XADREZ
[ A primeira vez em que eu fui preso foi o seguinte: já tínhamos a
turma punk e, nessa época, era meio perigoso, porque os
boyzinhos
começaram a dar porrada nos mais fraquinhos da turma. No André
Müller e no Pretorius nunca batiam, porque eles eram enormes. Mas os
garotinhos de 13 anos, usando brinco, pronto: vai lá e toma porrada! Eu
sempre tentava apaziguar os ânimos. Dizia: "Não, gente, vamos explicar
o que é que é. Quem sabe, eles entendem". Nesse dia, era em 81, eu,
com minha roupa punk e toda a turma, falamos: "Vamos para outro
lugar, não vamos ficar aqui". Já estávamos indo embora, quando chegou
uma galera de 15, 16, 17 anos, todos com aquele uniformezinho igual,
sabe, roupa assim de jovem normal,
boyzinho... E chegou o liderzinho,
um cara "inteligente": "Por que, se vocês são brasileiros, ficam rabiscando
a camiseta com essas coisas em inglês?". E eu explicando, tentando
convencer: "Pô, vamos ficar todo mundo amigo. Olha, tenho um loló
aqui. Vamos cheirar?". O cara que estava do lado dele era federal e
"Mão para cabeça!". E foi um teatro só. Ele pegou uma varetinha, com
um chicote, e disse: "Na parede! Abre as pernas!". E os
boyzinhos, claro,
gritando: "Punk se fodeu! Punk se fodeu!". Uma coisa estúpida, porque
a primeira coisa que o federal fez foi jogar a garrafa de loló para os
boyzinhos.
E eles ficaram lá, cheirando. Eu fiquei tão puto com isso! É
contra a lei e tudo, mas foi aí que eu vi como era realmente a corrupção.
Passei a noite no xadrez. (1989)
[ A segunda vez, na festa do Estado, foi mais humilhante. Fora o que
aconteceu na Roconha. Nessa festa — foi quando o John Lennon morreu
—, estava lá eu com os meus
badges, meu cabelo colorido da Mônica,
bêbado, falando para todo mundo: "Alô! Eu te amo! A vida é bela!".
275
Perguntava o signo — nessa época eu lia tarô, fazia mapa astral, um híbrido total. E, de
repente, veio um cara e me deu um puta soco. Eu não me lembro direito, porque eu
estava bêbado. Mas fui parar lá no porão da prisão. Mandaram eu tirar a roupa...
horrível. (1989)
XIITA
[ Tenho uma preferência afetiva, mas nada é definitivo. A gente tem e
direito de mudar. Eu como panqueca com mel, mas, um dia, decido
preferir pão de queijo. Tenho um chamado para um certo tipo de
comportamento, mas não gosto de gueto, daquela atitude xiita, histérica.
Não existem só o dia e a noite. Há o meio-dia, o pôr-do-sol. (1994)
XUXA
[ No
Descobrimento do Brasil, a gente brincou com muitas coisas, só
que ninguém percebeu. Têm músicas como Só
por hoje: aquilo é Xou
da Xuxa!
Com a diferença de que eu falo de dependência química.
Você se emocionar com Dumbo é diferente de achar Mirnau ou
Fassbinder o máximo. (1995)
A Marlene
[Mattos, diretora dos programas da Xuxa] está querendo
que eu faça o
Xuxa Hits com este disco [Equilíbrio Distante]. E eu
estou pensando. Eu estou ficando menos ranzinza com certas coisas, o
que é um exercício para mim. Você tem que levar o seu trabalho até o
público, não é? A gente, da Legião, protege muito as coisas do grupo:
"Não, isso a gente não faz". "Esse, não". Por que não fazer?
Faustão eu
não faria. Mas, por que não um
Xuxa Hits? (1995)
276
[ A primeira vez em que eu fui preso foi o seguinte: já tínhamos a
turma punk e, nessa época, era meio perigoso, porque os
boyzinhos
começaram a dar porrada nos mais fraquinhos da turma. No André
Müller e no Pretorius nunca batiam, porque eles eram enormes. Mas os
garotinhos de 13 anos, usando brinco, pronto: vai lá e toma porrada! Eu
sempre tentava apaziguar os ânimos. Dizia: "Não, gente, vamos explicar
o que é que é. Quem sabe, eles entendem". Nesse dia, era em 81, eu,
com minha roupa punk e toda a turma, falamos: "Vamos para outro
lugar, não vamos ficar aqui". Já estávamos indo embora, quando chegou
uma galera de 15, 16, 17 anos, todos com aquele uniformezinho igual,
sabe, roupa assim de jovem normal,
boyzinho... E chegou o liderzinho,
um cara "inteligente": "Por que, se vocês são brasileiros, ficam rabiscando
a camiseta com essas coisas em inglês?". E eu explicando, tentando
convencer: "Pô, vamos ficar todo mundo amigo. Olha, tenho um loló
aqui. Vamos cheirar?". O cara que estava do lado dele era federal e
"Mão para cabeça!". E foi um teatro só. Ele pegou uma varetinha, com
um chicote, e disse: "Na parede! Abre as pernas!". E os
boyzinhos, claro,
gritando: "Punk se fodeu! Punk se fodeu!". Uma coisa estúpida, porque
a primeira coisa que o federal fez foi jogar a garrafa de loló para os
boyzinhos.
E eles ficaram lá, cheirando. Eu fiquei tão puto com isso! É
contra a lei e tudo, mas foi aí que eu vi como era realmente a corrupção.
Passei a noite no xadrez. (1989)
[ A segunda vez, na festa do Estado, foi mais humilhante. Fora o que
aconteceu na Roconha. Nessa festa — foi quando o John Lennon morreu
—, estava lá eu com os meus
badges, meu cabelo colorido da Mônica,
bêbado, falando para todo mundo: "Alô! Eu te amo! A vida é bela!".
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Perguntava o signo — nessa época eu lia tarô, fazia mapa astral, um híbrido total. E, de
repente, veio um cara e me deu um puta soco. Eu não me lembro direito, porque eu
estava bêbado. Mas fui parar lá no porão da prisão. Mandaram eu tirar a roupa...
horrível. (1989)
XIITA
[ Tenho uma preferência afetiva, mas nada é definitivo. A gente tem e
direito de mudar. Eu como panqueca com mel, mas, um dia, decido
preferir pão de queijo. Tenho um chamado para um certo tipo de
comportamento, mas não gosto de gueto, daquela atitude xiita, histérica.
Não existem só o dia e a noite. Há o meio-dia, o pôr-do-sol. (1994)
XUXA
[ No
Descobrimento do Brasil, a gente brincou com muitas coisas, só
que ninguém percebeu. Têm músicas como Só
por hoje: aquilo é Xou
da Xuxa!
Com a diferença de que eu falo de dependência química.
Você se emocionar com Dumbo é diferente de achar Mirnau ou
Fassbinder o máximo. (1995)
A Marlene
[Mattos, diretora dos programas da Xuxa] está querendo
que eu faça o
Xuxa Hits com este disco [Equilíbrio Distante]. E eu
estou pensando. Eu estou ficando menos ranzinza com certas coisas, o
que é um exercício para mim. Você tem que levar o seu trabalho até o
público, não é? A gente, da Legião, protege muito as coisas do grupo:
"Não, isso a gente não faz". "Esse, não". Por que não fazer?
Faustão eu
não faria. Mas, por que não um
Xuxa Hits? (1995)
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