De: Cleilson Fernandes. ( Arari - Maranhão ) Educador. Escritor. Bloguista. Professor. Membro da Academia Vitória-Arariense de Letras.
Desculpa aí leitores e telespectadores deste imenso Brasil,
em particular de Arari, se não sou tão afeito a assimilar naturalmente o que a
televisão quer me empurrar pela garganta e se acabo por desmitificar e diminuir
de algum modo um ato heroico com minhas indagações, mas acho que o país precisa
ser mais crítico e lúcido com relação à TV e as pessoas não podem se dar ao
luxo de "se deixar levar" pelas emissoras sem fazer uso do exercício
do pensar. Não dói, e se doer é que nem sexo: só no começo, depois dá prazer.
Agora, além de não roubar, minha mãe me ensinou a não
aceitar conteúdo de TV sem refletir e nem deixar de analisar o que há por
detrás dos alvoroços que a mídia propõe, a ler as entrelinhas dos fatos e,
principalmente, a ir fundo a ponto de identificar intencionalidade de atos,
muito mais que a repercussão deles. Minha mãe me ensinou a investigar essências
e não me conformar com aparências ou retalhos pontuais de pessoais e coisas.
Talvez tenha me expressado mal em uma postagem na minha
página do Facebook em que me dizia abismado com o tanto de ararienses que
parecem não ter o que fazer a se aglomerar em frente ao terminal rodoviário do
município e em outros pontos da cidade no encalço de um arariense que há 16
anos não pisava na cidade e sobre cuja existência nem mesmo os seus familiares
ainda tinham por certa, de tão próxima relação que ele mantinha em tempos de
ligação ilimitada de celular ou de telefonia fixa de baixo custo, e de possível
informação para obter o tal número telefônico (isso para não me referir aqui a
carta, aquele papelzinho escrito que o correio teima em entregar quando a gente
envia a alguém mesmo neste tão tecnológico século XXI) – Digo isso com
propriedade porque fui eu quem localizou a família do tal rapaz para Rede Record,
isso pelo fato de eu trabalhar com comunicação e de terem me localizado pelo
site governamental do município.
Na verdade não é que o povo que está a correr atrás do rapaz
dos 20 mil devolvidos e das emissoras sensacionalistas não tenham o que fazer, eu
é que talvez tenha ocupações pessoais e profissionais sérias demais a ponto de
não me sobrar tempo para esse tipo de atividade tão prazerosa e exemplar,
"esse prestígio", esses apanágios. Invejo quem tem tempo e
"saco" para isso tudo, mas lamento por não ter nem tempo nem
paciência e muito menos vontade para tal coisa. Talvez eu seja meio lunático
mesmo, eu admito, afinal para mim TV não é bíblia e nem seus personagens são
Jesus (podem imaginar a comparação aqui a qualquer outro elemento sagrado). Sou
mesmo antiquado, antipático, anti um monte de coisa, prefiro ser anti a ser
sub.
Caracas, acho que essas palavras também valem para reflexão
nesse período de propaganda eleitoral gratuita, não é? Talvez se alguém como eu
ousar questionar a TV, os heróis moldados e principalmente os fatos, tenha-se
mais chance de lucidez e consciência na hora da maldita escolha ou da simples
troca de canal ou de meio de comunicação.
Ah! Uma última coisa: não vote em mim, eu não sou um bom
candidato, tanto que nem sou, nem mesmo a herói municipal. Sou apenas eu: Cleilson fernandes, 65 quilos de carne e osso, com 1 metro e 70 de imagem
vertical, mais ou menos 50
centímetros de imagem horizontal, órgãos do sentidos em
número de cinco (talvez com um sexto não orgânico) e uma coisa chamada cérebro.
Em que canal você vai me assistir? Em nenhum. Não sou nem
político partidário nem honesto em âmbito nacional. Apesar de já haver vendido
bolo na rodoviária, frutas e picolé pelas ruas de Arari, nunca fui expulso da
escola por não querer estudar, nem abandonei minha casa por não querer
trabalhar e ainda não virei morador de rua em São Paulo indiferente à
família e aos amigos por 16 anos. Lamentavelmente, ainda não encontrei um
ladrão otário que nem sabe carregar 20 mil pra eu ferrar e, sob pena de ser um
dos suspeitos do roubo logo ao amanhecer por morar no viaduto mais próximo ao
local do feito, tratar de ir correndo entregar para a polícia antes que o
cacetete me chagasse a ser apontado.
Portanto, ainda não cheguei a um monte de emissora de TV sem
assunto e com muito sensacionalismo e tampouco chegarei aos lares de tantos
milhões de brasileiros, sequer aos quase 30 mil habitantes de Arari pelas
mesmas razões. E quer saber de uma coisa: não desejo isso para mim. Sonho com
outra trama, outra novela, outra manchete e, melhor ainda, sonho com meu
anonimato tão pacato e digno de um jovem rapaz latino americano e sem dinheiro
meu ou de outrem.
Cleilson Fernandes, um arariense que nunca devolveu 20 mil (veja aqui).
Nenhum comentário:
Postar um comentário