terça-feira, 6 de abril de 2010

O chilique do crápula


"Publique se for homem e jornalista”, começa o comentário enviado às 6:25 desta sexta-feira. Outro miliciano patrulhando a internet a serviço do stalinismo farofeiro, imaginei. Já ia ordenando que caísse fora quando bati os olhos no nome do remetente: Ricardo Murad, secretário da Saúde do Maranhão por ser cunhado da governadora Roseana Sarney. Ele mesmo, o campeão do descaso e da inépcia envolvido na matança de crianças desvalidas.

Em paragens civilizadas, qualquer suspeito com a folha corrida de Ricardo Murad estaria agora em desabalada carreira, ou sentado no meio-fio chorando lágrimas de esguicho, ou homiziado em lugar incerto e não sabido. Mas estamos no Brasil ─ pior ainda, o estafeta da famiglia Sarney está no Maranhão. É compreensível que esteja em liberdade, esbravejando em mau português.

A forma e o conteúdo avisam aos gritos que o texto foi redigido depois de um almoço de matar a sede de presidente. Não há nenhuma acusação substantiva, só berreiro de cortiço. Mas é claro que publico. Não para sublinhar reafirmações de masculinidade ─ Ricardo Murad sabe o suficiente para dispensar-se de qualquer dúvida a respeito do tema ─ e sim para oferecer ao Brasil que presta a contemplação do chilique de um crápula. Não perca:

Vermes como você, que escreve financiado pelo dinheiro sujo dos políticos a quem serve, deveria se envergonhar do que faz. Mas você é um desavergonhado. Faz isso por ofício. Você é um jornalista que aluga a pena. Escreve de mal ou de bem, para quem lhe paga, de mais ou de menos. Você é um covarde, venal, financiado e sem nenhuma credibilidade. O que lhe move é o dinheiro dos seus patrões. Se você tivesse um pouco de vergonha e senso jornalístico deveria ter me ouvido a respeito das sandices que publicou de forma criminosa a meu respeito. Pelos menos iria ter um trabalho a menos de tê-lo de fazer na Justiça. Não posso lhe pedir para ter ética e vergonha, isso vem do berço.

O doutor em infanticídio cobra vergonha de gente honrada. O noviço nascido e acanalhado no Convento das Mercês se fantasia de carmelita descalça. A cria de Madre Superiora reinventa a santa inquisição a favor dos cafajestes. O colecionador de capitulações lucrativas acusa o vencedor de covarde. O tenente da tropa de censores do Estadão exige respeito à ética. Sem formular qualquer denúncia objetiva, sem ir além do insulto barato, o prontuário ameaça recorrer à Justiça. É assim no Maranhão. Murad acha que é assim no país inteiro.

A certeza da impunidade o induz a acreditar que todas as ações judiciais movidas pela famiglia serão endossadas por algum daciovieira. Por ter escapado de licitações irregulares, crimes ambientais, delinquências variadas e, até agora, da morte das isabellas maranhenses, decidiu que não há juízes no Brasil. Por ouvir apenas as louvações dos áulicos, não ouviu o choro e os gemidos das vítimas indefesas. Por acreditar que está condenado à impunidade, não admite virar assunto da revista VEJA e entrar na alça de mira da coluna.

O irmão menos esperto de Jorge Murad sobressaltou-se ao ouvir a indignação do Brasil decente. Logo saberá que é só o começo. O fim do sono chegará com a sirene que anuncia a chegada do camburão.

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