sexta-feira, 1 de junho de 2007

Letra "F"

FALSIDADE
[ A coisa que eu mais odeio no mundo é falsidade, tipo ficar rindo para quem eu
não gosto ou dando explicações para as pessoas. Elas que se danem. (1986)


FAMÍLIA
[ Até pelo meu histórico familiar, eu preservo a família. Falo mal é
das instituições. Eu já fiz estádio vir abaixo e tomei várias atitudes
rebeldes, mas dou muito valor à família. Porque é ela que me segura.
(1995)

'FAROESTE CABOCLO' [faixa do disco Que País é Este]
[ Eu acho legal que as pessoas gostem da história. Ura motorista de
táxi, outro dia, me disse que tinha um amigo que comprou a fita porque
era, exatamente, a história do irmão dele. O cara tinha saído de Mato
Grosso e ido para Brasília, e morreu num tiroteio no Nordeste. E a
música é totalmente fictícia. (1988)

[ Acho que Faroeste caboclo é uma mistura de Domingo no parque,
de Gilberto Gil, e coisas do Raul Seixas com a tradição oral do povo
brasileiro. Brasileiro adora contar história. E eu também queria imitar
o Bob Dylan. Eu queria fazer a minha Hurricane. (1990)

FÁS
[ É muito legal as pessoas virem falar com a gente, reconhecer o
trabalho da gente. Mas, quanto mais conhecido você fica, mais estranho
é o comportamento das pessoas. Não vêem você como ser humano,
como artista, mas como um objeto que está sendo transmitido pela
TV, pelos meios de comunicação de massa. E isso não é legal, porque
é uma viagem muito destrutiva, tanto para o artista como para o fã.
(1986)

[ Todo fã de rock'n'roll queria estar lá no palco, no lugar do artista.
(1989)

[ Na verdade, a Legião Urbana, hoje em dia, são os fãs. Nós somos
apenas o veículo. (1994)

[ Na questão dos fãs, existe um comportamento passivo—agressivo
por parte dos mais queridos, que é uma coisa que às vezes incomoda,
porque eles te dão muito, mas também querem muito em troca. Eu
recebo muitas cartas, muito anjinho, presentinho e tudo mais. Mas, ai
de mim se não der a atenção que eles merecem. (1995)

[ Nessa coisa dos fãs, é sempre necessário ter um certo discernimento.
Quando eu vejo fã de uniforme, todos eles com bandanas e camisetas
da Legião, jogando coisas no palco...

Eu vou até fazer uma reclamação:
não joguem coisas no palco, pode ser o que for, mas não joguem!
Tirando isso, essa coisa dos fãs é maravilhosa. Tem uma coisa curiosa:
às vezes pinta cada garotão bonito nos shows. Eu fico dando em cima
deles, mas não pode, não é? O que eu sou para eles é uma coisa que
eles construíram no imaginário deles. (1995)

[ Teve uma época em que alguns fãs projetavam as fantasias mórbidas
na minha pessoa. Isso aconteceu também com Cazuza e Lobão. A
maioria das pessoas é legal, mas tem uma minoria que atrapalha, que
quer fazer algazarra. Ai de mim se não tocar Eduardo e Mônica nos
shows. (1995)

[ O que a gente sempre falou foi: "Seja sua própria pessoa". E o que
vejo, em alguns fãs, é a anulação da própria pessoa por causa da Legião
Urbana. E eu acho isso péssimo. (1995)

FASCÍNIO DO SUCESSO
[ O fascínio do sucesso é ter encontrado um jeito de ter poder. É
divertido. (1995)

FASCISMO
[ A gente está entrando nos anos 90 e eu não quero ser mártir da
causa gay, nem nada. Eu tenho um filho. Mas vem esse fascismo, e daí
a controlar a vida das pessoas é um passo.

Os jovens são controlados por causa da televisão. Se você não é bonito, não tem um rosto bemfeito, você não presta. Por que você acha que os Smiths, ou a Legião,
ou bandas como Echo, atingem tão a fundo? Porque falam disso que todo mundo sabe. Até o Jesus & Mary Chain! São meio loucos, mas dizem: "Somos assim mesmo, não estamos errados por causa disso". (1990)

[ Em momentos de caos, de desestruturação da sociedade, existe sempre o perigo do fascismo. Dado o medo que as pessoas têm de uma crise maior, elas se protegem na tradição, família e propriedade. Eu acho que não é uma coincidência que existam tantos programas religiosos na TV hoje em dia. Porque, aí, é Jesus quem vai te salvar, ou o seu sonho de consumo vai te salvar... O planeta está um caos. (1994)

FEEDBACK SONG FOR A DYING FRIEND' [faixa do disco As Quatro
Estações] [ Esta música é de 1985 e, antes, o título era apenas Feedback, um
trocadilho sobre o feedback da guitarra. Na tradução de Millôr
Fernandes, ele deu uma interpretação livre. Depois que a música ficou
pronta, eu pensei: "Meu Deus, isto aqui poderia ter sido para o
Cazuza!". Principalmente por causa de duas frases: "A meu único rival
eu devo obedecer" e "Vai comandar nosso duplo renascer". (1989)

[ Eu adoro cantar em inglês, meu inglês é legal. Feedback song eu
escrevi em inglês, porque era uma coisa pesada, sobre a Aids. (1992)

FEIO
[ Eu sempre tive trauma de ser feio. Eu achava que tinha direito a ter
um ponto de vista, e as pessoas riam da minha cara. E agora é: "Viu,
Renato, você estava certo". Eu não sou nenhum Paulo Ricardo, nenhum
James Taylor, mas eu dou lá minhas reboladinhas, e as meninas gritam
"Lindo! Lindo!". (1987)

[ Eu era magrelo, branquinho, com espinhas, e, de repente, consegui
ter uma banda de rock. Por que não? O pessoal me via: "Mas ele é que
é o Renato Russo?". "É, mas as letras dele são bacanas". (1996)

FERNANDO COLLOR DE MELLO [ex-presidente da República]
[ Aqui no Brasil, com esse presidente... Eu não confio nessa coisa da
maioria. Sabe, vai ser bom para todo mundo, então vou cortar seu
braço. (1990)

[ O Collor não dizia que era o Lula [Luiz Inácio Lula da Silva, que concorreu com Fernando Collor à Presidência em 1989] que ia mexer na poupança do povo? Eu, que tenho tudo, fiquei puto. Imagine quem passou a vida economizando! (1990)

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
[ A voz do povo é a voz de Deus. Mas eu não votei nele. (1994)

FESTIVAIS
[ Da minha parte, a Legião não participa mais vezes de festivais, por
medo da passagem de som. Porque passagem de som... Você nunca,
nunca sobe no palco na hora do show e está igual à hora da passagem
de som. E, no festival, você vai ter outros técnicos.

Já nos chamaram para fechar uma noite de um festival desses, uma vez, a peso de ouro. Mas a gente não tem o controle da coisa, e é uma pressão muito grande.
Eu prefiro subir no palco e deixar acontecer, não ter que fazer um
show que vai ter que ser espetacular. Se a coisa não é espetacular...

Até a hora de entrar, ia ser tanto nervosismo da minha parte! Tipo:
será que o som está bom, será que... E tem mais uma coisa: para mim,
pelo menos na hora de cantar, tem que vir de dentro. Senão, a coisa
não funciona, soa falsa. (1994)

FILMES PREFERIDOS
[ Poison, Satirycon, Saló e O mágico de Oz. (1994)
[ A regra do jogo, de Jean Renoir. Nem me lembro muito dele, porque
nunca revi. Mas lembro que, quando vi, fiquei completamente chapado.
Foi impressionante. Ele retrata muito bem o jogo social que as pessoas
são obrigadas a cumprir.

Mas, o mais legal é que ele é filmado em foco profundo, você vê tudo que acontece na cena com a mesma profundidade, mesmo o que acontece lá atrás. (1995)

FLORES
[ Eu entro no palco com flores porque eu gosto. Faço isso desde que
a gente fez um show no Rio, no dia em que o Cazuza morreu. Eu acho
que é uma vibração legal, porque tem uma coisa que acalma a galera.
Então, em shows pequenos, eu nunca faço isso. Mas, num show para
50 mil pessoas, com quanto mais calma você puder passar o que você
tem a dizer, melhor. (1994)

FORMAÇÃO
[ Tenho uma formação católica, sou pequeno burguês, mesmo. Minha
família é burguesa, fui educado para fazer as coisas bem-feitas, o melhor
que puder. Luterana, não, Deus me livre. Luterana é pior ainda. Não
estou querendo julgar ninguém, mas eles são muito mais
disciplinadores. A minha história é uma coisa de imigrante italiano,
de você tentar fazer o melhor. (1988)

FORMATO
[ Se o formato da Legião me agradasse completamente, eu não estaria
fazendo disco solo. Mas acho que o desafio é você fazer uma coisa
sincera e de qualidade, dentro do formato. É um formato fechado,
mas é muito profundo. Dentro da nossa concepção, existem "n"
possibilidades, porque a gente fala de relacionamento, do universo
humano, das sensações, do que cada um tem dentro de si. Isso, para
mim, é uma coisa quase infinita.

Têm coisas que são da mesma linha. Baader-meinhof blues, no primeiro; no segundo tem Fábrica, ou mesmo Índios; no terceiro, Que país é este e Mais do mesmo; no quarto tem Há tempos; no quinto tem Teatro dos vampiros; e, no Descobrimento
do Brasil, você tem Perfeição. Eu gostaria de acreditar que são músicas
completamente diferentes, mas, se você parar para pensar, a gente
está falando da mesma coisa. (1995)

FUTURO
[ Sabe o que eu acho que, se a gente tiver sorte, vai acontecer no
futuro? Vamos realmente ter uma aldeia global, como McLuhan falou,
e vamos ser índios. Você vai ter a sua casa com energia solar, o seu
terminal ligado à biblioteca do Congresso ou o que quer que seja, e
vai ter uma vida natural, uma alimentação natural. Quem dera! (1990)

FRUTAS
[ Tangerina, cereja, banana, maracujá. E todas as berries. (1994)
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