GERAÇÃO
[ Minha geração sempre foi tachada de vazia e idiota. Eu não podia
fazer uma besteira. (1992)
[ Música não tem idade. E as pessoas se esquecem de uma coisa
fundamental: essa geração, que hoje está com 30 anos, foi a primeira,
depois da abertura dos anos 60, a entrar em todas as áreas. O pessoal de
publicidade, teatro, cinema, poesia, vídeo, alguns jornalistas. Antes da
geração de Chico, Caetano e Eric Clapton, isso não existia. O que temos,
hoje, é que muitas pessoas estão indo por outras áreas, inclusive para
uma participação política. Os anos 60 foram uma época especial. É a
mesma coisa que dizer que, depois dos anos 40, não apareceu mais
nenhum grande compositor clássico. Claro que não. Por quê? Não sei.
O Chico e o Caetano continuam tão atuais quanto antes. Acho
maravilhoso que volte a haver um respeito pelos nossos maiores artistas
no campo da música. (1994)
[ A nova geração é menos agressiva. É uma geração mais passiva. Já
estão acostumados à violência. Tem Netuno em Sagitário, e não
Escorpião, como a minha geração, que lida com o instinto da morte, é
mais louca, exibicionista, cheia de altos e baixos. Essa geração atual é
mais do "vamos com calma para ver o que vai acontecer". (1995)
GERAÇÃO X
[ Ah, acho esse povo da Geração X muito mal-resolvido. Vai se virar,
vai trabalhar! Não estou falando das pessoas pobres, que têm
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dificuldades. Geração X é classe média. A pessoa é jovem, tem saúde, disposição, o
mundo inteiro pela frente — vai ficar em casa assistindo a Vale a Pena Ver de Novo?
Nem todas são assim. Têm uns dez por cento que fazem as coisas. Os outros ficam por
aí. O que eu posso fazer? (1995)
GINÁSTICA
[ Levantamento de controle remoto. (1994)
[ Esse negócio de caminhar, malhar, não é comigo. (1995)
GIULIANO MANFREDINI [seu filho]
[ Giuliano Manfredini: é tudo italiano, tudo boa gente. (1990)
[ Minha relação com meu filho é maravilhosa. Mas sou bem durão, ele
me respeita. O mais importante é ele saber que meu amor não é
condicional, não depende de nada que ele faça. (1990)
[ A vinda dele foi um acidente. Um belíssimo acidente que mudou
minha vida. (1994)
[ Minha relação com ele é complicada, uma coisa que eu não resolvo e
empurro com a barriga. Ele só viveu comigo, na Ilha do Governador,
pequenininho. Depois, foi viver com meus pais. O Giuliano nasceu em
1989, aí fui para Nova York, inventei que ia ter um grande caso de amor
gay na minha vida. Uma coisa louca. Fiquei muito mal. Como vou falar
para o Giuliano que sou roqueiro e gay? (1995)
[ Não tenho como educar o Giuliano agora. De jeito nenhum. Nossa
relação é ótima, ele está com 6 anos e é esperto. Quero que venha ficar
comigo, um dia. Ele fica com meus pais, em Brasília. (1995)
[ O que acontece é medo, porque eu o adoro demais. Talvez isso se
dilua, se morarmos juntos. Toda vez que eu o vejo, dá uma vontade de
agarrá-lo e dizer: "Giuliano, vai dar tudo certo. Pronto. Fica aqui comigo".
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Mas, então, o que eu vou falar? O que vou fazer? Ele é uma pessoa, e não um
bibelô. Tenho que ter uma relação normal com ele. (1995)
[ Acho que vou ser meio boboca e adolescente o resto da minha
vida; é de minha natureza. Giuliano precisa de uma boa base, porque,
na nossa sociedade, não existe espaço para uma criança filha de um
roqueiro gay. Ele vai ter que ter uma sanidade, vai ter que trabalhar
isso. Nós não temos um padrão de comportamento de pai e filho,
mas a gente tem uma dose de disciplina e respeito muito grande.
(1996)
'GIZ' [faixa do disco O Descobrimento do Brasil]
[ Giz é completinha, perfeitinha. (1994)
[ Esta é a música que eu mais gosto, é a letra que eu mais gosto, é a
coisa que eu mais fico feliz de ter conseguido fazer. (1994)
GLAMOURIZAÇÃO DAS DROGAS
[ Desde pequeno, eu sempre achei as drogas uma coisa superromântica,
um pouco como aquela música do Cazuza: "Meus heróis
morreram de overdose". Mas ninguém mostra o lado ruim da coisa.
Eu sei o que é ficar numa cama tremendo e tendo alucinações. É um
horror. Desta vez, espero ter conseguido, eu saquei que é uma coisa
muito baixa. Não tem glamour nenhum. Você pode estar num
apartamento lindíssimo, ouvindo Cole Porter, mas, se você estiver
caindo de bêbado, você não vale nada. Gente que usa droga é sempre
muito chata; só é legal para quem está drogado também. (1991)
[ Existe uma glamourização da droga, principalmente no rock'n'roll.
É lindo Janis Joplin, é lindo Jimi Hendrix... Não é lindo, não! É
hor r ível, é uma tr isteza, você f ica depr imido, é uma coisa
desagradável. Mas, também, não estou querendo fazer a cabeça de
ninguém. Se a pessoa quer usar, problema dela. Para mim, não
funciona. E eu achei que funcionava. Tem uma coisa na programação,
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que pode até parecer uma coisa brega, mas que quem já passou por esse problema
sabe que não é nenhuma piada. É o seguinte: a droga te dá asa para você voar. Então,
me deram asas para voar. Mas me tiraram o céu! Então, você fica com asas para voar,
mas não tem para onde ir. É exatamente isso. Não foi bonito. Foi horrível, horrível,
horrível! (1994)
[ O Paul McCartney disse, certa vez: "Eu tomo LSD, mas quem
está fazendo o maior escarcéu são vocês, da imprensa". Se o pessoal
vai para o clube e toma ecstasy, isso é com eles; mas, se sai uma
página inteira de jornal dizendo que a juventude inglesa está fazendo
isso e que isso é bacana de se fazer, não me venham depois botar a
culpa no rock'n'roll! Ficam vendo o cara se destruindo no palco e
acham maravilhoso. Eu não acho maravilhoso a Janis Joplin sozinha
num quarto, saindo para comprar heroína, caindo, quebrando a cara
na escada e morrendo. Não acho legal Jimi Hendrix, o maior
guitarrista de todos os tempos, lá, sufocado no próprio vômito. Vem
alguém e diz: "Isso é rock'n'roll". Para mim, isso é burrice. Nunca vi
U2, Dire Straits, Sting, Morrisey e tantos outros glamourizarem o
uso de drogas. Existem milhões de artistas, mas vai todo mundo
ficar falando do Kurt Cobain. Existe uma coisa mórbida que é as
pessoas quererem que os artistas sejam sacrificados em seu lugar. É
uma espécie de expurgo. (1994)
[ Acho que a droga é uma coisa presente em todo o mundo, só que
dona de casa que toma bolinha não sobe ao palco para fazer shows.
Assim como o motorista de ônibus que todos os dias sai do trabalho
e vai tomar uma cervejinha com os amigos. É exatamente a mesma
coisa. O que acontece, no rock, é que existem uma glorificação e
uma glamourização desse tipo de comportamento, porque, por algum
motivo, se acha que isso é uma coisa irreverente, rebelde e ligada à
adolescência. Os artistas estão mais expostos. Chama muito mais
atenção um Kurt Cobain morrer do aquele vizinho do seu prédio
que morreu de cirrose. A glamourização do rock parte da imprensa. (1994)
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GOVERNO
[ O problema é que somos um país sem governo. Parece um navio-fantasma. E tem
muita gente passando fome. (1994)
GRAVADORAS
[ O que eu sinto é que as pessoas não vêem exatamente o que está
acontecendo e picham o rock brasileiro, mas, de certa forma, o rock
brasileiro está dando uma força para as gravadoras, está fazendo
circular o capital, que é uma coisa muito importante. Se ficar
dependendo do pessoal da MPB, não vai para a frente porque, no
momento, não é o que o público quer. No Brasil, é justamente o
sucesso de artistas dentro de uma determinada gravadora que abre
caminho para outros artistas que têm propostas que não são tão
comerciais. (1985)
[ O que as gravadoras fazem é uma coação velada. Te oferecem uma
porção de coisas e vão te implantando idéias: "Sabe aquela música?
Façam uma mudança"... Quando viemos de Brasília, não entendíamos
nada daquilo. A Odeon queria lançar um Bob Dylan do Planalto,
queriam que a gente tocasse Geração Coca-Cola ao violão. Eles
acabaram deixando a gente fazer como queríamos, e vendemos cem
mil cópias. O segundo disco vendeu 700 mil cópias. Enquanto isso,
no mercado, ninguém entendia nada. Como podem existir um Paulo
Ricardo e um Renato Russo, ao mesmo tempo? (1988)
[ Nós estávamos negociando nosso contrato com a gravadora. Disseram que
devíamos um disco. Mas é assim mesmo: o artista, quando faz sucesso, fica
sempre devendo. Se a gente não tivesse dado certo, eles colocavam a gente na
rua, e não teria problema. (1990)
[ Nós negociamos, para o quinto disco, um contrato com total liberdade
artística. Nossa relação com o pessoal da Odeon era quase afetiva e, no momento em
que resolvemos fazer a coisa sozinhos,
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pintou um certo ressentimento. Mas, agora, já está tudo resolvido. É que nós éramos
os "bichinhos mimosos", os enfants gatés da gravadora. Pô, eu estou com 31 anos,
ura homem casado, com filho. Não é mais aquela coisa de "Oi, tio, e o disco, tio?".
Vá falar com os nossos advogados1. Se até o Axl Rose já reclamou da Geffen... (1992)
[ O disco ao vivo Música para Acampamentos saiu numa época em
que estávamos num clima muito ruim com a gravadora. Queríamos
até que o álbum duplo valesse como um único, para efeito de
contrato. Mas eles nos fizeram assinar um outro compromisso, só
por aquele lançamento. Depois de O Descobrimento do Brasil, ainda
ficamos devendo um. Mas o nosso contrato — que só tem dez páginas
— é muito bom para nós. Nem precisamos mostrar o disco para a
gravadora. Temos inteira liberdade e um intervalo de 16 meses entre
um título e outro. (1993)
[ O mais importante foi a gente ter tido a liberdade de mixar até a
gente realmente achar que a coisa estava boa [sobre Equilíbrio
Distante]. Porque gravadora, você sabe, eles podiam ter dito: "Não,
tem que terminar e pronto1." Mas, não; a gente teve todo o apoio do
pessoal — principalmente do João Augusto e do presidente da
gravadora. O João Augusto é realmente um cara cem por cento, gosta
muito de música, e é muito profissional — não deixa passar nada.
Mas, também, a gente tem que lembrar que esse dinheiro não é da
gravadora. Esse dinheiro é meu. Eles não tiraram nenhum dinheiro
mágico e me deram. Isso tudo é investimento, isso tudo vai ter
retorno. E, considerando que a Legião vendeu não sei quantos milhões
de discos, estava mais do que na hora. A gente tem essa ilusão. É que
nem esses roqueiros bobos: "Eu quero tapete vermelho, eu quero
limousine" etc. Vai ser tudo deduzido. "Cadê meu cachê?" "Está
aqui: 30 dólares". "Trinta dólares, por quê?" "Bem, porque teve cinco
noites no Hotel George V, em que você pediu buffet para 300 mil
pessoas..." (1995)
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GUETO
[ Eu acho que cada pessoa tem o direito de ter a orientação sexual
que quiser, e deve ser respeitada por isso. Sou contra qualquer tipo
de gueto. Acho que todas as pessoas têm de viver juntas. (1994)
GUNS N'ROSES
[ Não gostava dos Guns N'Roses, ficava puto com as coisas que o Axl falava.
Hoje em dia, até respeito o cara: ele pensa realmente
desse jeito, e está tendo que assumir a responsabilidade pelo que
diz. Nada é impune. Até comprei um disco do Guns... Só não fico
ouvindo, porque acho que vai ser ura desserviço enorme para o
rock'n'roll. Toda a garotada que está vindo agora vai achar que foram
eles que inventaram todos aqueles riffs. Na verdade, eles chupam os
caras que chupavam dos Stones, que já tinham chupado de alguém
antes... (1992)
GURU
[ Essa estória de ser guru é uma coisa que já me acompanha há
algum tempo, talvez por causa do conteúdo das letras. Desde que a
gente começou, as pessoas observam que os fãs têm uma postura
reverenciai, que eu teria uma postura messiânica nos shows. As
pessoas falam muito isso. Eu não me vejo como um messias ou um
guru — longe disso —, mas falo de coisas que as pessoas também
estão sentindo. Embora tenha escrito Que país é este em 1978, há
dez anos, as coisas realmente não mudaram. Então, é como se a gente
fosse um termômetro do que acontece. E, por termos a sorte de nos
expressar através dos meios de comunicação de massa — falando do
dia-a-dia, do meio em que você vive, o meio urbano, a sociedade
atual —, isso vai bater muito mais nas pessoas. (1988)
Tem gente que me encara como um guru. Na primeira frase de
Será, eu digo: "Tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você". E
no mesmo LP tem: "É só você que deve decidir o que fazer para
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