sábado, 21 de julho de 2012

Perdão, Por Não Ser Mero Espectador. Ou, mero Admirador.




De:  Cleilson Fernandes. ( Arari - Maranhão ) Educador. Escritor. Bloguista. Professor. Membro da Academia Vitória-Arariense de Letras.

Desculpa aí leitores e telespectadores deste imenso Brasil, em particular de Arari, se não sou tão afeito a assimilar naturalmente o que a televisão quer me empurrar pela garganta e se acabo por desmitificar e diminuir de algum modo um ato heroico com minhas indagações, mas acho que o país precisa ser mais crítico e lúcido com relação à TV e as pessoas não podem se dar ao luxo de "se deixar levar" pelas emissoras sem fazer uso do exercício do pensar. Não dói, e se doer é que nem sexo: só no começo, depois dá prazer.

Agora, além de não roubar, minha mãe me ensinou a não aceitar conteúdo de TV sem refletir e nem deixar de analisar o que há por detrás dos alvoroços que a mídia propõe, a ler as entrelinhas dos fatos e, principalmente, a ir fundo a ponto de identificar intencionalidade de atos, muito mais que a repercussão deles. Minha mãe me ensinou a investigar essências e não me conformar com aparências ou retalhos pontuais de pessoais e coisas.

Talvez tenha me expressado mal em uma postagem na minha página do Facebook em que me dizia abismado com o tanto de ararienses que parecem não ter o que fazer a se aglomerar em frente ao terminal rodoviário do município e em outros pontos da cidade no encalço de um arariense que há 16 anos não pisava na cidade e sobre cuja existência nem mesmo os seus familiares ainda tinham por certa, de tão próxima relação que ele mantinha em tempos de ligação ilimitada de celular ou de telefonia fixa de baixo custo, e de possível informação para obter o tal número telefônico (isso para não me referir aqui a carta, aquele papelzinho escrito que o correio teima em entregar quando a gente envia a alguém mesmo neste tão tecnológico século XXI) – Digo isso com propriedade porque fui eu quem localizou a família do tal rapaz para Rede Record, isso pelo fato de eu trabalhar com comunicação e de terem me localizado pelo site governamental do município.

Na verdade não é que o povo que está a correr atrás do rapaz dos 20 mil devolvidos e das emissoras sensacionalistas não tenham o que fazer, eu é que talvez tenha ocupações pessoais e profissionais sérias demais a ponto de não me sobrar tempo para esse tipo de atividade tão prazerosa e exemplar, "esse prestígio", esses apanágios. Invejo quem tem tempo e "saco" para isso tudo, mas lamento por não ter nem tempo nem paciência e muito menos vontade para tal coisa. Talvez eu seja meio lunático mesmo, eu admito, afinal para mim TV não é bíblia e nem seus personagens são Jesus (podem imaginar a comparação aqui a qualquer outro elemento sagrado). Sou mesmo antiquado, antipático, anti um monte de coisa, prefiro ser anti a ser sub.

Caracas, acho que essas palavras também valem para reflexão nesse período de propaganda eleitoral gratuita, não é? Talvez se alguém como eu ousar questionar a TV, os heróis moldados e principalmente os fatos, tenha-se mais chance de lucidez e consciência na hora da maldita escolha ou da simples troca de canal ou de meio de comunicação.

Ah! Uma última coisa: não vote em mim, eu não sou um bom candidato, tanto que nem sou, nem mesmo a herói municipal. Sou apenas eu: Cleilson fernandes, 65 quilos de carne e osso, com 1 metro e 70 de imagem vertical, mais ou menos 50 centímetros de imagem horizontal, órgãos do sentidos em número de cinco (talvez com um sexto não orgânico) e uma coisa chamada cérebro.

Em que canal você vai me assistir? Em nenhum. Não sou nem político partidário nem honesto em âmbito nacional. Apesar de já haver vendido bolo na rodoviária, frutas e picolé pelas ruas de Arari, nunca fui expulso da escola por não querer estudar, nem abandonei minha casa por não querer trabalhar e ainda não virei morador de rua em São Paulo indiferente à família e aos amigos por 16 anos. Lamentavelmente, ainda não encontrei um ladrão otário que nem sabe carregar 20 mil pra eu ferrar e, sob pena de ser um dos suspeitos do roubo logo ao amanhecer por morar no viaduto mais próximo ao local do feito, tratar de ir correndo entregar para a polícia antes que o cacetete me chagasse a ser apontado.

Portanto, ainda não cheguei a um monte de emissora de TV sem assunto e com muito sensacionalismo e tampouco chegarei aos lares de tantos milhões de brasileiros, sequer aos quase 30 mil habitantes de Arari pelas mesmas razões. E quer saber de uma coisa: não desejo isso para mim. Sonho com outra trama, outra novela, outra manchete e, melhor ainda, sonho com meu anonimato tão pacato e digno de um jovem rapaz latino americano e sem dinheiro meu ou de outrem.

Cleilson Fernandes, um arariense que nunca devolveu 20 mil (veja aqui).

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