é belo, o que é poesia. (1994)
[ O Paulo Francis é um ressentido, em Nova York, com 60 anos de
idade, escrevendo sobre o restaurante onde come, lendo a
New Yorker,
pinçando certas coisas dali e falando o que leu na revista. Eu acho que
ele está gagá. (1994)
PAZ DE ESPÍRITO
[ Hoje em dia, não temos Vietnã ou amor livre, mas temos Nicarágua
e Aids. O ser humano sempre procura a paz de espírito, em qualquer
época. (1989)
PERFUME
[ Tenho uma tendência ao cheiro natural das pessoas, mas os meus
perfumes preferidos são
Egoist, da Chanel, e Incense. (1994)
PERSONAGENS
[ Gostaria de conhecer Eduardo e Mônica. Já Andrea Doria é a mesma
menina de
Ainda é cedo, e eu não gostaria de revê-la na minha frente.
(1987)
PERSONALIDADE
[ Betinho
[o sociólogo Herbert de Souza]. (1994)
PETS SOUNDS'
[clássico da engenharia sonora, lançado pelos Beach Boys em
1967]
193
E, também, a gente já tem as nossas formulinhas — o Bonfá é bem implicante em
relação a isso. Você assiste àquele
Acústico da MTV e parece que ele está com prisão de
ventre, detestando estar lá. Isso ninguém sabe, tipo: "Sou baterista, não percussionista!
Não vou ficar lá tocando aquele sininho ridículo!" (1996)
PIOR MÚSICA
[ Não sei. É a que a gente não termina. Das que foram lançadas, não
gosto de uma chamada
Depois do começo [do disco Que País é Este —
1978/19877. Não é ruim, mas eu não gosto. É pretensiosa, babaca.
(1994)
PLANO REAL
[ Estou bem assustado com essa história e andando com uma tabelinha de conversão.
Meu medo é de que as pessoas saiam aumentando os preços. Se vai dar certo, não
tenho a mínima idéia. Talvez funcione, mas a gente está tão cansado, que ninguém
leva fé. (1994)
PLANOS
[ Um dos meus planos é — quando eu estiver com uns 40, 50 anos —
escrever ficção. Eu tenho a minha vida toda planejada. (1986)
[ Meus planos são rock'n'roll, cinema e literatura. Cinema é muito
difícil. Mas literatura eu quero treinar agora, porque, quando eu tiver já
uma carga de vida, aí eu posso escrever. Eu acredito que você tem que
passar pelo tempo para poder escrever como o Drummond, o Garcia
Márquez, o Thomas Mann. Meu plano é dominar a técnica para, depois,
escrever minhas historinhas. Mas é difícil, a língua portuguesa é muito
difícil. Meu plano é ser maior do que Shakespeare... É sempre bom ter
um sonho. Eu estou guardando todas as pequenas histórias. Uma coisa
para a qual eu estou me esforçando é ter uma disciplina mental, não no
sentido besta da palavra, mas para organizar e tentar lembrar coisas que
194
[ Eu sou muito ambicioso. Imagine se eu vou começar a escrever agora!
Por enquanto, um pequeno texto que as pessoas todas cantem. (1989)
POESIA
[ Gosto de Adélia Prado e, dos poetas ingleses, tenho tara por
Shakespeare. Leio pouca coisa dele, porque tenho dificuldade de ler o
inglês antigo — é muito onírico, tem muita nota de rodapé. Gosto mais
dele quando vai para o lado do amor, ele tem muitas musas. Tem também
um poeta chamado W H. Auden, que acho legal. (1988)
[ Em termos de construção, eu me interesso mais pela poesia inglesa.
Mas, em termos de temática, Fernando Pessoa e Carlos Drummond.
Aí, sim... (1988)
POETAS DO ROCK BRASILEIRO
[ Eu não sei onde estão os maiores poetas da nova geração da música
brasileira, porque eu só conto uns três ou quatro. Um é o Cazuza. Têm
o Cadão Volpato, do Fellini, Humberto Gessinger, dos Engenheiros do
Havaí, o Arnaldo Antunes e o Sérgio Brito, dos Titãs. Não tenho
distanciamento para analisar, mas acho que, da nova geração, o maior é
o Cazuza. E, em seguida, na minha opinião, vem o Cadão Volpato. Mas,
quanto a isso, eu não penso em mim. Antes de pensar que eu sou o
letrista, eu penso que nós somos a Legião Urbana. (1989)
POLÍTICA
[ Eu não gosto muito de falar de política, não. O máximo que posso
fazer é pegar uma música no baú, uma música de dez anos atrás, e ficar
cantando e reclamando. O que é que eu vou fazer? Virar político,
deputado, para ser massacrado pelo rolo compressor do Centrão
[grupo
de centro-direita que, na época, era maioria no Congresso Nacional]?
Mas eu não entendo dessas coisas, eu não gosto de falar dessas coisas. A
195
passou de 8 mil para 35 mil. O que eu sei é o que eu vejo na televisão, os caras se
digladiando lá no Congresso Nacional, como se fossem animais. (1987)
[ Acho que a função do artista está mais ligada a pão e circo. Mesmo
que sejam pão e circo emotivos, uma coisa que vá te alimentar
psiquicamente. Entendo que o artista não deve se envolver em política
partidária. Faço uma política diferente: falo de coisas que interferem
na minha vida. Em outra época, talvez não estivesse falando
Que país é
este.
Para mim, vai ser muito fácil fazer uma música para alguém que
perdeu o emprego, porque estou vendo isso, tenho muitos amigos nessa
situação. São coisas que me tocam emocionalmente. Chego, então,
nesses assuntos ligados à política do Estado através da emoção.
Simplesmente, fui tocado pelos fatos, e isso filtra nas músicas, embora
eu não tenha nenhum plano e não entenda de política. (1988)
[ Não queremos mais falar de política da maneira como falamos nos
primeiros discos. A partir do momento em que fizemos músicas como
índios
e Tempo perdido, percebemos que poderíamos muito bem abordar
a política sem ter que ser panfletários. (1992)
POPULARIDADE
[ Eu não sinto que deva utilizar minha figura pública para ser
espalhafatoso, ou para ser chique e charmoso. Tenho os meus amigos e,
se estou a fim de
peruar, não vou fazer isso em público. Prefiro me
guardar para as pessoas que me conhecem. Só uso o fato de ser conhecido
para receber um bom tratamento em aeroportos, restaurantes, coisas
práticas do dia-a-dia. (1991)
'POR ENQUANTO' —
1984/1995' [caixa que reuniu os seis primeiros
discos da Legião, remasterizados]
[ A Legião está lançando os seis primeiros discos, remasterizados em Londres, com
uma produção gráfica atualizada. Consertamos tudo.
196
Espero que isto chame a atenção das pessoas para o que foi feito nesse período. Você vai
ouvir todos os erros: é a mesma mixagem, os mesmos arranjos, mas o som vem menos
velado. Embora a gente não tenha mexido na mixagem, os discos vêm com essa
sonoridade mais atual, mais dentro dos padrões da indústria nos anos 90. (1995)
[ Com este relançamento, fica claro — mesmo nas canções feitas há
oito anos — como é possível se identificar com as letras, sem achar que
nós não temos mais a ver com isso. (1995)
PRAZERES
[ Os meus amigos, a minha família, trabalhar. Bons filmes, bons vídeos,
música, muita coisa. (1995)
PRECONCEITO
[ Vai admitir que você gosta de homem nesta terra, meu filho! Nem
para ganhar dinheiro uma pessoa arriscaria passar pelo que eu passei.
Tem muito preconceito ainda. São os vizinhos, as piadinhas, você não é
considerado uma pessoa normal. Eu acabei de sair de um relacionamento,
no qual o carinha que supostamente seria o meu par achou que a barra
pesava demais, e que não valia a pena enfrentar todas essas dificuldades.
Mas eu não tenho problemas com isso, estou muito satisfeito do jeito
que sou. (1991)
[ Como cidadão, tenho como postura política ser contra qualquer tipo
de preconceito em relação à sexualidade humana. Principalmente no
caso de bissexualismo, lesbianismo, homossexualismo, pansexualismo,
transexualismo, o que você quiser chamar. (1992)
PREGUIÇA
[ Queria alguém que fizesse tudo o que faço. Não quero trabalhar,
porque você vai progredindo e ficando preguiçoso. (1989)
197
[ Há uns dias, recebi o Prêmio Sharp de Música. O Renato Russo da
Legião sentado ao lado de Elizete Cardoso! Alcione me perguntou se
eu gostava do seu vestido. Todos reunidos: Cazuza, Marina, Christian e
Ralf, Elba Ramalho. Isso é uma loucura para quem começou tocando
rock de garagem e só tinha como ídolo Sid Vicious. (1988)
PRESSÃO
[ Agora eu estou legal, mas estive muito mal na minha vida. Quando
era mais jovem, ficava confuso, estava perdido mesmo, e agora eu
encontrei meu caminho. Eu quase joguei fora metade da minha vida,
com sucesso, com tudo. Foi tudo embora, por causa de drogas, por
causa de estar mal. E algumas músicas refletem um momento na minha
vida de que eu não gosto de lembrar mais. Eu gostaria de lembrar a
todos que é importante o público respeitar o artista também. O Kurt
Cobain, ou aquelas outras pessoas que foram embora cedo demais, às
vezes, tudo aconteceu por causa de pressão, de ter que, de repente,
suprir uma necessidade. É como você escrever uma super-redação,
belíssima, sobre uma coisa que te toca profundamente, e que você não
quis mostrar para ninguém. Mas você leu a redação e, de repente, você
virou a estrela, e todo mundo quer ler a sua redação sobre aquela coisa
mais íntima. Chega uma hora em que você vai falar assim: "Não! Isso
aqui é meu! Vamos com calma! Isso já foi publicado num livro e tudo,
mas agora vamos com calma. Eu não tenho que, em toda festa de
aniversário: 'Mãe, eu não vou ler a minha redação. Sinto muito'." Com
as músicas da gente, rola isso. (1994)
PROCESSO CRIATIVO
[ Aqui em Brasília, eu fico parado, observando, pensando nas coisas
que têm acontecido. Converso com as pessoas. E as coisas vão saindo.
Mas as letras vão ser sempre em cima de experiência dos quatro. É por
isso que é superimportante a gente voltar a conversar, a trocar idéias.
Não que a gente estivesse brigado, mas estávamos superdistantes, porque era tanta coisa
acontecendo, que a gente só se encontrava meio às pressas. (1987)
198
[ Meu processo criativo mudou. Não sei explicar. Eu, pelo menos, não
tenho mais necessidade de — tipo assim — trepar e gozar. Agora eu
aprendi: posso ficar cinco horas no beijinho, abracinho, pega aqui, pega
ali. "Bem, vamos tomar um iogurte?". "Vamos". Aí, fica lá com o iogurte...
Porque, antigamente, era aquela coisa: blumpt, tem que gozar; ploft,
gozou. Naquela época, eu estava tão tarado para conseguir alguma coisa que, vamos, um,
dois, três... Hoje em dia, você está mais aberto para outras coisas. (1989)
[ O processo criativo é um processo lento. Enquanto bolamos as músicas,
já começamos a pensar no que dizer na letra. Essa música tem cara de
quê? A música começa na bateria e no baixo, e começamos a tentar
encaixar palavras que combinem com a música. Letra é complementação,
e grande parte da força da letra está na música. (1989)
PROFESSOR
[ Eu dava aulas de Inglês
[na Cultura Inglesa, em Brasília] por dinheiro,
mas adorava. Depois que terminar as coisas que estou fazendo, pretendo
voltar a dar aula. Eu tentava ser para os alunos um mentor, alguém em
que eles pudessem confiar, o que falta muito hoje em dia. Se eu não
tivesse tido professores legais, talvez hoje estivesse trabalhando no Banco
do Brasil. (1986)
[ Fui um bom professor, tanto que mandavam os piores alunos para
mim. Não fazia milagres, mas um aluno com média 3 passava para 6.
Hoje em dia, tem essa coisa toda de aprender rock em aula de Inglês,
falar de Mel Gibson e tudo. Na minha época, não tinha nada disso. Aí,
comecei a dar música do B-52's, dos Ramones. Distribuía instrumentos
musicais para os alunos. Claro que tinha um prato, que eu dava para o
mais bagunceiro da turma. Acho que, se for fazer outra coisa na vida,
vai ser dar aula — mas não para adolescentes, que são muito complicados.
(1995)
199
[ Não sou viciado. Eu não posso tomar drogas. Sou alcoólatra e
dependente químico. Freqüento um grupo de apoio, de auto-ajuda, de
pessoas que têm o mesmo problema, que se reúnem para se dar força.
Estou seguindo a Programação dos 12 Passos, que não tem nada a ver
com religião, mas é uma coisa espiritual. A programação faz com que
você tome uma consciência espiritual, sem necessitar do álcool. Mas
não é um processo de desintoxicação. (1994)
[ Descobri que existe essa programação que, basicamente, te mostra
como levar a sua vida, enfrentando os baques, os problemas e até as
coisas boas, sem precisar recorrer a nada. Antes, tudo era uma desculpa
para eu sair da realidade. E, com essa programação, eu aprendi que a
realidade não é a coisa mais maravilhosa do mundo, mas também não é
a pior. Eu tenho dias ótimos, eu tenho dias ruins, mas não é por isso que
eu vou ficar por aí me matando, me destruindo. (1994)
[ Em 1990, fui para a Vila Serena, uma clínica de desintoxicação no
Rio de Janeiro, e fiquei lá um mês. É o próprio paciente que tem que ir.
Não adianta a família levar, você tem de estar andando. Lá, eu fazia
ginástica, tocava sino, me alimentava muito. Todo mundo é tratado igual. (1995)
[ É fundamental que a família do dependente tenha apoio, porque a
família inteira adoece junto com ele. Temporada em clínica também
pode ser bom. Já vi livros que dizem que clínica é como um campo de
concentração, o que é uma bobagem. Você precisa de acompanhamento,
porque é muito sofrimento parar com a droga. Durante a desintoxicação,
você precisa de um acompanhamento clínico e psiquiátrico. (1995)
[ Na hora em que você chega no fundo do poço é que você acorda, mas
o fundo do poço é diferente para cada um. Terapia não funciona,
candomblé não funciona, psicanálise não funciona. Ou a pessoa descobre
a religião ou ela segue os 12 passos do NA
[Narcóticos Anônimos] e do
AA
[Alcoólicos Anônimos]. (1995)
200
Eu adoro progressivo! porque não me faz pensar. E música escapista.
Estou ouvindo o
Nursery Cryme, do Gênesis, imagina... Não todo dia, é claro. Mas eu
voltei a colocar na vitrola. Na MTY se você pega o programa certo, têm umas coisas
muito boas... eles passam De-Falla! Mas, às vezes, eu quero ouvir coisas que me
acalmem. É todo meu imaginário, é o que eu ouvia quando tinha 11, 12, 13 anos... E
têm bandas que eu nem percebia como eram boas... Eu achava Emerson, Lake &
Palmer o máximo — hoje eu ouço e sei que é creca, aquilo não é bom de jeito nenhum.
Agora, você pega o
Lark's Tongues in Aspic ou até o Islands, do King Crimson, e tirando
aquelas coisas barrocas... Cara,
Ladies of the Road é bom para caralho! (1992)
PROPRIEDADES
[ Só o meu apartamento. (1994)
PÚBLICO
[ O público tem inteligência: ele escuta a Legião sem jabá. O mais
importante é o artista fazer as coisas que ele respeita. Aí, as pessoas
passam a respeitar. (1988)
[ Nosso público tem um perfil que eu acho muito bonito. São pessoas
que não são racistas, não são fascistas, que buscam uma determinada
ética frente ao mundo complicado que têm. Fico feliz de tentar trabalhar
com o que acredito, e o que acredito passar na música. Não existe
confusão. (1995)
PUNK
[ Sempre quis ser igual aos Beatles, ter uma banda, mas achava
impossível, porque não sabia tocar nada. Daí, surgiu o punk, que eu
ouvi quando todos começaram a gostar de
disco music, e pensei: "Ah,
para fazer quatro acordes, até eu!". (1986)
201
[ Nós fazíamos até os
buttons com durepox. Começamos o movimento
punk sem que ninguém soubesse direito o que ele era e o que significava.
Eu, Felipe Lemos e André Pretorius, também do Aborto Elétrico,
acompanhávamos a evolução musical no mundo e nos inspiramos nos
Sex Pistols, Gang of Four, Public Image. Quando começaram a surgir
os punks paulistas, Brasília já tinha tido os seus, e fervilhava com as
bandas de rock. (1987)
[ A gente era um híbrido, entre o querer ser uma
tribo punk e uma
ligação com uma geração anterior. Brasília tinha muito disso — pessoas
que faziam teatro coletivo, transavam alimentação natural, pintura
batik,
faziam suas próprias roupas — e, para a gente, isso foi uma ponte para
a coisa coletiva dos punks. Foi só quando a gente viajou para São Paulo
é que percebemos que não éramos bem punks. Ficamos com medo da
metrópole, aquela sujeira toda. (1988)
[ A gente achava que nós éramos os únicos punks do Brasil! (1989)
[ O movimento punk foi uma coisa estritamente musical, no início.
Depois, com o discurso e aumento do movimento, é que pintou essa
visão mais radical. Se você prestar bastante atenção no discurso punk,
você percebe que eles falavam a mesma coisa que o pessoal dos 60. O
Sex Pistols falava a mesma coisa, só que com toda aquela agressividade
dos 70, tipo
my generation. Era outro jeito de falar de amor, porque é
algo do que o ser humano não pode escapar. Alguém pode passar o
resto da vida martelando a sua guitarra e dizendo que odeia todo mundo,
mas não se esqueça: quando Johnny Rotten cantava
And I dorít care,
ele era a pessoa que mais se importava. Isso eu sei, porque a Legião
Urbana usou o mesmo discurso punk no início. Uma coisa totalmente
niilista, destrutiva e anarquista, mas que, no fundo, estava falando que
queria paz e harmonia no mundo. Aconteceu que, na nossa cabeça, as
pessoas dos 60 tinham falado disso da maneira mais clara possível, através
de flores e de amor. Não deu certo; então, vamos falar de outra maneira,
mais dura. Mas ficou do punk um certo ranço negativista, porque muita
202
gente que ia aos shows ou curtia o movimento não entendia o espírito de catarse que é
aquilo. Pintava, como em tudo, um monte de boçais e patetas que usavam toda aquela
virulência para despejar agressividade contra outras pessoas. (1989)
[ O punk rock
movie — que mostra o Clash no começo, Siouxsie —
conheci só no Rose Bombom
[casa noturna de São Paulo]. Fiquei
horrorizado! Se soubesse como era na época em que a gente estava em
Brasília... Não tínhamos vídeos, nada. Então, o Sid Vicious se cortando
com a gilete, sabe, aquilo era muito, muito negativo. Paradoxalmente, a
gente tinha essa coisa toda do punk, mas era muito positivo — pegávamos
sol de manhã, íamos ao rio, uma coisa supernatural. Quando fui a São
Paulo, pensei: "Opa! Isso é verdade?". Quando tocamos no Napalm,
meu Deus
1. Que paranóia1. Se eu soubesse, tenho certeza de que não
tinha batido tão forte. Imagine eu, que tenho formação católica... (1989)
[ Eu tive um professor de Inglês... Ele até se matou em São Paulo —
quando a gente fica velho é tão horrível; tem gente que se matou...
Bem, ele foi para a Inglaterra e eu fiz uma lista de discos para ele trazer.
Ele até contou uma história gozada: foi uma tia dele quem tinha ido
comprar os discos. Ela era uma dessas velhinhas riquíssimas e ficou
horrorizada ao entrar na loja e ter de pedir discos com aqueles nomes.
Ele trouxe um livro cor-de-rosa que falava dos primeiros punks, com
fotos e tudo. Era dali que eu tirava meus modelos: usava um grampo
aqui na boca, outro aqui no rosto. Eu furava de verdade! As pessoas
ficavam horrorizadas! E, também, os primeiros
singles do Sham 69,
produzidos pelo John Cale. Dois minutos de música e eu ouvia o dia
inteiro! (1989)
[ A gente era punk punk do começo. De ouvir o primeiro
single punk,
o
New Rose, do Damned, e o primeiro LP punk, que foi o dos Ramones.
Naquele momento, não tinha essa coisa política, organizada, que veio
com outras bandas depois, tipo Agnostic Front, The Clash, The Fall.
No começo, era mais aquela coisa: "Você não precisa saber tocar para
subir num palco". Então, todo mundo formava banda. A gente não era
situacionista, nem anarquista. A gente falava sobre certas coisas, mas
basicamente eram diversão, rock'n'roll e sexo. O pessoal mais
203
conscientizado era o de São Paulo e Rio, como o Coquetel Molotov. Tinham pessoas
que chamaram atenção para o movimento punk. Aí, começou toda aquela questão de
ser punk, ser traidor do movimento. Para a gente, não era bem isso, não. O negócio era
rock'n'roll: subir, tocar e vamos embora. Tanto é que eu ouvia Bob Dylan e ouvia Sex
Pistols. Ouvia Public Image e ouvia, sei lá... Jefferson Airplane. Se eu gostava da
música, eu ouvia. Deixei de ouvir muita coisa, porque realmente não dava para ouvir
Sex Pistols e continuar ouvindo.. sei lá, Yes. Mas, hoje em dia, eu voltei a ouvir Yes.
(1994)
[ Minhas bandas favoritas eram o Gang of Four, PIL e The Cure. Eu usava roupa tipo
Joy Division, suéter assim. Aí, de repente, tinha aquele pessoal com visual punk. As
meninas se vestiam mais tipo B-52's. A gente fazia roupa punk. Eu fui preso por usar
roupa punk. (1994)
[ O punk foi muito importante. O que é impressionante é perceber que o punk foi
mais importante do que eu achava que era. Eu tive a sorte de participar. Mudou o
mundo pop completamente, de uma maneira que só os Beatles, os Rolling Stones e
a "invasão britânica" conseguiram. (1995)
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