domingo, 20 de janeiro de 2013

Sarney e a fome no Socorrão





Sarney e a fome no Socorrão
Este blogueiro cansou de avisar que Castelo queria entregar os hospitais de rede municipal para Ricardo Murad (veja aqui).
Este blogue foi o primeiro a anunciar o desesperado pedido de alimentos para os doentes e famintos do Hospital Djalma Marques (Socorrão I), que foi sucateado durante a desastrosa administração do ex-prefeito João Castelo, mas as autoridades nunca fizeram nada.
Por falar em autoridade, o nosso presidente do Senado, José Sarney, por onde anda que nada faz para amenizar essa situação de caos que tomou conta do povo de São Luís, cidade que diz amar tanto?
Acompanhem a matéria do blog do jornalista Ricardo Noblat, sobre a vergonhosa situação do Socorrão que ganhou o país. Só no Maranhão mesmo.
“O Maranhão não suportava mais nem queria o contraste de suas terras férteis, seus vales úmidos, seus babaçuais ondulantes , de suas fabulosas riquezas (…) com a miséria, com a angústia, com a fome, com o desespero…”
Em 1966, o então jovem de 36 anos José Sarney, eleito governador , empolgava o Maranhão com um discurso de posse literariamente contundente, cheio de palavras ásperas, prometendo colocar um fim na miséria e na corrupção que assolavam o Estado.
Ele prometia “mudar a face do Maranhão” e o povo, entusiasmado, aplaudia.
Quem quiser se emocionar com o discurso e com as imagens da pobreza do Estado cuja redenção se iniciava naquela posse, pode entrar no Youtube e digitar:
“Maranhão 1966, documentário de Glauber Rocha”, e verá, em pouco mais de 8 minutos, um dos documentos mais chocantes já produzidos sobre a realidade política do País, dirigido pelo talento nascente daquele que viria a ser o mais mítico dos nossos cineastas.
Como poderia imaginar o jovem gênio do cinema que se vivo estivesse, agora, 47 anos depois da posse do governador Sarney, seria possível repetir o documentário com o mesmo roteiro de pobreza e miséria que aquele derramado discurso de posse prometia combater e eliminar.
O Maranhão é hoje, 47 anos depois do início do domínio da oligarquia Sarney, o penúltimo estado no Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil, superado apenas pelo tenebroso estado de Alagoas, que já foi comandado também por um ex-presidente da República.
Uma semana atrás, o médico diretor de um hospital público do Maranhão, apelidado de Socorrão I, apareceu num programa de televisão e escreveu no Facebook pedindo à população que doasse alimentos e produtos de limpeza para que o hospital pudesse continuar funcionando.
O hospital é municipal, comporta 128 pacientes mas tem 216 internados, e o descalabro em que está é atribuído ao ex-prefeito João Castelo (PSDB), que acaba de encerrar a sua gestão.
O prefeito que assumiu decretou estado de emergência na saúde pública de São Luis.
O ex-prefeito, cuja maior obra é o estádio de futebol que consagra seu nome no aumentativo-Castelão-apesar de filiado ao PSDB, recebeu o apoio da governadora Roseane Sarney no segundo turno, mas perdeu para um político do obscuro PTC.
O Maranhão definha, e as palavras de José Sarney de 1966 perderam-se no vento, enquanto ele cortava a fita de inauguração da exposição “Modernidade no Senado Federal-Presidência de José Sarney”, paga com dinheiro público, na semana passada,em Brasília.
Dinheiro que poderia comprar comida para os doentes do Socorrão.
(Por Sandro Vaia – jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br)

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