sexta-feira, 1 de junho de 2007

Letra "E"

'EDUARDO E MÔNICA' [faixa do disco Dois]
[ Graças à música, acabei me aproximando de um tal Fernando, que
tinha chegado de Paris com uma grande coleção de discos — Traffic,
Eric Clapton, tudo. Morava sozinho e namorava uma menina com filhos,
a Lea [Coimbra]. Isso era 77, 78. É ela a Mônica da música, e eu sou o
Eduardo, só que menos bobo. É, eu lia, não era aquela coisa clube-etelevisão
da letra. (1995)


ELEIÇÕES
[ Se eu soubesse dizer o que vem por aí, eu ganhava um milhão, ia
trabalhar junto com Sílvio Santos e deixava todo o povo brasileiro feliz.
Eu não tenho bola de cristal ainda. Não estou achando nada. Não dá
para saber. Espero que tudo melhore, nota-se uma conscientização das
pessoas. Levamos muita porrada e está todo mundo insatisfeito. As
eleições são importantíssimas, mas é impossível saber alguma coisa.
(1989)

[ Passou um certo tempo — eu, pelo menos, senti isso — em que as
pessoas aqui do Brasil, principalmente depois do Plano Cruzado, ficaram
descrentes de tudo. Está assim atualmente: elas deixam as coisas irem,
sem convicção. Mesmo estas eleições presidenciais estão assim: todo
mundo está querendo acreditar, mas ninguém acredita muito. (1989)


[ Não entendo qual o lucro que as pessoas [os políticos] têm em ser tão
idiotas. Elas também vão usar as mesmas ruas esburacadas que nós
usamos. Se um dia estiver perdido em algum lugar, vai parar num hospital
89 que não tem condições de atendimento. Você não pode se isolar. (1994)
[ Eleições são uma coisa complicada. Traficantes e analfabetos votam.
A melhor solução é a do Betinho: cada um cuidar do seu núcleo, da sua
rua, em células. (1994)

EMÍLIO GARRASTAZU MÉDICI [general do Exército, presidente da República
durante a ditadura militar]
[ "Muitas vezes, eu penso que só morre gente boa; gente que faz bem
ao mundo. No entanto, a morte desse ditador me conforta e, creio,
conforta a todas as pessoas que sonham com um Brasil livre e bonito.
Então, vamos fazer deste show a celebração da morte de mais um
fascista". [Dirigindo-se ao público, ao abrir o show da Legião no Circo
Voador, no Rio de Janeiro, em 10 de outubro de 1985, dia da morte de
Médici]


EMOÇÃO
[ O importante, para mim, não é o que está sendo dito, mas como está
sendo dito. O importante é que as pessoas conseguem se emocionar
com a Legião. (1995)


EMPATIA
[ Somos quatro jovens comuns, quatro jovens simples. Isso é que atrai
as pessoas, que cria essa empatia em relação à gente. (1988)
[ Legião nem é tão bom, nem tão especial. Claro que tem coisas bacanas,
mas também tem muita coisa que não presta. Só que tem uma certa
empatia. (1992)


ENSAIOS
[ Os ensaios são sempre em estúdio, pois a gente não tem uma sala só
para isso. Pelo menos, essa é uma vantagem da Odeon. Se a gente quer
fazer a pré-produção, a gente vai para um estúdio de 24 canais... para
ficar fazendo barulho, não é? (1995)


ENTREVISTA
[ Não vale a pena dar entrevista. Eles [jornais e revistas] não entendem
agente. (1994)


EPIFISIÓLISE
[ Dos 15 aos 17 anos, fui obrigado a andar em uma cadeira de rodas.
Eu tinha uma doença de fundo virótico. Então, lia revistas de música,
tipo Melody Maker. Foi aí que tudo começou. (1994)


[ Tinha 15 anos quando vi meu primeiro show de rock, da Rita Lee, no
ginásio do Colégio Marista. Fiquei emocionado. Mas não pude ir ao
segundo, porque um resultado médico mudou minha vida. Estava com
epifisiólise, doença que destrói a extremidade dos ossos. Minha perna
estava pendurada só pela pele, entre o fêmur e a bacia.

Meu mundo acabou. Fui operado e fui vítima de erros médicos. O cara colocou o
pino dentro do nervo. Contrações involuntárias me faziam gritar de
dor. Fiz outras operações. Perdi dois anos de vida com medo de sentir
dor, isolado, fora de tudo. Quando voltei para o colégio, aos 17 anos,
era um menino diferente. Distante. Porque fiquei de fora. Observava
tudo com olhar de estrangeiro. (1995)

[ Nesse período, resolvi realmente me interessar por música. Ficava
deitado ouvindo os discos, sofrendo, coitadinho. Tive que fazer várias
operações, andei de cadeira de rodas, de muletas. Mas não estava nem
aí. Era adolescente e tinha mais problemas em ter espinhas na cara do
que andar de muletas. Pelo menos, ficava claro que eu era diferente.
Sempre quis ser diferente. (1995)


'EQUILÍBRIO DISTANTE' [disco solo, cantado em italiano]
[ Fui numa loja de CDs e vi a seção de música italiana. Tenho muita
curiosidade por música pop de vários lugares. A esmo, peguei vários
discos e me apaixonei perdidamente. Achei a temática das letras muito
parecidas entre si e muito parecidas com a temática da Legião Urbana
— o indivíduo frente à sociedade, à ética, e canções de amor belíssimas.

O disco ficou sendo uma homenagem à minha família, porque sou descendente de
italianos em terceira geração, e uma homenagem aos 150 anos de imigração italiana no Brasil. (1995)

[ A intenção era fazer um disco brega. O que é o brega? A canção
extremamente popular e extremamente romântica. Eu queria fazer um
disco romântico e lírico, para lidar com outra linguagem. Rock'n'roll
não tem regra, você faz o que der na telha. A música pop tem convenções,
você não pode fazer qualquer coisa. Isso me atraiu. (1995)


[ Tentei trabalhar numa linguagem que não domino: música romântica
para consumo popular. Ela fala grandes verdades. Tem aquele dia que
você está lá, de coração partido, e toca aquela música do Gilliard. Aí,
você presta atenção na letra e — putz! — é exatamente o que está
sentindo. (1995)


[ O que eu quis colocar é que se pode ser verdadeiro e fazer um trabalho
de qualidade com um material para o qual as pessoas torcem. É que
nem Sonhos, do Peninha. Muita gente só prestou atenção na música,
que é linda, quando Caetano gravou. (1995)


[ Quando ouço o disco, não me lembro da Itália, me lembro de uma
época da minha infância. Minha tia e todos aqueles coroas ouvindo
Pepino di Capri, Rita Pavone. A própria Jovem Guarda tinha muito
dessa influência da música italiana. Num determinado momento, isso
se perdeu. Tinha o filme Candelabro italiano, coisas bem anos 60, que
depois sumiram, com a entrada da música americana. (1995)


[ A gente demorou tanto com o disco que a gente ficou dois meses
sem data de estúdio. E também teve toda uma confusão, porque o
estúdio estava totalmente mal equalizado. Foi uma complicação. Eu
pirei, eu pirei. Era o meu disco brega italiano, que era para ser uma
coisa na brincadeira. (1995)


[ A gente ficou de janeiro a julho no Discover, que é um dos estúdios
mais caros do Brasil. No meio do caminho, o trabalho foi mudando
tanto que eu comecei a ficar meio em pânico.

O meu plano, neste disco, 92 era não tocar nada: chegar e cantar, só. E a gente falou: "Se é para valer, então vamos chamar músicos para valer". E a primeira pessoa que a gente chamou foi o Artur Maia, que é um puta músico, maravilhoso. E, aí, foi aquela situação: a gente compra um sofá novo para a sala e, daqui a pouco, "Benhê, vamos mudar as cortinas e mudar as estantes". Aí, a gente chamou o Ricardo Palmeira para fazer os violões. E chamamos o Cláudio Jorge para fazer violão, também, na faixa que tinha a levada brasileira. (1995)


[ "Vamos fazer de novo" ou "vamos melhorar". E têm outras instâncias
que a gente fez uns cinco arranjos, tinha cinco versões e voltava para a
versão original, porque era a melhor de todas. Quer dizer, foi muito
desgastante trabalhar assim, mas foi uma delícia, porque eu adoro
trabalhar no estúdio e é muito gostoso você poder usar o estúdio como
instrumento. Eu acho que foi uma coisa bem legal. O problema foi que
eu tive uma recaída séria no meio do caminho. Eu voltei a beber... Quatro
dias... Mas foi horrível. (1995)


[ Eu fui à Itália para passear, porque o repertório já estava todo pronto.
A gente só adicionou duas músicas depois, porque a gente cortou coisas
que não deram muito certo. Eu descobri que não dá para misturar
linguagem rock dentro do formato pop. Eu mostrava para a minha
família: "Essa eu não gostei muito, não, Júnior!". Mas está tudo guardado.
Isso a gente vai lançar nas caixas da vida. (1995)


[ O disco começa com uma musiquinha, que meu tio me mandou lá
de Curitiba, e que fala: "Ai, é a Torre de Pizza/ Vai cair/ Mas nunca cai".
É de 1900, de um 78 rotações da Columbia. Domínio público. É aquela
mania de Beatles, de colocar coisinhas pequenas. (1995)


[ A gente está satisfeito com o resultado. Eu vou ficar superchateado
se eles falarem alguma coisa ruim, ainda mais que tem toda uma coisa
de eu ter pensado muito na minha família — no meu bisavô e na minha
bisavó, que vieram de lá com 18, 19 anos, em 1875 e, virtualmente, a
única coisa que eles tinham de valor eram as botas. Tem toda uma coisa
bacana de o nosso país ser um país de imigrantes. Não é só uma coisa de
italiano. São os alemães, os portugueses, os turcos, os espanhóis... (1995)


[ No meio do caminho, comecei a questionar se devia estar fazendo
este disco. Tinha medo de a pronúncia não estar legal, de as músicas
serem bregas. No meio do caminho, eu me separei. Aí, entrei em
parafuso. Veio "o vôo apimentado do Renato Russo"; quis tirar a roupa
no avião, alucinado, vindo de Brasília. (1995)


[ Eu não falo italiano. Non parlo niente... Bem, a gente arranha. Eu
acho que, por ser uma língua com que nós temos algum contato, pela
enorme quantidade de coisas italianas espalhadas pelo Brasil e pela
semelhança dos fonemas, acaba-se entendendo algo sobre ela. Mas, este
trabalho consistiu, basicamente, numa espécie de mímica. Aquela coisa
de ouvir e cantar junto, assim como essa garotada que canta músicas
americanas. (1995)


[ Fiquei surpreso como a minha voz se adapta ao estilo italiano de
cantar. Eles colocam a voz muito para fora, soltam a voz. O Emílio
Santiago canta assim, com vozeirão. Descobri que funcionava
perfeitamente para minha voz. Não falo italiano e precisei de ajuda
para pronunciar os "es" finais, que o carioca às vezes fala como "is". De
resto, fui na intuição. E fiquei feliz com meu italiano no disco. (1995)


ESCANDALOSO
[ Se eu me comportasse e agisse como um bancário, é que as coisas
estariam erradas comigo. Me preparei por 20 anos para isto! Desde que
ouvi os Beatles, aos 5 anos, que sonhei em fazer música. Não entendo
por que as pessoas queiram me crucificar pelas minhas atitudes. Sou
escandaloso mesmo. (1993)


ESCRITOR
[ Não romantizo a necessidade de sofrer para escrever. Sou um escritor,
faço pesquisa. Se quiser escrever sobre uma pessoa que mora em São
Gonçalo, não preciso ir lá. Se eu quiser escrever sobre o que um suicida
sente, eu não preciso me matar. Qual a graça daquele povo todo se
matando? É interessante ter contato com uma certa realidade, ir ao
bas-fond, à Galeria Alaska. Mas, se você é um artista, tem a técnica para
suplantar isso. Não sei se o trabalho continua tendo a mesma qualidade. O Paul
McCartney é muito criticado por isso. Na época dos Beatles, ele escrevia coisas
maravilhosas e hoje está feliz, saudável, e faz aquelas coisas bobas. (1994)


ESCRITORES
[ Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa. (1994)


ESPIRITUALIDADE
[ Eu acho que a única revolução possível é a espiritual. A gente até
tenta deixar isso aparente, mas é uma coisa muito antagônica ficar
falando de coisas espirituais através de veículos de massa. Eu deixei de
me preocupar demais — passo o dia pensando nas pessoas de que eu
gosto. E de pensar que, quando eu bebia demais, ficava lendo Sartre,
Nietzsche, Kierkegaard, e achando o mundo horroroso... E os menores
abandonados, a sujeira do poder, meu Deus? (1988)


[ Eu não consigo dormir cedo nem ser espiritual. Minto, faço milhões
de coisas erradas. Mas, ao menos, cheguei ao ponto de verbalizar o que
eu quero. Estou tentando, não saio mais tanto, dou meus pulinhos aqui
e ali. (1988)


[ A questão mais política do momento é a espiritual. Se você resolver
esse lado, se acreditar que bondade é ter coragem, que disciplina é
liberdade, e compaixão é fortaleza, todo o resto vai se resolver. (1990)
Nós não temos o nosso lado espiritual resolvido.

Se tivéssemos, não estaríamos fazendo rock'n'roll. Para fazer a capa do disco [As Quatro Estações], sabemos que cortaram uma árvore e tiraram a celulose. Se
estivéssemos realmente no caminho da iluminação, não precisávamos
falar as coisas. Estávamos vivendo. Estaríamos trabalhando junto aos
aidéticos ou com os menores abandonados.

Mas eu ainda não tenho força para fazer isso — não sei nem se, algum dia, vou chegar a ter. Mas, pelo menos, já chegamos ao ponto de perceber as questões e tentar passá-las adiante. Nós temos a oportunidade de usar os meios de
comunicação. (1990)

fala mal de todo mundo e abusa das mulheres, se você é uma pessoa legal, você tem
algum problema. É claro que nos Estados Unidos tem essa vantagem: se você é uma
pessoa legal, sensível, e conseguir ganhar muito dinheiro, aí vira Michael Jackson, vira Madonna, Prince, tira o "x" do problema. (1990)


[ O que acontece no Brasil, que eu descobri agora, quando voltei dos
Estados Unidos, é que aqui todo mundo transa com todo mundo, mas
ninguém se acha gay, nem se acha nada. Aqui não tem gueto, não tem
nada disso. Mas, lá, eles são muito medrosos.

Existe muito antagonismo ntre as pessoas. Então, negros e judeus e gays e mulheres e crianças e jovens roqueiros e intelectuais e fascistas convivem mais ou menos
harmoniosamente, mas eles se detestam. Sabe aquele negócio? Do the
right thing /Faça a coisa certa, filme de Spike Lee]. É aquilo.

Eu não chegava para certas pessoas para pedir a hora na rua. É muito esquisito.
Pelo jeito que a pessoa fala, pelos livros que ela lê... eles se prendem a
isso. É um consumismo intelectual. Claro que existem pessoas fabulosas
que não estão nessa — é o caso de um Arto Lindsay —, mas esses caras
são totalmente loucos, então nem contam. E dinheiro lá é Deus. É só
você chegar com uma nota de 50 dólares que já começam a te tratar
bem. (1990)


ESTILO DE VIDA
[ Com meu estilo de vida, vivo bem. Gosto de comprar livros e CDs,
viajar de vez em quando. Tenho um carro, uma Caravan 86, que fica
com meus parentes. O carro é para eles. (1995)

[ Não gosto de fazer show, me canso muito. Como nós vendemos
bastante, tudo bem. Eu não preciso de mais nada. Se gostasse de comprar
roupa, precisaria de mais dinheiro para aquele terno Armani de 1.500
dólares... (1995)

ÉTICA
[ Eu me baseio numa ética normativa, que diz o que é certo ou errado
fazer. E bom deixar claro que isso passa por uma avaliação interior, e
não por uma imposição. Afinal, já se matou muita gente com essa
justificativa. Assim, um engenheiro de obras sabe que não se deve poluir a Baía de
Guanabara, ou o governo sabe que não podem haver pessoas passando fome. Acho que o básico, para essa avaliação, é a Declaração dos Direitos Humanos. E isso teria que partir do núcleo da sociedade, que é a família. É uma questão de educação!

Porque não adianta ficar xingando o Sarney [ex-presidente José Sarney]. Na verdade, os culpados pela situação do país somos nós! Por exemplo: como a nova geração vai ter respeito pela mais velha, se essa a ataca e está cheia de preconceitos? (1988)

[ O Brasil está numa fase de transição, os computadores agora que
estão chegando. Então, a gente fica neste limbo. O que este sistema
hetero-normativo imprime, no inconsciente coletivo, é que se você é
criança, mulher, ou qualquer outra minoria ou raça, você não tem
direitos.

Só macho-adulto-branco é que tem direitos. Não existe noção
de bom senso em questões básicas, como o controle de natalidade, por
exemplo. E o macho-adulto-branco, no Brasil, também pena: não
consegue sustentar uma família, não consegue um trabalho digno. Então,
eu acho importante a gente continuar falando de solidariedade, de ética,
mas usando uma linguagem clara. Não necessariamente simples, mas
clara. (1996)


ÉTICA X ESTÉTICA
[ Eu acho que existe um grande confronto entre a ética e a estética. A
ética, em algum momento, foi substituída pela estética. Isto é mais
uma forma de controle. (1993)


EXAGERADO
[ Todos os meus amigos dizem que devo fazer análise, porque sou
exagerado demais. (1986)


Eu tenho problemas até em casa — eles acham que eu sou exagerado.
Se eu fico três dias com uma letra, eles falam: "Ô, Júnior, deixa de
fazer drama, de ser fresco". (1987)


EXPERIÊNCIA
Já tenho uma boa bagagem de experiência, não preciso sair por aí
para conhecer o mundo. Já fiz muita loucura. E certas coisas que eu
romantizava hoje não acho mais maravilhosas. Tenho alguns amigos que
ainda glamourizam essas coisas. Gente que adora os filmes do Jim
Jamursch. Até acho alguns interessantes, mas eu não queria conhecer
aquelas pessoas. (1995)


EXPRESSÃO
[ Sempre gostei de música como forma de expressão. Os românticos
de antigamente, como Casimiro de Abreu, escreviam poesias quando
tinham 20 anos. Depois, no início do século 20, vieram os pintores e
escultores na Semana de Arte Moderna. Teve o pessoal que fazia teatro
coletivo na década de 60, aqui no Brasil. Para a gente, o rock foi o
caminho ideal. É mais fácil compor uma canção e cantar do que escrever
um livro. Qual a outra alternativa? Fazer um vídeo? Isso é outra área,
outra geração. Como sou muito verbal, nenhuma outra forma iria
traduzir o que eu queria dizer. (1988)


[ Eu acho que o rock induz, como outras coisas induzem, à ação, à
energia. Dependendo da tempera de cada indivíduo, essa energia vai
ser expressa de forma violenta, através da indiferença, ou através de
uma forma positiva.

O fato de você estar fazendo com que a pessoa inta alguma coisa, grite, cante, dance, não implica em que, de repente, ela vai cantar e dançar simplesmente. Algumas pessoas vão dançar e dar porrada na pessoa do lado, ou tacar coisas no palco. Algumas vão fumar seu baseado quietas, e outras vão incomodar outras pessoas. (1988)


[ Às vezes, eu fico achando que as pessoas falam uma outra língua, que
não a minha. Isso eu senti, mais ou menos, quando estávamos gravando
o terceiro LP. Eu tive uma puta dificuldade de colocar as coisas que eu
estava sentindo nas letras.

Eu queria escrever coisas para cima, só falar coisas positivas. Porque eu acredito que toda palavra é carma. Então, eu não estou a fim de ficar cantando que tudo está horrível, que todo mundo vai morrer... Porque eu não acho justo você usar o meio pelo qual você se expressa para ficar chorando as mágoas do mundo. Acho que não é por aí. Isso já foi feito. Isso era 77. (1988)


[ Meu avô sempre dizia: "Você não precisa beber para escrever essas
letras maravilhosas". É importante ter contato com a sensibilidade, mas
não é preciso ficar chafurdando na lama. O que eu descubro é que não
precisa acontecer uma tragédia na minha vida para poder me expressar.
Não preciso passar a noite inteira no Baixo Leblon, vomitando, para
chegar em casa e escrever. Até porque, em geral, o que a gente escreve
quando está fora de si não se sustenta. (1994)


EXTRAVAGANTE
[ Eu era meio freak. Por isso, não tinha muitos amigos no colégio. Era
mais amigo das meninas. Principalmente as meninas estudiosas, aquelas
que se sentam na primeira fileira. E dos nerds [bobos, idiotas], também.
Nunca fui nerd, rnas me relacionava bem com eles. (1995)

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