quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Sarney já foi a vanguarda do atraso. Hoje, é o atraso

Em 1985, quando José Sarney herdou a presidência da República, em função da morte de Tancredo Neves, o ministro da Justiça Fernando Lyra fez uma definição famosa.
"Ele é a vanguarda do atraso," disse o ministro. Era uma tentativa de justificar o apoio do movimento democrático a Sarney, um homem de confiança do regime militar que as curvas do destino transformaram em primeiro presidente civil depois de 1964. Com os votos do PDS e de uma parte do velho PFL, Sarney simbolizava a adesão do velho regime à democratização do país.

Tri-presidente do Senado, Sarney ganhou uma eleição mas teve a pior votação em relação às disputas anteriores. Entrevistado por Christiane Samarco, do Estado de S. Paulo, ele justificou a eleição nos seguintes termos: "Minha paixão pela vida pública é muito maior do que minha paixão pelo bem-estar pessoal."

Nem em termos redartários Sarney consegue representar uma oportunidade de modernização do Senado. Seu principal cabo eleitoral foi Renan Calheiros, um velho oficial da clique que levou Fernando Collor à presidência da República e que há dois anos foi forçado a renunciar ao cargo que agora pertende a Sarney em função de denúncias de era sustentado pelo lobista de uma grande empreiteira. Pelo menos outros três de seus aliados de destaque de Sarney enfrentam processos no Supremo.

Sarney gosta de cargos de mando, mas é duvidoso que goste, mesmo, do exerício do poder. No Planalto, exerceu uma presidência com homens-fortes. O primeiro era Ulysses Guimarães. O segundo, Antonio Carlos Magalhães. Travou uma luta de morte em defesa de seu mandato de cinco anos — mas não tinha a menor idéia do que deveria fazer para minorar o sofrimento da população ou para auxiliar o desenvolvimento do país. Fez a moratória da dívida externa e se arrependeu.

Fez o Plano Cruzado — e se arrependeu, ainda que, vez por outra, assessores e amigos gostem de anunciar números positivos sobre emprego e crescimento em 1986.

Sua família governa o Maranhão — com pequenos intervalos — nos últimos 40 anos. Nesse período, o Maranhão ficou cada vez mais pobre. Já a familia Sarney, está cada vez mais rica.
(por Paulo Moreira Leite)

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